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"Ó, na quinta-feira logo é bom comprarmos as coisas, porque lá é difícil de encontrar."

"Quem vai pegar o Daniel?"

"A gente sai que horas na sexta?"

"Eu vi na internet que vai fazer sol o fim de semana todo, vai ser massa"

"Tem uma moça lá que faz a faxina o que você acha?"

"A gente contrata pra ela fazer na quinta e depois na segunda"

"Por que aí a gente não se estressa com isso"

"Dá não sei quanto pra cada"

"Seis horas saindo daqui tá bom, né?"


Ele. Não. Parava. De falar. Nesse. Feriado.

- A gente resolve, o que você achar melhor, tá?



Ligamos para o Di e a Suzi e eles adoraram a ideia. Como eu havia decidido ir, a gente começou a conversar e planejar algumas coisas, e acabou que ele perdeu o horário do ônibus da faculdade, mas, ele não estava mesmo muito afim de ir. Saímos pra tomar uma cerveja.

Ele, empolgadíssimo, me contava todos os lugares que poderíamos visitar em Sítio do Conde: a praia da Siribinha, o Cavalo Russo, se desse até em Mangue Seco, quem sabe.

Eu, que havia saído de Feira naquela segunda resolvido a colocar as coisas nos seus devidos lugares, cheguei no fim do dia com este plano fracassado: iríamos passar o feriadão juntos. Minha cabeça não parava de ponderar prós e contras dessa proximidade. Ele nem cogitou levar a noiva. Ele me chamou. Mas ele é só um amigo.

Bom, eu, quando lembrava da situação, procurava me reservar um pouco, entoando meus mantras anti-fudição: Ele é hétero. É só um amigo. Gosta de mim como amigo.



- Eu sei que você não tá curtindo ainda, mas você vai ver como é bonito lá.

- Quem disse que eu não tou curtindo? – retruquei, tomando um gole.

- Talvez porque seja EUU que estou chamando, né? Tive que adular, insistir...

Olhei pro céu e levantei as mãos.

- Ai, Deus, porque me abandonaste? O que eu fiz, Pai?

- Pode sacanear...

- Eu, hein? Tou aqui tomando essa cerveja, planejando a viagem... O que foi que eu fiz?

- Tá com essa cara aí...

Aquele bico que ele faz. Aquela levantada de sobrancelha. Aquela abaixada de cabeça. Cara de carente.

Suspirei.

- Desculpa, eu tô só cansado. E preocupado com algumas coisas aí.

- Que coisas? Tá cansado porquê?

- Minha mãe tava internada esse findi, fiquei lá acompanhando. Não descansei direito. Trabalhei o sábado todinho também.

- Ufa!

- Pois é...

E pensei em você, seu merda...

- E sua mãe já saiu?

- Sai amanhã, se tudo der certo.

- E você tá preocupado com isso, né?

- Também.

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