Capítulo 08

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Um mês depois do recuperamento do pai de Esther.

Na hora de servir, eu me encaro do prato do meu marido e do meu. Coloco o atum ao molho, seguida da salada.
Estamos num jantar com a família de Leonel.
- Pronto. Nossos pratos estão bem coloridos.
- Do jeito que você gosta- acrescenta Leonel sorrindo, beijando minha nuca.
Começamos a comer devagar, enquanto ouvimos um discurso de Bryan sobre um caso que está apurando na delegacia. Diz ele ser complexo demais.
Depois de receber elogios pela comida deliciosa que Mary, Lídia e eu fizemos, me senti mais aliviada, parecia que eu estava esperando a nota final do boletim escolar.
- Parabéns, cunhadinha- fala Heitor sorrindo para mim.
- Obrigada.
De repente, no último pedaço do atum, uma ânsia forte domina os meus sentidos, dando vontade de voltar tudo que comi. Espero para ver se passa, espero mais um pouco, mas...
- Ai, droga!
Salto da cadeira, no meio da refeição e corro o mais rápido que posso para o banheiro do quarto de Maryelli, no andar de cima. Lá, abro a tampa da privada e jogo tudo no vaso quase rasgando a garganta.
Eu podia jurar que ia aguentar, estava me segurando, mas não deu.
Ao vomitar tudo, vejo Leonel e a família já no quarto, aflitos e espantados.
Meu marido me olha várias vezes com a expressão estranha, muito fechada, indecifrável.
O que há com ele? Porque não vem me ajudar? Porque fica me olhando como se eu fosse um ete?
- Esther, o que foi?- Bryan, meu sogro, me apóia pelos braços, enquanto me faz sentar na cama.
Agora, olhos e mais olhos estão sobre mim sem saber o que aconteceu.
- Eu não sei, Bryan. De repente, bateu ânsia da comida em mim.
- Não é ânsia, é enjôo- rebate Leonel, sério como pedra, encarando-me zangado.
- Enjôo?- diz Christhoffer e Mary em unissono.
- Tem certeza que é enjôo, filho?- pergunta Lídia à Leonel.
- Tenho.
- Então...
- Ela deve estar grávida- acrescenta Heitor, também sério e preocupado.
- Vocês estão falando como se eu não estivesse aqui. Por favor, me respeitam. Foi só um enjôo.
- Não foi só um enjôo. Você sabe muito bem o que é, Esther.
- Não sei - boto as mãos na cabeça- não sei, acredite.
- Eu tenho guardado um testinho de gravidez aqui - diz Mary.
- Teste de gravidez? O que você está fazendo com isso, Maryelli?
- Calma, pai. A minha amiga quem deixou aqui, a Leandra.
O pai engole a conversa, assim como o resto da família.
Enquanto Mary se retira, fico ali sentada, agoniando, vendo o modo como Leonel está reagindo
Ele está totalmente eufurecido, prestes a socar qualquer coisa à frente. Mary volta com o objeto em mãos. Ela me entrega. Bryan novamente, me ajuda a ir ao banheiro. Ele fecha a porta assim que peço.
Sento na privada, abro o envelope e seguro o dispositivo na área de suporte. Retiro a tampa e urino sobre a membrana absorvente por cerca de 10 segundos.
Após alguns minutos aparece duas listras uma ao lado da letra C e outra da letra T, indicando o que eu menos esperava: positivo. Não pode ser!
Eu estou grávida!
Fico dentro do banheiro sem falar, sem piscar, sem mover o corpo, olhando-me no espelho.
- Grávida! Gravida! Meu Deus!
Olho para a porta, imaginando a reação do meu marido, que não queria filho.
- Tá tudo bem aí, Esther?
Ouço a voz do meu sogro. Não respondo. As palavras evaporam.
- Esther - chama Leonel, batendo a porta sem parar.
Abro a porta, dou de cara com todo mundo quase grudados na entrada. Paro na frente de todos, sentido-me culpada por ter interrompido o jantar.
Eles me olham cheios de expectivas.
- Deu positivo, eu estou grávida.
A família inteira fica embasbacada, murmurando um "oh" de surpresa.
Leonel arregala totalmente os olhos em mim, perdido.
- Desculpe - murmuro à Leonel.
- Me deixem sozinho com a Esther, por favor - diz à família.
- Tem certeza? - O pai observa a expressão do filho.
- Tenho, pai.
Eles se retiram meio hesitantes.
Quando todos saem definitivamente, sinto um forte arrepio no corpo, um medo foraz que vai atingindo meu peito como nunca havia sentido.
Parado no meio do quarto, olhamos um para o outro, incrédulos.
- Passe esse negócio pra cá, anda.
Entrego o testinho a ele com as mãos tremendo. Meu marido analisa o pequeno painel e, de repente, joga o objeto com força na parede, e grita:
- Eu não aceito isso! Onde você arranjou essa gravidez?
O quê?
- Leonel, por favor, se acalme. Olhe bem o que você acabou de dizer.
- Não interessa. Eu fiz uma pergunta!
- Não grite.
Ele avança para cima de mim e me arrasta contra a parede, apertando meu queixo de modo agresssivo.
- Como ficou grávida? Responda logo!
- Você está...
Ele aperta mais a minha carne, esmagando tanto o meu queixo quanto a meu corpo sob o dele.
- Responda! - grita fora de si, raivoso como um cão.
- Eu não sei - grito também.
- Mentira. E o anticoncepcional?
- Não esqueci nenhum comprimido, eu juro que não esqueci. Estava tomando tudo com cautela.
- Esther, Esther... Não faça eu te machucar, fale a verdade - ameaça, apertando mais a mão.
O que está acontecendo com ele?
No mesmo instante, sinto gosto de sangue na boca.
Tento afastar Leonel de perto de mim, mas não consigo. Ele é mais forte do que eu.
- Ai! Você está me machucando. Por favor, pare. Não é assim que vamos resolver as coisas.
- Fez de propósito porque sabia que eu não queria filho.
- Não, não - balanço a cabeça.
- Que não o que? Posso até imaginar com que finalidade você foi àquela ginecologista.
- Leonel...
Mesmo aos prantos de choro, ele continua o suplício.
Sem ao menos imaginar que um dia isso aconteceria, Leonel me empurra no chão. Eu caio, batendo a cabeça numa estante de livros.
Não desmaio, apenas me encolho e choro, ouvindo-o gritar.
Leonel agacha no chão, me pega pelos cabelos e diz:
- Eu não quero filho nenhum!
E me solta, deixando-me sozinha sem piedade, largada no chão, sangrando na boca.
Ele me jogou aqui no chão! Me jogou no chão! Cortou o meu lábio com a mão e nem se importou!
Isso não vai ficar assim, Leonel!

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora