Capítulo 6

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Cheguei na casa de Léo e interfonei com o senhor Rogério, que era o porteiro do apartamento de Léo. Como ele já me conhecia, me deixou subir sem problemas.

— Manu? Desculpa perguntar, mas você tá bem? - Seu Rogério me perguntou.

— Sim, senhor Rogério. Eu só poderia pedir para o senhor me ajudar com essas malas? Preciso colocá-las no elevador.

— Claro que sim, ajudarei você. - Ele colocou minhas malas no elevador, se despediu e voltou ao seu posto.

É incrível como um porteiro com quem conversei apenas algumas vezes percebe que algo está errado, enquanto minha mãe e meu pai, que me deram a vida, estão pouco se lixando. Como eles puderam me expulsar, sabendo que estou grávida e sozinha no mundo, sem a mínima consideração pela menina que eles viram crescer.

Apertei o andar de Léo até chegar a ele. Peguei meu celular e liguei para que ele abrisse a porta.

— Leonardo, abre aí a sua porta.

— Como assim, onde você está?

— Só abre a porta, Léo, por favor.

Ele abriu a porta e deu de cara comigo. Assim que o vi, comecei a chorar sem parar.

— Ei, o que foi, prima? O que aconteceu? - perguntou Léo.

— Me abraça, Léo, eu só preciso disso. - Depois de alguns longos minutos nos abraçando, ele me mandou entrar.

— Me dá essas malas, e agora me explica o que aconteceu, Manu.

— Foi horrível, Léo. - eu chorava. Minha mãe descobriu e me expulsou de casa. Meu pai não fez nada para impedir isso.

— Calma, eu ainda estou aqui contigo, Manuela. Enquanto eu estiver vivo, você nunca estará só.

— Obrigado, irmão. - sorri fraco.

— Eu me culpo, cara! Você não sabe o quanto eu me culpo por não ter te vigiado naquela festa... E o pior, foi eu que levei o Felipe até lá. Se eu não tivesse levado, droga. - esmurrou a parede e passou a mão entre os cabelos.

— Ei, para, a culpa não foi sua, Léo. Eu que fui uma... Mas como você conhece esse Felipe, um traficante, Léo?

— Eu o conheci na escola, na época em que estudávamos juntos quando éramos mais novos. Eu não sabia que o pai dele era bandido e dono de morro, ninguém sabia. Até que um dia ele se abriu comigo, contou tudo, inclusive que ele seria o futuro sucessor do pai. Para mim, ele era só mais um garoto normal.

— E mesmo sabendo que ele era um bandido, você ainda continuou amigo dele?

— Sim, ele era um cara legal. Eu não ia fazer isso, até porque ele não era um "bandido", Manu. O pai dele era. Não podemos julgar as pessoas pelo que são seus pais.

— Como eu pude me deitar com

um bandido, dono de morro? Meu Deus, é um ultraje.

— Ele pode ser tudo isso, Manuela, mas tenha certeza de que ele é uma pessoa boa e não vai te deixar na mão. Eu mesmo vou falar com ele.

— Eu quero fugir, desejo tanto não ter esse filho.

— Para, você não pode dizer isso, louca. O filho não tem culpa de nada. Agora senta aí, relaxa. Come algo, toma um banho e para de pensar negativo.

— Tá. - fui até o quarto que Léo preparou para mim.

Fui até o pequeno banheiro que havia ali no apartamento, liguei o chuveiro e deixei a água molhar meus cabelos e acalmar meus pensamentos. "Se é que isso é possível".

Vesti uma das poucas calças jeans que trouxe, era uma preta justa que, se eu não me engano, estava ficando apertada em mim. Maldita gravidez! Coloquei uma blusa e prendi os cabelos em um coque. Meus olhos vermelhos ardiam de tanto chorar por dias.

Estendi minha toalha no pequeno varal e me sentei no sofá. Léo não estava em casa, devia ter ido para algum lugar.

— Que linda, em. - Léo chegou com um sorriso no rosto.

— Linda nada, olha para mim. - sorri.

— Manu, você sorrindo fica linda, não chorando. Mas eu trouxe comida para gente. - Ele abriu uma sacola com macarrão com queijo e coca-cola, minha comida preferida.

— Ai, Léo, agora me animei. Vamos atacar logo isso! - rimos.

Comi dois pratos, estava com tanta fome que parecia que não comia há dias. Esse bebê está querendo me deixar gorda, tenho certeza.

— Mas, Manu... Tem um assunto que eu quero conversar contigo.

— O quê? - disse enquanto terminava de comer.

— Felipe precisa saber sobre esse filho, você sabe, né?

— O quê? Você está louco, né? Se depender de mim, ele nunca vai saber de mim.

— Manuela, você sabe que não vai conseguir se manter. Eu poderia te ajudar, mas o salário que ganho mal dá para fazer uma compra do mês. Quem paga meu aluguel são meus avós.

— Eu sei, mas sei lá... Eu posso trabalhar.

— Trabalhar? Você está grávida, e o bebê vai precisar de você por mais ou menos um ano. Sem contar o quanto você vai gastar com ele. E você nunca fez nada na vida.

— Eu não quero ter esse filho. - me olhei no espelho que havia na parede da sala e comecei a chorar.

— Não fale isso! Deixa as coisas comigo, tá? Eu gosto de você demais e só quero seu bem.

— Meu bem é que você não conte para ele!

— Manu, vai dormir, tenta descansar um pouco.

Fui para o quarto e fiquei imaginando o quanto meus pais estavam me odiando. Por que tudo isso, Deus?

Eu poderia ter perdido a virgindade e não ficar grávida. Mas por que eu tinha que ficar grávida? Que ódio.

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