Capítulo 134

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"Ver os dois juntos é meu calcanhar de Aquiles, um vislumbre da família que eu sonhei pra gente e que eu não sei se algum dia vai poder dar certo."



Anahí

Sai do quarto de pintura do Alfonso e quando passei pelo quarto de Alícia, o que eu vi me surpreendeu. Alfonso estava reclinado na poltrona de amamentar, os pés - ainda calçados com os sapatos sociais - estavam apoiados e relaxados sobre o pufe. Ele estava sem gravata, com a camisa social aberta e dormia tranquilamente. Suas mãos envolviam nossa filha que dormia como um anjo apoiada no peito dele.

Encostei no batente da porta e fiquei admirando os dois, impossível não sorrir e não me perguntar se algum dia eu dormi assim com meu pai. Vendo os dois juntos, acabei esquecendo completamente de estar chateada com Alfonso, com o lance do Lucca. Eu não queria pensar em problemas naquele momento, só queria admirar o pai que Alfonso tinha se tornado, superando todas as expectativas, inclusive as deles e na sorte que minha filha tinha por ter um pai como ele.

Alfonso se mexeu me assustando e acabou acordando. Na mesma hora tirei o sorriso do rosto e tentei manter uma expressão neutra.

- Quanto tempo eu dormi? - perguntou, ajeitando Alícia, que por sorte não acordou.

- Não sei, acabei de entrar aqui. - dei de ombros.

Alfonso levantou da poltrona e acabei sorrindo de novo, ao ver o cuidado com que ele colocou nossa filha no berço, acho que nem um vaso de cristal de um milhão de dólares, já foi tratado tão cuidadosamente. Ver os dois juntos é meu calcanhar de Aquiles, um vislumbre da família que eu sonhei pra gente e que eu não sei se algum dia vai poder dar certo.

- Acabei entrando aqui, vi que estava acordada e não resisti. Tirei ela do berço e ficamos conversando. Acho que o assunto estava meio chato porque ela dormiu em um minuto.

Acabei rindo e meu coração disparou quando Alfonso me acompanhou, rindo também.

- Vocês ficam bem juntos e dá pra perceber que a cada dia que passa, ela se apega mais a você. Acho que já está aprendendo a te reconhecer como pai dela.

- Às vezes acho injusto ganhá-la tão depressa depois de tudo que eu fiz com vocês duas. - Alfonso encarou o berço e depois voltou a me encarar. - Ao mesmo tempo que tenho medo de um dia ela me odiar pelo que fiz com vocês, é algo que eu quero que aconteça, porque eu mereço.

- Acho que o remorso que você sente e que talvez vai sentir pro resto da vida é castigo suficiente Alfonso. E acredito que se um dia, Alícia souber o que o pai pensava dela, ela vai entender seus motivos, porque depois que você a conheceu só mostrou seu melhor lado pra ela e isso vai falar mais alto do que qualquer coisa. Você nunca vai perder o amor dela.

- Não ajuda muito ter o amor dela, mas não ter o seu.

- Alfonso...

- Será que algum dia você vai ser como ela e conseguir me perdoar?

- Eu entendo porque você fez e falou todas aquelas coisas e a cada dia que passa, vendo você com ela, fica mais fácil esquecer aqueles insultos. Você a ama e é isso que importa pra mim. Sempre quis que você a amasse. Sempre soube que você a amaria. É bom saber que eu não me enganei.

- Mas e nós, Any? - Alfonso cobriu minha mão - que estava apoiada no berço - com a sua. - Nunca mais vamos voltar? Vou ser obrigado a passar o resto da minha vida, querendo você sem poder ter? Me arrependendo do que eu fiz sem que isso me leve a algum lugar?

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