26 de maio de 2008.
O carro começava a ganhar velocidade, pegando a rua principal do meu bairro. Eu tinha acabado de sair de casa, deixando todos dormindo, exceto a vó Liza, que sempre faz questão de levantar pra desejar boa viagem. Eram seis e pouca da manhã, eu estava todo arrumado para mais um curso no CREA, em Salvador. Fiz uma conferência mental; a minha sacola no porta-malas, minha carteira no porta-luvas, celular, caneta, ok. Me olhei rápido pelo retrovisor, o cabelo ainda estava molhado. Ajeitei a gola polo. Tava arrumadinho.
Eu gosto de segundas-feiras. Nunca entendi a implicância com esse dia. Não sei se é porque eu curto muito o meu trabalho, às vezes tanto que ele acaba sendo um escape, mas, ao invés da maioria das pessoas, eu ansiava a segunda. Acho que gosto da ideia do recomeço, não sei. Novo ciclo, possibilidades, enfim. Aquela segunda, então... Eu estava esperando com mais vontade.
A Lenita não ia fazer o módulo comigo dessa vez. Era em outra área, a de implantação de Sistemas de Gestão Integrado, e ela não se interessou pela matéria. Mas como eu me liguei no tema, porque já tinha participado de algumas seleções em que esse assunto era recorrente, decidi ir, mesmo sozinho. Não gosto de sair só nem pra comprar pão, por isso às vésperas do curso já tava desanimando, mas a mesa virou quando a Lenita me ofereceu as chaves do apê pra passar aqueles dias. E claro que...
Falei com o Jimmy da possibilidade e ele topou na hora. Arranjou quem o substituísse nos seus compromissos, faltaria às aulas da segunda e terça, e o mais importante, não abrimos pra ninguém de Camaçari (exceto o Edu) que eu ou ele estaríamos em Salvador, pra não se formar de novo aquela corda de caranguejo interminável.
Antes de pegar a estrada, encostei o carro pra mandar um torpedo pra ele. É que tinha uma música do João Gilberto tocando no CD player do carro, que casou certinho com aquele momento, com os meus planos pra mais tarde, e eu não ia deixar isso passar. Digitei:
"Pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca..."
Ri sozinho, tremendo de excitação, e a resposta veio, tão saborosa e urgente como eu esperava. Agora sim, estava pronto pra pegar a estrada.
O dia passou voando, às cinco eu já tava livre. Passei num mercado pra comprar uns víveres; coisas de café, merendinhas, e logo que terminei já tinha uma mensagem dele dizendo que estava na rodoviária de Salvador. Peguei a Avenida ACM com o coração na boca, parei no sinal e acendi um cigarro. A noite estava agradável, o dia todo tinha feito sol ameno, afinal de contas era outono. O centro apinhado de carros, como em qualquer segunda-feira. Olhei pra aquele mundo de faróis. Segunda-feira, sim. Mas pra mim, com gosto de sábado. Será que alguém sequer imaginava que o Gustavo estaria a uma hora daquela armando uma noite de luxúria?
Ele tinha um dom de parecer que sempre estava recém-saído do banho. Era a impressão que eu tinha toda vez que o encontrava. Daquela não foi diferente. Trajava uma bermuda de pano, camisa um pouco colada no corpo, uma mochila básica nas costas e o cabelo moicano. Se eu não soubesse a condição dos nossos ônibus intermunicipais, juraria que ele passou os noventa minutos dentro de uma banheira, fazendo massagens e tal.
Dei um jogo de luz e ele veio em minha direção. Abriu a porta do carro e entrou, riu e me afagou a nuca. Alisei a sua coxa e trocamos um "tudo bem?" cheio de malícia e má intenção.
- A intenção era vir antes pra dar uma geral no apê, mas... não deu tempo, rss.
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Sobre o Amor
RomanceA história real que começou a ser contada no Orkut, vem para ser concluída aqui no Wattpad. Há alguns anos, cheguei numa cidade desconhecida para começar a minha carreira de engenheiro. O que eu encontraria ali, nunca poderia prever. Um hétero convi...