47. Don't Lose Your Heart

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"Are you lost somehow, drowning in the crowd?

Are you on your own again?

Right back at the start

Kid don't lose your heart

Until you're where you want to be."

- Don't Lose Your Heart por Dream On, Dreamer 

Achei que me sentia incomodado por estar constantemente na presença do Rafael, mas tal desconforto que sentia - se é que é essa a palavra a aplicar a esta estranha náusea repentina - permaneceu mesmo depois de ter acabado o meu turno à meia-noite. Ainda esperei um tempo, afinal não posso esperar que as coisas desapareçam de um momento para o outro, mas esse sentimento nunca desapareceu, não enquanto esperava pelo metro, não durante a viagem, não ao fazer o caminho dos Aliados até casa, não ao chegar a casa, nada. Agarrara-se a cada célula do meu corpo, e eu não sabia o que era.

Portanto, comecei a fazer umas contas rápidas, averiguando cada pensamento súbito que me pulava pela mente em diversas ocasiões. Claro que a grande maioria consistia na Violeta, e quando não era sobre ela, era sobre algo relacionado com ela. Mas não era isso que me incomodava, não podia ser; eu penso na Violeta vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana e tal nunca me perturbou minimamente, por muito que magoasse o facto de os meus pensamentos não serem reais, não me incomodavam.

O que me incomodava, de certa forma, era o Rafael, o que era estranho: ele deixa-me, literalmente, aziado, OK, mas porquê? O meu cérebro já me havia esclarecido há muito tempo que eu o odiava e adorava ao mesmo tempo: adoro a pessoa que ele é, odeio a pessoa que ele foi e não me consigo livrar desse passado que nem sequer presenciei. Porém, fez-se um acréscimo a esse ódio e a essa adoração e eu não tenho outro remédio se assumir algumas conclusões: eu estava com ciúmes.

E por que não estaria? Irritava-me o facto de a Violeta ter gostado dele e não de mim, que a quero, de facto, tratar bem!, e não usar como ele a usou. Irrita-me o facto de ele ter podido fazer tudo o que quis com ela, enquanto eu tenho de pedir autorização para as coisas mais singelas e, ainda assim, ter receio em fazê-las. Irrita-me o facto de eles terem estado juntos seis meses, mesmo que tenham sido falsos desde o primeiro dia. Irrita-me que ele tenha sido tudo aquilo que eu quero ser sem sequer se ter esforçado para tal, sem sequer realmente gostar dela. E tinha ciúmes do que eles tinham tido porque sei que nunca vou ter nada igual.

Outra coisa que me tem irritado nos últimos dias era o Luís a cantar em espanhol - porque ele cantava pessimamente, não se aproveitava uma única nota. Era uma música que tinha saído há dias de um cantor que, passo a citar, merece muito mais, é super bom, ninguém o conhece, mas toda a gente o vai conhecer com esta música, música essa que ele anda a cantar desde sábado ou domingo. 

Nos dias seguintes, continuamos a fazer as nossas vidas sem a presença da Violeta, não havia sinal dela, e, confesso, a cada dia que passava, mais preocupado eu ficava: era normal eu não a ver durante uma semana, mas não era normal para o Luís!, ele nem que a visse durante cinco minutos... era o suficiente. Agora nem isso. Ele não a vê desde sexta-feira, tal como eu, e já vamos a meio da quarta-feira - pelo menos, eu ainda não a vi, talvez até já tenho chegado a casa, mas duvido. Claro que ele está preocupado com a sua melhor amiga, que não regula muito bem e que tem recaídas frequentes e perigosas, mas, comigo, este desespero era pesado. A primeira vez que eu vi a Violeta, ela estava prestes a matar-se! Como é suposto eu permanecer calmo perante estas circunstâncias?

Espero que esteja tudo bem. Espero que ela, mesmo que esteja com vontade de desistir, não o faça. Espero mesmo.

"Obrigado e façam boa viagem." Despedi-me de um grupo de ingleses que tinham cá passado uns dias depois de fazerem o check-out, a quem tinha cobrado uma taxa extra por fazerem o check-out quase à hora do check-in. Guardei as chaves e atualizei o número de reservas, enquanto o Tiago se tentava lembrar do número do quarto a quem tinha emprestado um secador que não tinham devolvido ainda. "Não te preocupes, ninguém roubou o secador."

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