30. Story Of My Life

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"Yesterday's a memory

Another page of history

Sell yourself for hopes and dreams

That leave you feeling sideways."

- Story Of My Life por Bon Jovi

Embora não soubessem falar inglês, nem mesmo o mínimo, o básico, os pais do Luís tentaram sempre falar comigo, perguntar-me coisas, cujas respostas o Luís traduzia, falar sobre a vida deles e a minha e partilhar todos aqueles momentos que não era suposto partilharem comigo. O almoço foi simplesmente brutal, com a melhor companhia que podia ter pedido neste Natal, para não falar que o Luís era um mero aprendiz: a mãe dele era uma cozinheira espantosa, com aquelas atitudes de avó, em que quis encher cada espacinho do meu estômago, dizendo que eu estava muito magro.

Passamos a tarde a ver filmes, o Bonifácio adormecido no colo da Violeta e o Diogo sempre a mudar de lugar, ora no tapete felpudo, ora junto do Luís, ora no colo da mãe. Também perdemos uma hora, a melhor hora da minha vida, a ver os álbuns de fotografias da família do Luís, mais um álbum dedicado só ao percurso escolar dele, donde a Violeta fazia parte a partir da página 100 de 300. Vi de tudo: do Luís dentro de um carrinho de bebé até ao Luís de fato e gravata com a Violeta no baile de finalistas, mais uma foto dele, na mesma noite, de braços cruzados, como que a desejar morrer, no meio de seis raparigas, a Violeta, a Abigail, a Olívia e outras três, umas tais de Rita, Catarina e Raquel.

Não vou dizer que não desfaleci ao ver a Violeta no baile, e espero, desesperadamente, que ninguém tenha reparado, mas algo me incomodava nas fotografias; não era o facto de ela estar vestida de preto, isso é o mínimo e eu já estava habituado, estranharia se envergasse outra cor, mas sim o vestido em si: até aos pés, mangas compridas, todo o tecido com detalhes de renda. Também não vou mentir e dizer que fora uma escolha horrível, porque não fora! Não fora de todo! Havia algo nele que a tornava ainda mais... maravilhosa. Todo ele justo até aos joelhos, abrindo-se numa roda até ao chão, como se fosse uma cauda de sereia. Argolas que mais pareciam aros de cestos de basquetebol nas orelhas, um colar até ao peito com uma borboleta prateada, o cabelo preso à exceção de duas mechas que caiam junto da face, emoldurando-a.

Mesmo assim... nem no baile de finalistas. O que é que ela tanto quer esconder?

Outro fator que tornou a tarde simplesmente divinal foi o facto de o pai do Luís ter posto um disco de vinil dos Beatles no gira-discos e tê-lo deixado a tocar constantemente, como que uma música de fundo de um filme. Havia momentos em que se podia ouvir a Natália a murmurar a letra das canções e o Diogo a pedir para pôr a música preferida dele. Querem uma família perfeita?, ou muito, muito perto disso? Cá está ela.

Era notável o respeito que tinham uns pelos outros, o amor que tinham uns pelos outros, até mesmo pela Violeta, que era, como a Natália dissera, a filha adotada deles. Não prevejo o futuro, porém acho muito difícil algum Natal vir destronar este do primeiro lugar.

"Diz ao Andy para tirar mais um bocado."

"Andy, a minha mãe diz para tirares mais um bocado." Traduziu o Luís, já na terceira ronda de carne assada. Eu não costumo repetir, mas a mãe dele é tão persistente.

Tirei mais um bocado.

"Lembrei-me agora que ainda não te dei a minha prenda, Violeta." E cá estão eles a falar em português. "Nem ao Andy." E a falar de mim.

"Comprei-te um telemóvel que serve só para Tinder e navegação anónima no Google Chrome, para ver se substituís a Miss Atleta."

Não sei o que a Violeta disse, mas os pais do Luís riram, como quem se sentiam culpados por rir.

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