61. R U Mine?

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"I go crazy 'cause here isn't where I wanna be

And satisfaction feels like a distant memory

And I can't help myself

All I wanna hear her say is are you mine?"

- R U Mine por Arctic Monkeys

Apesar do hambúrguer e das batatas fritas, o Luís conseguiu comer tudo primeiro que nós. Depois de um gelado e de duas tartes de maçã, levantamo-nos e saímos do estabelecimento em direção ao carro para irmos embora. A Violeta ficou a viagem toda sossegada, julgo que até adormecida nos bancos de trás, enquanto o Luís conduzia a ouvir a rádio Comercial e eu ia no lugar de pendura com a cabeça encostada à janela, a pensar no que iria fazer quando chegasse ao Porto.

A viagem fez-se calma e rapidamente, não havendo trânsito nenhum desde o McDonald's de Felgueiras até chegarmos a casa; o Luís acordou a Violeta ao estacionar a uns metros da porta de entrada, onde havia um lugar livre, e ela saiu disparada do carro em direção ao prédio, para não de encarar nenhum de nós. O Luís apenas se riu, achando o momento hilariante, mas, ao contrário de mim, o mais provável era a Violeta deixar de estar zangada com ele amanhã de manhã.

Despedi-me do Luís e ele disse que podia levar os meus pais até lá a casa enquanto ele fazia o almoço e eu assenti, pegando no telemóvel mal chegara a casa para avisar a Ann dos planos que tinham acabado de ser desenhados. Ela não me respondeu, devia estar já a dormir. Não a censuro, o costume inglês é este, eu é que já apropriei hábitos portugueses, nomeadamente os de ficar acordado até ser hora de acordar.

No dia seguinte, acordei perto das dez da manhã com o meu telemóvel a tocar. Uma fotografia minha e da Angela apareceu por baixo do contacto e eu atendi a chamada, colocando o telemóvel em alta voz para poder falar com a cabeça confortavelmente na almofada e as mãos debaixo dos cobertores.

"Diz." Balbuciei, a voz arrastada e rouca.

"Manda-me a morada do local onde vives, eu e os pais vamos passar por aí daqui a pouco para deixar a tua mala, vamos só tomar o pequeno-almoço."

"OK, obrigado." Agradeci e esperei que ela desligasse o telemóvel, pois não tinha vontade de tirar uma mão do calor para ter de desligar.

Mas tenho de me preparar e dar um jeito à casa o mais rápido que puder, porque se os meus pais virem um mínimo de sujidade, vão ter um enfarte do miocárdio e eu não estou preparado para ouvir um sermão por causa disso. Assim sendo, saí da cama, o frio a vergastar-me em todos os lados do meu corpo. Liguei o ar-condicionado e fui tomar banho, vestindo-me depois no quarto já quente.

Não acho que os meus pais venham ao meu quarto, mas, como nunca se sabe, fiz a cama e pendurei toda a roupa que tinha em cima da cadeira da secretária. Abri a persiana até cima e corri as cortinas, para deixar a luz entrar no quarto. Em seguida, abri um pão a meio na cozinha e meti-lhe duas fatias de queijo, comendo-o enquanto passarinhava pela casa e organizava tudo. A casa estava praticamente limpa e asseada, mas não conseguia descansar até verificar cada ponto para averiguar se estava ou não limpo.

Só depois me lembrei que me esqueci de mandar a mensagem à Angela. Lembro-me de ter pedido a morada ao Luís para mandar ao Tiago, portanto fui às mensagens do Tiago e reencaminhei a mensagem para a Angela. Dez minutos depois, ligaram-me.

"Sim?"

"Que prédio é este? Não tens uma campainha, de verdade?" Indagou a Ann, ultrajada. "Abre a porta... ou... sei lá."

"Já vou."

Voltei a olhar para trás... estava tudo no sítio, as persianas todas abertas. OK, acho que passo no teste de dificuldade máxima da minha mãe. Portanto, saí de casa sem bater a porta de entrada e desci as escadas do hall do prédio, sendo possível vê-los a todos através do vidro. Abri a porta.

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