Estava um pouco cansado naquela noite de sexta.
Cansaço emocional e falta de vontade de seguir adiante, não se tratava somente de exaustão física.
Pela manhã tinha levado a minha avó na clínica para a revisão, com os resultados dos exames que ele havia solicitado anteriormente. O médico tinha achado estranho ela ter fraturado a coluna com um acidente de pequenas proporções, e por isso pediu os exames para confirmar as suas suspeitas. De fato, o problema dela era um pouco maior: a sua estrutura óssea estava extremamente comprometida por uma osteoporose, de último grau. Ele nos explicou o que era exatamente a doença, enquanto eu pensava em quantas vezes nos últimos três meses estava ouvindo explicação de médico, recomendação, diagnóstico, etc.
Ele foi bastante claro quanto às implicações desse novo estado da minha avó: o seu osso já teria perdido praticamente toda a resistência, estando poroso por dentro. Nesse contexto, a coluna era o menor dos problemas, pois os doentes nesse grau costumam quebrar ossos se tomar um tropeção, ou escorregar, ou simplesmente dormindo.
A minha avó foi ficando chocada à medida em que ele falava, e autoritária como era, replicava nervosamente todas as suas afirmações, sem querer aceitar a sua nova realidade. Ele pacientemente fez as recomendações e lhe deu algumas esperanças: se ela conseguisse fazer o tratamento direito, e se se acostumasse com o andador, ou uma bengala, ela poderia ter uma melhor qualidade de vida.
Em particular, comigo, me alertou que ela poderia não sair mais da cadeira de rodas.
A minha mãe, que já estava pra baixo por conta da Drica, se desesperou em casa, quando eu contei, mas de forma silenciosa; foi para o quarto dos fundos e chorou, quieta. Eu não fui capaz de ir lá dar-lhe qualquer palavra de consolo.
Nos últimos dias estava focado em resolução de problemas, sem querer me contaminar pensando em como a vida estava ruim. Sentia que se eu parasse e tomasse consciência do panorama, poderia enlouquecer, então, optei pela frieza.
Havia tomado alguns esclarecimentos com um outro psiquiatra sobre a doença da Drica, e, além disso, pesquisei bastante com uma bibliografia que ele me recomendou e também pela internet. Era uma seara totalmente nova para mim, a das doenças mentais, então eu queria me cercar de informações para não ser pego de surpresa, como aconteceu na ocasião do surto da Drica. De tanta coisa nova, todas as fontes eram unânimes em me assegurar que: era uma doença grave, sem cura, com episódios de surtos apenas controláveis, e, com o esforço da família, o paciente poderia ter no máximo uma vida tranquila entre um episódio e outro, mas que muito provavelmente não conseguiria se desenvolver, se independer, ser autônomo a ponto de estudar ou trabalhar. Como a médica já tinha citado, também haviam os alertas de efeitos colaterais dos medicamentos, como tremores, falhas na coordenação motora, aparência débil e dificuldade de controlar a saliva na boca. Parar a medicação, agora, envolvia risco de morte.
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Sobre o Amor
RomanceA história real que começou a ser contada no Orkut, vem para ser concluída aqui no Wattpad. Há alguns anos, cheguei numa cidade desconhecida para começar a minha carreira de engenheiro. O que eu encontraria ali, nunca poderia prever. Um hétero convi...