Capítulo 07

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Leonel Blanchard

  Foi uma manhã de tédio no hospital, fiquei sentado o tempo todo e só levantei para entrar no quarto onde meu sogro está internado. Conversei com ele sobre tudo, mesmo sabendo que não falarei muito comigo, apenas me ouveria e assenaria com a cabeça. Atos ainda está passando por um processo de recuperação lento, por isso se encontra nesse estado. Vai levar um tempo para ele se recompor totalmente — se voltar ao normal mesmo, pois, há casos de pessoas que ficam com sequelas do AVC para o resto da vida.
   Torço por ele em sua recuperação, sei que é um momento chato, acompanho alguns pacientes com esse tipo de problema.
   Ao deixar minha mulher, a mãe dela e a minha irmã num restaurante, convidei Érodys para uma conversa séria. Agora, estamos em um bar chique que ele diz frequentar nas folgas do trabalho, para conversamos.
— Então, Leonel, do que se trata a sua conversa?
   Endireito-me na cadeira.
— Da Maryelli.
   Encaro ele, sério. Ele faz o mesmo.
   Érodys e eu temos muita coisa em comum. Tenho reparado nele nesses últimos anos.
— Observei vocês dois um dia lá em casa, agora, no hospital, bem juntos e um pouco íntimos. Você sabe que amo a minha irmã e sempre ajudo ela no que precisa. Dou conselhos, carinho e tudo que um irmão mais velho que só quer o bem da irmã mais nova faz. Quando Maryelli nasceu, eu fiquei muito feliz e me apeguei bastante a ela quando era bebê. Hoje, como você pode ver, ela está bem crescidinha e já é maior de idade, menos dona do próprio nariz, pois ainda mora com os pais. Eu sempre ligo para ela afim de saber se está tudo bem e, nesses últimos tempo, ela tem demonstrado ser mulher responsável, não mais aquela menina que gostava de farra e gastar dinheiro no shopping com as amigas. Ela melhorou bastante. Está diferente, se veste com uma mulher casada, comportada. E eu gostaria de saber se você tem alguma coisa a ver com isso.
   Ele dá um meio sorriso, olhando além de mim.

— Se eu tenho, eu não sei. Quem tem te responder é a sua irmã. Ela pode ter mudado por outros motivos.
— Sim, mas você é o principal suspeito. O que eu realmente quero saber é o que você tem com a Maryelli.
— Quer saber a verdade? — ele me desafia com um olhar irônico.
— Sim.
— Maryelli está saindo comigo.
— Isso eu percebi, mas quero saber se...
— Se estamos transando? — indaga, rindo baixinho. — Sim, Leonel, eu estou atrasando com a sua irmã. Fui o primeiro dela.
— Filho da mãe!
   Quase levanto da cadeira e dou um soco no rosto perfeitinho dele, mas acabo me contendo por conta do local que está cheio de pessoas. Apenas fico com a raiva guardada, pronta para sair.
— É assim que fiquei quando soube que você estava comendo a minha irmã mais nova. Puxa, a Esther só tinha 17 anos e você já era um doutor bem crescido. Não pensou que isso poderia dar cadeia? É óbvio que não! O seu desejo falou mais alto.
   Minha raiva aumenta.
   Se controle aqui, Leonel.
Está com a Maryelli porque quer me dar o troco?
— Claro que não. Isso não é do meu feitio. Não sou você, esperei a Mary crescer mais um pouco e ter idade o suficiente para mim, apesar de ainda ser muito nova. Mas o que importa é que eu gosto dela.
— Não acredito em você. Por que quer uma menina, se pode ter outras mulheres mais experientes?
   Ele dá de ombro.
— Digo isso a você também. A Esther é muito nova para o seu caminhão e, mesmo assim, você diz gostar dela.
   Rio para amenizar a raiva.
— Muito bem... Você foi esperto — murmuro. — Soube calcular as coisas direitinho, sonhor Érodys Winkler.
— Digamos que sim. Mas volto a dizer que não estou com a sua irmã porque quero dar o troco em você. Isso é criancinha para mim. Eu quero algo sério.
— Tem certeza que é ela?
— Certeza absoluta.
   Pelo visto, o jeito vai ter que aceitar essa palhaçada. Droga, Mary! Por que esse cara? Esse galinha que gosta de bordéis.
    Você também frequentava e era galinha.
   Fico totalmente desarmado. O filho da mãe venceu.
— Está bem, você ganhou. Fique com ela.
— Já estou com ela.
— Mas eu vou logo avisando, se você pisar na bola, eu acabo com você.
— O mesmo eu digo em relação à minha irmã — ele me enfrenta com os olhos.
   Infeliz!

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora