5.2K 330 13
                                    

20:08 PM

Espero, sentado, meu pai, no restaurante, enquanto leio um jornal cujo principal assunto é minha vida. É impressionante como existem pessoas que gostam de cuidar da vida alheia. Como não vi esses paparazzis? Desde que me casei andei virando alvo de notícias e sites de fofoca.

Meu celular de repente vibra sobre a mesa, interrompendo minha leitura.

Vou à casa dos seus pais. Sua irmã quer ter uma conversa comigo. Volto às nove. Um beijo!
* Esther amor.

Mando outra, um pouco mal-humorado, pois sei exatamente que ela não irá voltar no horário certo.

Não demore. Quero você em casa cedo.
* Leonel

- Olá, filho.
Ergo a cabeça e fito meu pai em minha frente. Logo que o vejo, levanto-me da cadeira e paro de digitar no celular.
Meu pai, um pouco mais velho, toma seu lugar na mesa com cansaço. Chamo o garçom em seguida e peço mais vinho.
- Então, meu filho...
- Você está bem, pai?
Faço a pergunta intrigado, analisando a faceta enervada dele.
- Sim, não se preocupe comigo. Viemos falar de você.
Fico em silêncio por alguns segundos, perdido em meus pensamentos, tentando ordená-los e desandar a falar.
- Isso tem nome.
- Esther - respondo, encarando o copo cheio de vinho. - Ela quer ter filhos.
- Que bom! Achei que nunca iam pensar em me dar um neto - dispara, entusiasmado.
Olho para ele tão sério que o faz estranhar e perceber o quanto isso não me agrada.
- Qual é Leonel? Vai me dizer que...
- Não quero - falo rápido, sem hesitar, com firmeza.
Meu pai revira os olhos.
- Ah, Céus! Vocês dois já têm quatro anos de casados. Meu filho, por favor! Sua mãe engravidou pela primeira vez recém-casada comigo.
- Pai, como acha que vou lidar com uma criança que só sabe berrar? É óbvio que tudo vai mudar se a Esther engravidar.
- Está preocupado com o que especificamente?
- Com tudo. Ela vai ter menos tempo pra mim, não vamos namorar com frequência e a atenção dela voltará para essa criança.
- Eu entendo você, meu filho. Já passei por isso. A questão é que o seu egoísmo em querer sua mulher somente para si está falando mais alto. Pense bem, Leonel.
- Eu já pensei.
Ele balança a cabeça, me repreendendo.
- Filho, filho.... - murmura, entrelaçando os dedos sobre a mesa e observando meu rosto detalhadamente.
- Realmente, eu não te entendo.
- Quando estava no quarto ano da faculdade...
Ele me ouve, interessado. Prossigo:
- eu engravidei uma garota cujo nome eu não me lembro mais. Ela tinha apenas 15 anos e eu 18.
- Meu Deus do Céu! - sussurra, incrédulo. - Não me diga que você já é pai porque...
- Ela abortou sem eu saber. Me desculpe por não ter contado a você. Eu estava com medo de você e mamãe me tirarem da faculdade naquela época.
- O que tinha na cabeça, Leonel?
Tomo um pouco de vinho tranquilamente.
- Eu queria curtir, era irresponsável, não gostava de relacionamentos sérios até conhecer a Jaqui.
- E o que isso tem a ver com o que nós estamos abordando, que é o seu casamento?
- Eis a questão. Desde o dia em que descobri que ia ser pai e depois não, eu optei por nunca ter um filho.
- Jaqui não reclamava disso?
- Ela nem gostava de crianças, o que me deixou aliviado. Mas agora vem a Esther com esse desejo insane... Ah!
Levo a mão na cabeça, irritado.
- Vou lhe dar um conselho, siga se quiser.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora