- Eu vim sozinho, meus pais e meu irmão ficaram lá na praia. A minha casa aqui tá vazia. Eu só vim porque minhas férias do trabalho terminaram antes das férias deles. Eu volto a trabalhar amanhã.
- Hum, que chato... – eu tava morrendo de sono.
Ele ficou em silêncio. Depois falou:
- Eu vou dormir aqui, viu?
- Aonde? Só se for na minha cabeça! – abri os braços mostrando o quarto.
Só quando eu vi a expressão de vergonha dele que percebi o quanto fui grosso e insensível. Ele desencostou da parede, fazendo menção de levantar, mas eu dei um pulo e me sentei, colocando meu braço em volta do dele.
- Tô brincando, pô, peraí, kkk.
Ele me encarou e eu mantive o olhar. Estávamos em uma posição esquisita, uma perna minha passava pelas suas costas e a outra em cima do joelho dele. Os olhos dele são muito bonitos, vistos tão de perto, um verde claro. Ele me olhou no olho, com uma expressão séria. Olhou pra a minha boca. Levantou da cama, se espreguiçando.
- Não, relaxa, pô. Eu tô ligado que aqui não tem lugar. Falei por falar.
- Thales não tá aqui, hoje, nem Zoião... – eu tava meio indeciso, porque eu não sei até que ponto os meninos iam se importar em ceder suas camas.
- Eu não tenho coragem de entrar no cafofo do Zoião, não, cara. Eu tenho amor à minha vida, sou muito novo...
- kkk, pior que é. As baratas quando entram lá não duram mais que seis horas.
- Hahaha, e olhe que barata é um bicho que suporta até os ambientes mais agressivos, viu? – ele batia a mão nos bolsos, procurando a carteira.
- Pois é. – levantei, entreguei a carteira dele, que estava embaixo de mim na cama. – Tem certeza que não quer comer nada?
Ele colocou a carteira no bolso de trás, e colocou as duas mãos nos bolsos laterais da sua bermuda jeans. Franziu a sobrancelha.
- Tem o que aí?
Estávamos na cozinha da república, supermobiliada com uma pia e a geladeira de pé quebrado; ele em pé na porta e eu vasculhando a geladeira. O que eu ia encontrando, tirava e colocava em cima da pia.
- Tem queijo, presunto, suco de caixinha, leite, nescau...
- Olha só pra essa república, gente, como é que tá? Haha, quem diria..
- Tudo fui eu que comprei! Murilo, eu não sei como esse povo vive... Tudo bem que o almoço é na rua, né, se a gente for fazer aqui dá trabalho, mas, sei lá, um lanche, coisa de café... O Di eu ainda vejo comprar um pão e comer seco, sem nada, mas Zóio... tsc, tsc... Ah! olha, um Danoninho! – estiquei o braço pra ele.
- Quero isso, não, você parece criança tomando leite com Nescau e Danoninho!
- Ah, para com isso, quem é que não gosta? Deixa eu te falar o que Zóio me aprontou semana passada: fui no Hiper, fiz minhas comprinhas de comida durante a semana e coloquei na geladeira. Tá. Comprei uma placa de Danoninho, olha que uma placa tem oito!
- Gosta mesmo, né. Hahaha.
- Não, porque também se os meninos quisessem, né? O trato é cada um comprar o seu, mas não custa nada... Então, dia de terça a moça vem fazer a faxina, eu cheguei mais cedo aqui, eram umas cinco horas da tarde. Sabe quando você vem na intenção de alguma coisa que tá na geladeira?
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Sobre o Amor
RomanceA história real que começou a ser contada no Orkut, vem para ser concluída aqui no Wattpad. Há alguns anos, cheguei numa cidade desconhecida para começar a minha carreira de engenheiro. O que eu encontraria ali, nunca poderia prever. Um hétero convi...