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05 de abril de 2008.

Eu estava em frente ao único espelho grande da casa, que ficava no quarto da minha mãe, tentando ajeitar uma gravata. Em toda a minha vida, aquela era a terceira vez que usava aquele tipo de vestimenta; as vezes anteriores tinham sido na aula da saudade e na minha formatura: pronto. Tanto que nem existia aquilo no meu guarda roupa, tive que alugar.

Enquanto brigava com os nós e até desistir de utilizar aquele acessório, ouvia os gritos da minha mãe no quintal, ainda passando a roupa da minha avó.

- Cinco horas da tarde e eu aqui ainda parecendo uma louca, com esse cabelo horroroso... a unha toda malfeita, Deus me livre! Ninguém pra me ajudar com essas coisas aqui!

- Deixa essa roupa aí que eu passo, mãe! Affff! – esbravejei do quarto – Vai tomar logo teu banho!

- Euuu não! Agora que eu já tô terminando...

Fui até o quarto da minha avó, que estava esperando seu vestido.

- Então pra que ela gritou, se já tava terminando, né, vó?

- Deixe quieto, que hoje ela tá atacada. Vai ver se a Drica já tá pronta!

Drica, como sempre, deitada na cama, olhando pra a parede, mas já arrumada.

- Drica, levanta, se mãe te ver amassando a roupa que ela acabou de passar, em vez de casamento, vai ter morte aqui!

- Gu, preciso colocar essa sandália, me ajuda. Esse fecho é cheio de putaria.

Ouvimos os passos da minha mãe, e a sua voz ecoando pela casa.

- Adriana, levanta dessa cama! Toma minha mãe a sua roupa! Ó que merda, vai chover! E eu aluguei vestido de braço de fora! Se aquelas irmãs de Malu vierem me dizer alguma coisa, olhe, eu vou mandar uma tomar no cu no meio da igreja... Aff, quando a gente conseguir chegar lá a Mirelle já vai estar divorciada!

Saímos de casa às seis e meia, o casamento da Mirelle estava marcado para às seis e meia.



- Meu Deus... é um dilúvio!

Não sei o que houve, mas em questão de vinte minutos, armou-se uma chuva torrencial na cidade. O trânsito engarrafou, e tivemos que fechar os vidros do carro (que não tinha ar) enquanto esperávamos.

- Eu tô me sentindo um cuscuz, gente... vou chegar lá parecendo um gambá – minha mãe lamentava.

- E o pior é que o vidro tá todo embaçado, não tô enxergando nada...

Sentia o suor descer pelo pescoço até atingir o colarinho, estava horrível aquilo.

Pouco depois de sete horas entramos na igreja, de fato a minha mãe estava fedendo a sovaco.



Para minha surpresa, o casamento ainda não havia começado. Me lembrei que quando acertamos a igreja, o padre tinha sido enfático que não toleraria atrasos de mais de quinze minutos, pois naquele dia ainda iriam haver duas cerimônias. É, os duzentos e oitenta reais não cobriam a tradição.

Meus olhos esquadrinharam o ambiente à procura de alguém conhecido. A igreja de fato estava muito bonita. O tradicional tapete que ia até o altar indicando o caminho da noiva (como se ela não soubesse como chegar) estava coberto de pétalas, e no final das fileiras de bancos haviam colunas com arranjos de flores. O filó branco completava o caminho, e o púlpito estava cuidadosamente arranjado para acomodar os padrinhos e os noivos, as cadeiras forradas com malha.

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