Capítulo 11

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Leonel Blanchard

— Como viajou? Onde vocês estavam com a cabeça quando permitiram que que ela saísse do Rio? Estão loucos?
   Enquanto berro na sala, mãe fica sem saber o que fazer.
— Meu filho, ela foi ficar com o pai, que piorou esta manhã. Ele queria muito ver a filha, então, ela foi.
   Ela toca meu braço, tentando me acalmar.
   Estou furioso, vermelho de raiva. Minha esposa solta por aí é um perigo...
— Mãe, a Esther está correndo perigo. Pare de tentar me acalmar — tiro as mãos dela do meu braço, irritado. Ela me olha, séria e surpresa com a minha atitude.
— O que é isso, filho? Estou tentando te ajudar e você me trata...
— Ah, dona Lídia! Menos, por favor. Estou preocupado com a minha mulher. Só com ela.
— Mas tem o bebê, o seu filho.
   Viro para ela e falo alto:
— Eu não tenho filho! Pare com isso já! É uma ordem!
   No mesmo instante, levo uma bofetada na cara, daquelas bem forte, de arder o rosto.
   Eu queria gritar o mais alto possível com a minha mãe, mas não digo nada, apenas rosno como um leão raivente e jogo a cabeça para trás.
— Não fale assim! Eu sou sua mãe! Já calculou quantos tapas levou desde que se casou? Acha que vai bancar o machão comigo, como faz com a coitada da sua esposa?
   Fico quieto, agonizando a raiva. E que raiva!
   Volto a observá-la e... mãe... Minha querida mãe, a mulher que me suporta. Que droga! Por que estou agindo assim com ela?
   Tomo a borda do sofá, relaxo e suspiro pesadamente, como um fracassado sem saber o que fazer. Mamãe se aproxima de mim, toca meus cabelos e faz um carinho bom, muito bom em meu rosto.
Mãe, me ajuda.
— Filho, a mudança depende de você. Aceite logo que vai ter um filho, vai ver que será melhor.
— Não posso, mãe.
— Mas por que, meu anjo? Você e a Esther são ricos, médicos, estudados e têm uma vida de casado excelente. Muitos casais por aí de classe média baixa planejam ou já têm filhos e levam isso numa boa. Por que você, que é rico e pode ter quantos filhos quiser, não aceita?
— Eles são eles. Eu sou diferente, com pensamentos e atitudes diferentes.
— É só por isso?
   Olho para ela.
— Quando eu tinha 18 anos, mãe, eu engravidei uma garota, menor de idade. Depois disso, fiquei traumatizado.
   Ela arregala os olhos, pasma. Eu nunca contei isso a ela, somente ao meu pai.
— É sério, Leonel? — pergunta, chocada.
— É.
— Oh, meu Deus. Então você tem um filho por aí?
— Não, mãe. A garota abortou sem eu saber.
— Que falta de responsabilidade!
— Mãe, já passou...
— Passou? E se não tivesse passado? O que faria, em pleno ano de faculdade?
   Dou de ombros.
— Talvez, me casaria mais cedo. Sei lá, mãe... Esqueça.
— Meu Deus, como...
— Por favor, esqueça.
— E agora?
   Ela me observa. Levanto do sofá.
— Vou atrás da minha mulher. Ela não pode andar sozinha por aí.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora