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Eu não tava CRENDO.

- É melhor encostar o carro de novo, pô, OLHA, CUIDADO AÊE!

Freei a dois milímetros do carro da frente. Encostei o carro, suspiramos do susto e:

- Bom, é isso, véi. Eu sou viado, também, no caso, e – tossiu – há algum tempo que... eu sou, quer dizer – tossiu – que eu sei que eu sou, ou que eu... comprovei que eu sou...

- Humm..

- Cala a boca.

- Tá.

- Senão eu não falo.

- OK.

- E é isso.

Ficamos calados. Eu ficava olhando em volta, tentando entender.

- Tu mandou eu calar a boca pra...

- Ah, sim! Calma, caralho.

Tamborilei os dedos no volante. Ele continuou:

- Pois é, bicho, lembra que eu te falei que eu tinha uma namorada, há um tempão já, e aí terminei com ela? Então, foi por isso, pô. Eu descobri que... curtia ficar olhando os caras, que me dava prazer ver, e tal... bom, aí comecei a procurar na internet algumas coisas...

- Foi quando mesmo, isso?

- Eu tinha 16.

- Nossa!

- É. Tem uns sete, oito anos isso. Aí eu comecei a entrar em salas de bate papo, na verdade no mIRC ainda...

- Nossa, mIRC! Jurássico.

- Sim, altos papos com os caras pelo mIRC.

- Praticamente a cigana Dara.

- Pois é. Bom, depois de meses, criei coragem e marquei o meu primeiro encontro.

- Humm... que massa... como foi?

- Rapaz, foi um menino daqui do bairro. Eu criei coragem porque eu vi que ele era da minha idade também, e tava nervosão... cara, era meio da noite, assim, a galera de casa toda dormindo, ele me deu o endereço de onde era a casa dele. Pertinho, na outra rua. A gente tava tão nervoso que quando chegou a hora combinamos que ia ser só papo mesmo. Ele, porque tava em casa sozinho, e eu porque tinha saído de casa no meio da noite e podia acontecer qualquer coisa, né?

- Que louco... E aí... conversaram.

- Conversamos, trocamos uma ideia. Depois a gente foi relaxando, e aí que rolou.

- Ué!

- Rolou, assim, beijo, sabe? Muito amasso. A gente bateu uma junto, e tal, mas ninguém teve coragem de fazer nada além disso. Mas, caara... Foi massa demais. Foi muito bom, de um jeito que, pô... e diferente, não sei explicar. E aí que eu percebi que eu tinha que olhar pra esse aspecto, entende?

- Sim... entendo...

- E aí foi quando eu terminei tudo com ela, ninguém entendeu nada até hoje, porque já eram seis anos... e... estamos aqui.

Inspirei e soltei o ar.

- Ufa! Por essa eu n... – o meu celular tocou. Era o meu cliente de Salvador, desmarcando. Enquanto conversava no aparelho, ainda percebia o Edu agitado. Finalizei a ligação – olha, só. O meu cliente de Salvador desmarcou.

- Então, véi, é isso. Bom, falei, né – jogou os braços no colo, como se tivesse despejando no chão um peso – bem que o Jimmy falou que o problema era só começar...

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