38. Break In

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"You let me fall apart

Without letting go

Then you pick up the pieces 

And you make me whole!" 

- Break In por Halestorm

Demorei quinze minutos a pedir a chave do carro à Francisca e eis o porquê: primeiro, ela achava que eu me queria ir embora sem ela; depois de lhe explicar que a ia levar comigo, ela recusava-se a vir, porque a noite ainda era uma criança; para além disso, houve uns dois minutos em que ela não disse nada, apenas olhava para o vazio com um sorriso fechado na cara. Quando finalmente consegui que ela aceitasse que eu conduzisse, ela diz-me que a chave do carro está algures no bolso do meu casaco e eu só me queria esmurrar na cara por ter perdido tanto tempo a tentar obter algo que eu já tinha em minha posse.

O problema destes quinze minutos perdidos é que, para além do tempo que perdi, também perdi a Violeta de vista. A última vez que a vi ela estava a beber e calculo que ainda o esteja a fazer. Bom, se ela ainda o está a fazer, é provável que ainda esteja cá em baixo, porque não a imagino a subir os dois lanços de escadas até ao primeiro andar. Não estava na cozinha, não estava na sala de estar, estava lá fora, junto dos arbustos, com duas garrafas vazias em cima das pernas cruzadas sobre a relva e outra na mão, que ainda ia a meio. Digam-me que ela não bebeu aquilo tudo, por favor, é impossível.

"Já vomitei três vezes." Disse-me ela. Que informação dramática.

"Vamos, vou levar-te para casa." Ela apenas se riu e preparou-se para beber mais um bocado; tirei-lhe a garrafa da mão. 

"Devolve-me o meu filho do meio, não magoes o João Alberto."

Isto é capaz de ter sido a coisa mais engraçada que ela já disse e fez, mas estava mesmo com a paciência esgotada e só queria sair daqui, portanto irei rir-me quando me lembrar deste momento, mas não agora. Estendi-lhe a mão para que ela a agarrasse e se levantasse, mas ela recusou.

"Eu sou uma mulher forte e independente. Eu levanto-me sozinha." Mas tudo o que aconteceu foi ela a tentar apoiar-se num arbusto - que obviamente não é sólido o suficiente para levar com o peso dela - e, logo em seguida, a cair sobre esse mesmo arbusto. "Sabes, a minha mãe bebia mais do que isto e conseguia aguentar-se de pé."

"Violeta, vamos lá." Agarrei-a pelo pulso, talvez de forma mais agressiva do que pretendia, e fiz com que ela se apoiasse no meu ombro, porque ela realmente não conseguia andar direito. "É bom que que contes mais um dia no Cartão do Get My Drunk Ass Home."

"Eu disse que riscava na hora, se não tiveres o cartão, não tem efeito." Ainda tinha o cartão dentro da capa do telemóvel, porque a última vez que eu tirei a capa foi, de facto, quando guardei o cartão. Ele ainda lá está, de certeza. "Como é que a minha mãe conseguia andar?"

"Provavelmente tinha pernas fortes." Agora não sei da Francisca. Por amor de Deus, é como tomar conta de duas Violetas. Ou de duas Franciscas. Elas são farinha do mesmo saco, repito. Irmãs gémeas separadas à nascença.

"E braços também."

Encontrei a Francisca sentada num dos sofás, a fumar outro charro. Chamei-a, ela fez-me o símbolo da paz com os dedos e tombou sobre o encosto. Vou levar a Violeta para o carro e venho buscar a Francisca, não vou conseguir trazer as duas ao mesmo tempo se já trazer uma é a dificuldade que é. Assim sendo, saí com a Violeta porta fora, ignorando o Marco a chamar por ela - quando é que cais morto numa valeta?, por amor de Deus!

Graças a Deus, o carro da Francisca podia ser aberto a uma certa distância com a chave; destranquei-o, abri a porta de trás - acho que é melhor a bêbada ir deitada nos bancos de trás, a pedrada pode muito bem ir no lugar da frente a pensar filosoficamente sobre a vida enquanto olha pela janela. Tinha medo que ela vomitasse no carro da Francisca enquanto cá não estivesse e, agora que penso, devia ter trazido a Francisca primeiro. Ah, por amor de Deus, eu não me lembro de ter adotado duas fêmeas com idades próximas, eu mal consigo tomar conta do cacto que tenho em casa. Estou muito irritado, só quero ir dormir.

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