Extra: Karate

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"Hitasura seiya soiya tatakau-nda

Kobushi o motto kokoro o motto

Zenbu zenbu togisumashite.

Mada mada seiya soiya tatakau-nda

Kanashiku natte tachiagare-naku natte mo."

- Karate por BABYMETAL 

Fazendo jus ao famoso ditado português "em abril, águas mil", o mês começou com uma chuva torrencial imparável. Saí de casa às cinco da manhã e já estava a chover, quando a minha pausa começou e fui ao café mais próximo buscar qualquer coisa para comer, continuava a chover e quando voltei para a segunda parte do meu turno, ainda chovia. Não me fazia diferença alguma, eu sou Londrino: chuva fazia parte do meu dia-a-dia.

As coisas andavam calmas no Hostel, mesmo com uma pessoa a menos, uma vez que a Francisca foi mesmo despedida. O Tiago ficou com o seu lugar, sendo ele agora o dito chefe. Porém, confesso que não ter trabalhado com a Francisca durante duas semanas me deixava saudades, mesmo que ela estivesse quase sempre de mau humor. Tenho estado com ela, tomado uns cafés sem tomar café, almoçado uma ou outra vez, e tudo mais. Ainda não tinha decidido o que fazer com o Til nem como contar aos seus pais sobre a Dinamarca, embora fosse embora precisamente daqui a um mês.

Dias pouco movimentados como o de hoje só são verdadeiramente aborrecidos quando nem o Tiago nem o Rafael estão por perto, e hoje estávamos os três juntos na receção. Eu estava a responder a uns e-mails enquanto eles fingiam fazer o mesmo e falavam sobre futebol entrementes. Assim que respondi aos e-mails a que eles deviam ter respondido antes, comecei a prestar atenção à conversa deles, que já tinha passado de futebol para os prós e os contras de ter um cão.

"Os meus horários não são fixos." Lamentava-se o Tiago. "Tenho de levar o cão a passear todos os dias por volta da mesma hora e, tipo, com estes horários é impossível."

"E não tens ninguém que o leve por ti de vez em quando?"

"Nope." Retorquiu, num suspiro triste. "Se calhar é melhor adotar um gato."

O meu telemóvel vibrou. Abri a mensagem do Snapchat, que obviamente era da Violeta, e li.

Violet.Hell.Queen: A que horas sais?

Eu: Às 15h.

Violet.Hell.Queen: Podes vir logo para casa? O mais rapidamente possível? É um pouco urgente.

Claro que fui tomado pela preocupação. Com a Violeta nunca se sabe.

Eu: O que se passa?

Violet.Hell.Queen: Digo-te quando chegares. Não tens de sair do trabalho a meio, pode esperar, mas mal saias anda para casa, por favor.

Não sabia o que mais dizer, portanto apenas concordei com ela, esperei por uma nova mensagem que nunca recebi e bloqueei o telemóvel, passando as próximas três horas numa aflição constante. Estava cheio de dúvidas porque não era normal a Violeta avisar-me de que estava mal, mas, ainda assim, é a Violeta - nunca se sabe o que esperar dela e, quando nos arriscamos a fazê-lo, é uma perda de tempo porque nunca acertamos.

Tive de aturar o Rafael e o Tiago durante três horas enquanto eles viam vídeos aleatórios no 9gag, parando de quando em vez para atenderem hóspedes que passavam pela receção. Só conseguia bater com os dedos um a um na mesa e olhar para o relógio do computador, a ver as horas passar lentamente. Normalmente, o tempo passa depressa quando estou ocupado, mas não tinha muito que fazer agora e quando algo aparecia, o Tiago encarregava-se imediatamente disso. A esta hora estão todos a almoçar.

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