27. Where The Wild Things Are

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"So wake up, sleepy one

It's time to save your world

Steal dreams and give to you

Shoplift a thought or two."

 - Where the Wild Things Are por Metallica  

Estava muito escuro e a chuva era perfeitamente visível em frente dos faróis dos carros ligados que subiam e desciam a enorme rua onde a Madalena vivia. Apesar de a rua ser enorme, as passadeiras eram poucas, e a passadeira mais próxima que tínhamos ficava no início da rua, a 20 metros de nós, quando o que a Violeta queria era atravessar a estrada e descê-la, para entrar numa ruela qualquer. Portanto, quando ela viu a oportunidade, lançou-se para o meio da estrada e eu fui atrás dela, atravessando a rua a correr pelo chão escorregadio de alcatrão.

Os segundos que fiquei cá fora bastaram para me inundarem, mas não parei para me queixar. A Violeta desceu a rua e virou à direita, passando por várias habitações que contribuíam para a iluminação do nosso caminho com janelas abertas e luzes no interior acesas; quando contornamos uma casa branca enorme, toda ela vedada com arbustos baixos e com um pequeno lago decorado com um cisne de pedra, percorremos uma estrada quase recta a correr e fomos dar a um caminho em paralelo. Viramos à esquerda.

Começava a ficar cansado, mas não tinha vontade de parar. Mais uma estrada enorme pela frente e fomos dar a um cruzamento; ela parou, apesar de nenhum carro em andamento passar por nós.

"Apresento-te a universidade de Felgueiras!" Exclamou, arfando entre as palavras, e apontou para um edifício enorme, por trás de um placard a dizer ESTGF - Escola Superior de Tecnologias e Gestão de Felgueiras. "Não é bem uma universidade, nem te sei explicar o que é, mas sais daqui formado, por isso..." 

Não parecia nada uma universidade, era demasiado pequeno para tal.

Ela atravessou a estrada e chegou a um café - ao terceiro café por onde passava desde que saí de casa e só estamos a correr há sete ou oito minutos. Estava a morrer, o meu peito estava quente e o meu coração batia rapidamente, apesar de a chuva gelada me arrefecer o corpo. Ainda bem que o Luís não está entre nós, provavelmente já teria chegado ao carro e nem sequer se teria cansado. Vá lá que não era o único: a Violeta também desfaleceu.

"Estamos prestes a entrar no centro da cidade, queres fazê-lo a pé normalmente?"

"Sim, por favor." Suspirei. "Porque é que não trouxemos um guarda-chuva?"

"Realmente... bem, sei onde podemos arranjar um." E sorriu.

Fui atrás dela, a recuperar o fôlego a cada passada lenta que dávamos. Estávamos cobertos por um prédio, a ver as montras de lojas de roupa, farmácias e, apenas a vinte e cinco metros do anterior, outro café. Ao lado de uma pizzaria. Em frente a outro café. Credo, tantos cafés. 

Viramos à direita e atravessamos a estrada. Já havia muito mais movimento nas estradas e, ao fundo da rua, os carros alinhavam-se em frente dos semáforos. Atravessamos três passadeiras que formavam uma espécie de círculo entre as cinco estradas que se cruzavam num ponto e voltamos a ficar abrigados debaixo das varandas de um prédio bege e cor-de-vinho. Por algum motivo que me é alheio, a Violeta marcou um código qualquer junto da porta de vidro da entrada e abriu-a, sem sequer precisar de chave.

As luzes acenderam-se automaticamente quando subimos dois lanços de estacadas até ao rés do chão. Ela virou à esquerda e depois à direita, ignorando o elevador e começando a subir novos lanços de escadas, até ao segundo andar.

"Onde é que estamos?" Perguntei.

"Fala baixo." Sussurrou ela, irritada, com o cabelo molhado colado à cara.

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