Capítulo 10

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Esther Blanchard

   No dia seguinte, ao levantar da cama falo com minha mãe por telefone:
— Fiquei sabendo do que aconteceu.
   A voz dela parece triste
— É verdade que está grávida, filha?
— É, mãe— suspiro
— Você quer essa criança?
   Olho e passo a mão esquerda na barriga dando um sorrisinho.
— Muito. O que eu mais desejava, mãe.
— Filha, estou preocupada com você. Ser mãe é complicado.
— Eu vou ser feliz, mesmo não estando com meu marido.
— Não se engane. Sei que você ama muito ele.
   Fico um pouco irritada com ela. Será que ela acha que uma mulher não consegue cuidar do filho morando sozinha?
— Ele não quer essa criança. Não estou disposta a sacrificá-la. Já fiz muita coisa pelo Leonel e agora...
   Levanto da cama e vou para a varanda queimando de raiva ao lembrar das palavras sujas que Leonel dizia contra o filho.
— Agora?
— Agora, mãe... quero ficar sozinha. Meu filho, Deus e eu. Não quero Leonel perto de mim.
— Quer dizer que o casamento acabou?
— Só depende dele.
— Está mesma decidida a fazer isso?
— Estou.
   Ela suspira firme.
— Mãe, o que foi?
— O seu pai passou mal de novo.
— Ah, meu Deus!
— Ele quer que você venhe para cá.
— Quando?
— Pode ser hoje mesmo.
— Claro mãe. Vou marcar um voo a tarde.
   Ela suspira novamente. Dessa vez, ela chora.
— Mãe?
   Meu coração começa a bater mais do que o normal, minhas pernas tremem e uma lágrima cai na maçã do meu rosto.
— Nesses últimos dias, Athos tem piorado mais. Não saiu da cama hoje, deixou a empresa nas mãos de Érodys. Estou com medo, Esther. Seu pai não está nada bem. Achei que iria melhorar depois da internação, mas nada.
   Passo a mão na cabeça, desesperada, chorando em silêncio.
   Papai...
Desde ontem ele pergunta de você, querida.
— E o que disse a ele?
— Que, provavelmente, você está bem. Mas ele não se conforma com a resposta, diz que quer você aqui.
— Eu vou, hoje.
— Vamos esperar você, filha.
— Tá. Até daqui a pouco.
— Até.
   Meu Deus, ajude o meu querido pai. Não posso fazer nada para tirá-lo desse impasse, só o Senhor pode resolver.
   Ano passado meu pai, Athos, foi diagnosticado com hipertensão alta. Ele não sabia, até que foi no médico e fez uma série de exames e descobriu. No início desse mês, ele teve um AVC e foi parar no hospital.
   Desde que soube disso, ele anda abatido e quase não sai de casa, o que deixou minha família aflita.

Mais tarde, durante o almoço...

   Saio do quarto de hóspedes e já encontro a família inteira do meu marido na sala de jantar, batendo um papo tranquilo.
   Assim que tomo uma cadeira ao lado de Mary, todos me observam com olhares carinhosos e apreensivos. Eu retribuo.
— Como está? — pergunta Mary tocando o meu ombro esquerdo.
— Mais ou menos.
— Que horas é o voo, Esther? — Bryan pergunta, mastigando a comida.
— Depois do almoço você pode levar, Bryan.
— Ok.
— Esther, querida, sentimos muito pelo seu pai. Quando chegar à Porto Alegre, diga que Bryan e eu iremos visitá-lo a qualquer dia.
— Digo, sim, Lídia. Obrigada.
— Ele vai ficar bem — garante ela com um sorrisinho doce.
   É o que eu espero, Lídia Blanchard.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora