Capítulo 81

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"Agora você pode dormir tranquilo amor, você conseguiu o que queria. Você acabou de me dar o mundo!"




Anahí

Dois meses se passaram desde a morte da minha mãe e acho que passei por todas as fases do luto. Primeiro neguei que ela estivesse morta, só conseguia chorar, não conseguia comer e acho que quase enlouqueci meu marido de preocupação. Foram dias de insônia, choro e falta de apetite.

Depois eu fiquei com raiva por ela ter morrido sem me dar tempo de conseguir seu perdão, de trazê-la de volta, de aliviar a culpa que eu sentia pelo estado dela. Em seguida entrei num estado de barganha, fazendo promessas a mim mesma que eu ia superar, que ia ficar tudo bem, mesmo não acreditando nisso.

A fase seguinte foi a pior, depressão. Dias sem dormir, dias sem ir na empresa, dias sem sequer conseguir conversar com Alfonso, encará-lo. Eu conseguia ver o esforço dele em tentar me ajudar, acho que Rachel ajudou pra que ele não surtasse e soubesse o que fazer. Foi ela também que me ajudou a sair disso, a voltar a me conectar com o mundo e chegar a última fase: aceitação.

Finalmente dois meses depois estou aceitando, me conformando e não me culpando tanto pelo que aconteceu. Mas se não fosse por Alfonso, pela chegada da Verônica, que finalmente vai vir morar com a gente, eu não ia sair da fase da negação, ou ia me afundar numa depressão, como a minha mãe.

Os braços de Alfonso me rodearam e fechei os olhos me recostando nele. Quando ele me virou de frente pra ele e de costas pra janela da cobertura – onde eu observava a cidade – eu vi que seus olhos estavam cheios de preocupação. Esses últimos meses, acho que ele viveu muito perto do limite. Ele vive me dizendo que sou tudo pra ele e eu quase o enlouqueci com meu estado.

- Ta tudo bem? - ele pergunta.

- Uhum, só ansiosa com a chegada da Veh. - sorri e vi seu rosto e todo seu corpo relaxar.

- Antes da Verônica chegar, tenho uma surpresa pra você.

- Que surpresa?

- Fecha os olhos e você já vai saber. - Alfonso sorriu.

O encarei desconfiada, mas como ele sempre conseguia me ganhar pela curiosidade fiz o que ele pediu. Alfonso me guiou pra fora do quarto, sei que entramos no corredor e paramos logo em seguida. Ele abriu a porta e me levou pra dentro.

- Pode abrir os olhos.

- Ta escuro. - sorri.

- Eu sei. - ele respondeu suavemente e então acendeu a luz.

Assim que vi, foi impossível me segurar. Comecei a chorar e minhas pernas fraquejaram.

- Vem, senta aqui. - ele veio por trás de mim e me guiou até a cadeira, pra depois se ajoelhar ao meu lado.

- O que foi o que você fez? - coloquei a mão no meu coração, parecia que ele ia sair pela boca.

- Só me diz se está parecido com o que você se lembra. - ele respondeu docemente, acariciando minha mão.

- Ta perfeito. - o encarei.

- Se você quiser tocar, tudo bem, a pintura já secou.

Me levantei e agradeci quando Alfonso me ajudou, eu não tinha muita confiança de que ia conseguir chegar até o quadro sozinha. Meus dedos tocaram o centro da pintura e encarei o rosto dos meus pais. No quadro eles estavam abraçados e sorriam. Mesmo sem ter conhecido essa versão deles, Alfonso conseguiu captar o amor nos olhos dele, dos quais eu me lembrava.

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