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- Porque tu não comeu Jôse?

Di estava me olhando de lado, com os olhos semicerrados.

- Porque ela, enfim, tava fazendo cu doce lá, cheia de coisa...

- Jôse... cu doce..?

Eu estava sofrendo um interrogatório, percebi. Di e Zoião, na sala da república, me inquiriam. Faltaram apenas os instrumentos de choque elétrico e um tonel de água pra enfiarem minha cabeça.

- Eu a chamei pra vir dormir aqui em casa. Mas eu tinha compromisso no sábado, ela queria saber se ficaríamos aqui e eu disse que não poderia, que ia sair logo cedo.

- Hum...

- Aí ela disse que não queria vir.

- Você vacilou. Trazia ela pra cá, comia e depois mandava embora, porra!

Zoião assentia, os olhos enormes brilhando com a possibilidade do sexo fácil, em casa, sem consequências.

- Mas quem te falou que eu peguei Jôse?

- A empresa inteiraa! Kkkk! Você tá achando o que? Brinque com a língua do povo! Tsc, tsc... trazia ela pra cá, lascava e pronto, rapaz! Ela que pegasse o motoboy pra ir pra casa. Aliás foi assim que eu fiz quando eu comi.

- Ah, deixa lá. Também não tava afim, não. Tava mais pra dormir mesmo.

Deixei dois colegas chocados na sala de estar e fui pro quarto.


Bati a porta, pensando: "mesmo um hétero não pode ter um dia que não esteja afim? Tem que corresponder sempre que a mulher quiser? Não, né?"

- Tá falando com quem? hahaha – Thales saiu do banheiro da suíte, enxugando os cabelos. Tomei o primeiro susto por ele me pegar falando sozinho, e o segundo pela sua própria figura: tórax ainda molhado, cueca de pano fininho, coxas grossas, homem grande...

- Ah, tava aqui lembrando umas coisas... E aí? Passou a semana em Salvador, tava de folga?

- Não, cara, na verdade fui ver um trampo novo. Os meninos não te falaram não? Tô indo embora!

- Indo embora, como?

- Vou voltar pra minha terrinha! – vestiu um short – Meu pai arranjou um trabalho lá, o salário é a mesma coisa, mas pra mim vale a pena. Fico aqui só até a semana que vem.

Gostava de Thales. A sua figura era um deleite, e ele, apesar de meio avoadinho, era gente boa. Super tranquilo.

Apenas quatro meses de convivência, e, na semana seguinte, ele se foi.

Combinei com os outros meninos da república que iria arcar com o pagamento integral do quarto, para não ter que dividir com mais ninguém.


Na segunda seguinte, passei na casa da minha tia Malu, em Feira de Santana, para ver umas coisas que ela disse que tinha separado pra mim se eu quisesse. Uma mesa de jantar com a perna quebrada e a fórmica esfarelada, um sofá-cama com a estampa já ausente, de tantas nádegas que passaram por ali, uma fruteira que foi comprada por ser inox, mas que só de olhar você já contraía um tétano, e três cadeiras de ferro.

- Menino, como é que tu vai levar esse cacareco pra tua casa nova?

- Que casa nova o que, tia? Uma república toda esculhambada! Precisa ver os móveis de lá!

- Tá tudo combinando então, né?

Mirelle saiu do quarto pra ver a bagunça. Eu tinha contratado uma pick-up pra levar até Camaçari e o rapaz estava colocando as coisas na carroceria. Ainda levei de casa meu computador e o rack.

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