"Us girls we are so magical
Soft skin, red lips, so kissable
Hard to resist so touchable
Too good to deny it
Ain't no big deal, it's innocent."
- I Kissed a Girl (And I Liked It) por Katy Perry
Voltei para a sala de estar, o relógio de parede a mostrar as onze e dez da noite. A sala parecia ficar cada vez mais cheia, e não sei se um eu claustrofóbico está a surgir ou se estão, de facto, a aparecer mais e mais pessoas aqui. Não consigo encontrar a Francisca em lado nenhum, mas duvido que ela tenha mudado de lugar. Encontrei-a sentada no sofá, a fazer Instastories enquanto cantava a música da Rihanna que estava a passar, juntamente com as raparigas que me tinha apresentado. Não ousei interromper aquele seu momento debaixo dos holofotes imaginários e deixei-a estar com as amigas, dando meia volta e procurando um sítio para me sentar.
O único sítio livre era uma cadeira junto de duas portas de vidro que davam para o quintal, funcionando como janela. As persianas estavam completamente abertas e era possível ver o topo da torre dos Clérigos e o céu azul escuro, uma estrela aqui e ali. Era um lugar perfeito para ver o fogo-de-artifício, se é que alguém aqui se vai importar com isso.
Nunca acreditei nessas tretas, das metas para o novo ano, das mudanças que vão fazer, de dizerem que este ano vai ser o melhor... porque é que precisamos de um novo ano para mudar, ou para criar novos objetivos, para tentar fazer com que as coisas mudem? É só um novo ano. A mudança do dia 31 de Dezembro para o dia 1 de Janeiro é exatamente igual à mudança do dia 1 de Janeiro para o dia 2, são só mais umas vinte e quatro horas que vamos viver, sendo que passamos um terço delas a dormir. É só mais um dia, apenas num ano e num mês diferentes.
Talvez seja um pouco hipocrisia minha. A verdade é que apesar de não concordar com estas tretas todas que as pessoas começaram a associar ao ano novo eu gosto do que fazem nessa passagem. Gosto das pessoas todas unidas, às centenas, às milhares, todas elas alegres à espera que chegue a meia-noite, a fazerem a contagem decrescente, a festejarem quando o primeiro foguete explode no céu, iluminando ainda mais a noite. Adoro isso e ainda não percebi porque raios estou aqui, a fazer tudo menos aquilo que adoro. Suspirei e sentei-me na cadeira, apoiando uma perna na outra pelo tornozelo e tirando o telemóvel do bolso.
As minhas irmãs tiraram fotografias a tudo: à roda gigante do outro lado do Tamisa, à maré cheia de pessoas na Victoria Embankment, à espera. A minha mãe aparecia numa das fotos, a falar ao telemóvel com uma mão no ouvido livre, a bloquear o barulho colossal que se fazia ouvir naquele espaço. O contacto seguinte era o Luís, um pequeno vídeo da televisão onde passava um filme qualquer mais uma foto da mão dele na perna da Joana, com um coração no canto da foto. Ia a meio das Instastories quando apareceram os vídeos da Francisca no ecrã do telemóvel e a Francisca real ao meu lado.
"Desapareces assim, sem mais nem menos..." Comentou, falsamente irritada. Depois, começou a rir.
"Fui à cozinha." Expliquei, bloqueando o telemóvel e guardando-o de novo no bolso. "Falei com o Ricardo."
"Ai que bonitinho, fizeste um amigo novo. Falaram de quê?"
"Honestamente? Da Violeta, ela está aqui, está no andar de cima."
Ela pestanejou várias vezes seguidas, como o sobrolho franzido: "Espera, porque motivos falaste da rapariga que gostas a uma pessoa que nunca viste na vida e como é que, do nada, sabes que ela está aqui? Foste ao andar de cima?"
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Don't Jump
RomansaAndy sempre gostou de viajar, não deixando nenhuma oportunidade de o fazer escapar. Quando o programa de ERASMUS abre na sua universidade, escolhe como destino Portugal e é lá que passará meio semestre. Podia ser mais uma viagem normal, mas um passe...