19. Firework

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"You just gotta ignite the light

And let it shine

Just own the night

Like the Fourth of July

'Cause baby you're a firework."

Firework por Katy Perry

"Espera, não neva aqui?" Perguntei durante o pequeno-almoço, no dia seguinte.

O Luís mastigava algo à pressa e ruidosamente, debruçado e vidrado sobre o seu telemóvel; de boca cheia, sem conseguir falar, apenas fez um não com a cabeça, finalmente engolindo a grande colher de cereais que conseguiu meter lá dentro. Bem, ele comeu uma baguete em cinco dentadas, eu já não me admiro com nada.

"Então só chove e faz vento?"

"Também temos trovoada. Muita. Durante o verão também." Respondeu. "Quer dizer, em Portugal neva em muitos sítios, mas não aqui no Porto. Estamos no litoral. Embora já tenha nevado na minha cidade, em 2009." 

"Acho que vai ser o primeiro Natal que passo sem neve."

"Neva assim tanto em Londres?" Ele questionou enquanto preparava outra colher recheada de cereais já amolecidos pelo leite frio para meter na boca. É a terceira vez que ele vira leite numa tigela e lhe deita cereais.

"Não. Raramente neva e quando neva é muito pouco." Expliquei. "Eu passo o Natal na Escócia." Os meus pais têm lá uma casa, vá-se lá saber porquê. "Tenho lá família."

"Baixa-te." Advertiu, num tom bastante neutro, quase que desinteressado.

Eu baixei-me, sem saber porquê, e logo em seguida a Violeta passou atrás de nós, espreguiçando-se como se tivesse tido a maior soneca da vida dela, com os braços esticados para trás, quase me acertando. Obrigado, Luís, salvaste-me de um murro despropositado - ou propositado, é a Violeta, já espero de tudo dela.

"Vou buscar a Joana às quatro." Eles começaram a falar português, de modo a que eu voltasse toda a minha atenção para o meu pequeno-almoço.

Senti o Bonifácio a roçar-se nas minhas pernas, logo partindo para a pessoa seguinte, que foi o Luís. Saltou para o colo dele e esfregou-se no seu queixo; ele, no entanto, não passou bola nenhuma ao bicho do demónio, continuando colado ao seu telemóvel e a tomar o pequeno-almoço, como se nada de anormal se passasse. Entretanto, a Violeta arrastou a cadeira à minha frente e sentou-se, imediatamente magnetizando o Bonifácio. Ela, ao contrário do Luís, deu-lhe toda a atenção do planeta e o bicho do demónio logo começou a ronronar. Porque é que ele não a ferra? Porque é que é só a mim?

Só agora é que reparei que eram oito da manhã e a Violeta ainda estava num pijama de corpo inteiro - o que é uma coisa normal, mas à qual eu não estou habituado. Também estava com o cabelo numa bagunça e cheio de electricidade em alguns pontos e não tinha maquilhagem nenhuma - e só agora que a vi sem maquilhagem é que me apercebi que ela usa maquilhagem. Pouca, sei lá, não percebo nada disso, mas ela não está muito diferente... falta-lhe um risco qualquer nas pálpebras e o preto na linha dos olhos. Mesmo assim continua igual, a mesma boniteza do costume.

O Bonifácio saltou para cima da mesa. Ao passo que o Luís ficou muito indignado e pediu à Violeta para o tirar de cima da mesa (uma frase em português que eu percebi na totalidade!), a Violeta deixou-o estar, acariciando as costas do animal que se arqueavam ao seu toque. Ele pestanejou lentamente e, posteriormente, virou o focinho demoníaco para mim. Não sei porquê, tive aquela esperança de que, como ele estava feliz, a ronronar e tal, e estava a ter a atenção da Violeta, eu lhe pudesse tocar também. Eu sei que o gato me mordeu duas ou três vezes, mas eu não deixo de gostar de animais.

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