A ideia de comprar um carro surgiu quando Rose um dia desses me ligou (a gente dialogava o dia inteiro pelo msn, ela no escritório dela e eu na minha sala, então sabíamos T-U-D-O o que ocorria no dia-a-dia do outro), me falando que estava tendo uma promoção numa concessionária em Salvador. Você dava uma entrada mínima, financiava o carro todo, os juros estavam baixos, a gente tinha comprovante de renda, então, tudo certo. Quer dizer...
- Mas e o pepino lá no Banco do Brasil?
A gente tinha uma dívida de uma conta universitária que tínhamos aberto na época da farra da facu. Fomos à boate, ao bar, ao cinema, compramos roupa. Estouramos o cartão, o limite da conta, e largamos lá.
- A gente vai ter que negociar um dia, ué.
Choramos miséria no banco, a gerente deu um desconto de 40% na dívida, e limpamos o nosso nome. Éramos agora cidadãos ilibados, prontos para dar o próximo golpe.
Otávio fez questão de nos levar em Salvador no sábado, porque não sabíamos direito como rodar de busu lá. A gente tinha feito o possível, eu e ele, de continuarmos a amizade, apesar do percalço da relação com a Clara. Eu tentei, o máximo que pude, entendê-lo, me colocar em seu lugar e deixar isso pra lá. E ele era um amigão, sempre solícito. Só o achava meio sob a sombra das mulheres da sua vida, a esposa e a mãe, fazendo as suas vontades, mas, isso era com ele.
- Olhe, queridão – estendi o panfleto da promoção ao vendedor insistente – a gente quer é esse carro aqui, com essa promoção aqui, nesse valor aqui...
- Mas vocês não querem nem ver outros modelos mais sofisticados...? Olhem que todo mundo vem aqui com esse intuito e acabam se interessando por outra coisa...
- Nãaaao, não... – Rose interrompeu-o rapidamente – creia, meu filho, já é uma loucura o que a gente tá fazendo... hahahaha! 600 reais de prestação!
Fechamos o negócio. Peguei um Palio cinza escuro e Rose um preto. Ainda me ousei e coloquei um tal de kit Trail, pra deixar o carro mais sport. Mas isso não entrava no financiamento, liguei pra a Mirelle, que ligou pro Maurício, que ligou pro pai dele, e concordou em colocar na conta da empresa dele, quando chegasse. Depois eu faria o ressarcimento. Devido à promoção, os carros não estavam disponíveis para pronta entrega, teríamos que esperar de 30 a 60 dias.
- Ô filho, mas pra quem andou de Humilhante a vida toda, esperar um mêsinho de nada.... AAAAAAAAAAAAhhhhhhh GUUUUUUUUUU!!!! A gente comprou nosso carroooooo!!
Eu e Rose... Nós éramos de família pobre, ao contrário de boa parte da galera da faculdade que ganhou o seu primeiro carro ao passar no vestibular. Para nós, aquilo era uma conquista e tanto. Por isso que, enquanto Otávio ia pegar o carro dele no estacionamento, eu e ela não parávamos de nos abraçar e pular na porta da concessionária, esfuziantes.
Só tinha um pequeno problema. Eu não sabia dirigir ainda. Tinha até passado no exame teórico, mas a prova prática estava marcada para dali a quinze dias. Faltava também fazer umas aulas da parte prática, mas... bom, teria um mês pra conseguir.
Almoçamos na casa da mãe do Otávio, que morava na Barra, em Salvador. Ela nos recebeu na varanda, lá ainda estava o outro irmão dele. Percebi uma influência enorme dela em cima dos rapazes, os dois mostravam um respeito e um temor por ela que não achei normal. E ela se portava como tal, a matriarca. Sentada em sua poltrona, refestelada, um cigarro na mão e uma caneca de cerveja na outra. Era gorda, olhos esbugalhados e papadas enormes, um sinal cabeludo na bochecha que parecia que tinha um bicho grudado. Me lembrou aquele sapo de "O Labirinto do Fauno".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sobre o Amor
RomanceA história real que começou a ser contada no Orkut, vem para ser concluída aqui no Wattpad. Há alguns anos, cheguei numa cidade desconhecida para começar a minha carreira de engenheiro. O que eu encontraria ali, nunca poderia prever. Um hétero convi...