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- Abra essa porta, Esther - Leonel bate à porta do quarto sem parar. - Abra logo!
- Não! Eu não quero falar com você. Saia daqui - grito de volta.
- Se não abrir a porra dessa porta, eu vou arrombar.
- Eu passei a tranca.
- Ah, é?
Ele mete o pé na porta uma, duas, três e mais de cinco vezes.
Enquanto isso, tento achar um lugar para me esconder, mas na oitava batida, a porta abre de supetão e eu levo um baita susto.
Leonel, totalmente descontrolado, me pega brutalmente pelos braços e me joga na cama como muita raiva.
- Você nunca sairá daqui - branda ele, apontando o dedo na minha direção. Eu me levanto da cama, firme.
- Quem vai me impedir?
- Esther, não brinque comigo - ameaça, sério.
- O único que brincou foi você. Aceite que vou embora, Leonel.
Saio da cama, vou até o closet e volto com uma mala grande e algumas roupas. Leonel, rapidamente pega todo o meu traje nas mãos e vai rasgando um por um.
- Quero ver com que roupa você vai sair daqui.
- Não faça isso! Não! Leonel, não! - soco os braços fortes dele. Por fim, não consigo pegar as roupas.
Leonel caminha em direção ao closet, abre a primeira gaveta e arranca mais roupas do cabide.
- Sabe o que vou fazer? Vou mandar queimar todas as suas roupas.
- Não! - grito alto. No mesmo instante, dores fortíssimas abaixo da minha barriga me ata, rasgando-me toda de dor. Leonel, eufórico, berra:
- Nunca vai sair desta casa! Nunca! Você é minha esposa e daqui você não saí!
- Ai! Ai! - gemo, caindo no chão de tanta dor, com as mãos abaixo da barriga - Leonel...
Ele para e me encara, confuso. Me pega no colo e me leva para a cama, preocupado.
- O que você tem?
- Dores por dentro. Ai! - grito, rolando na cama. - Não aguento. Tá doendo!
- Droga!
- Me ajuda - aperto a mão esquerda dele, agonizando de dor.
Ele me pega novamente no colo e, dessa vez, me leva para o andar debaixo. Desce a escadaria às pressas e vai para o escritório.
Ao refrescar a mente, percebo que já estou deitada no sofá grande do escritório, chorando, enquanto espero o atendimento do meu marido, que vasculha a gaveta da mesa à procura de algo.
- Rápido, por favor.
- Calma, Esther. Estou procurando.
Espero e espero, choramingando alto.
Não vou aguentar. A dor é insuportável. Eu desmaio ali mesmo. Não vejo mais nada.

Mais tarde, ao abrir os olhos, vejo meu marido falando com a empregada ao lado dele.
- Escute, Sandra. Minha esposa vai ficar de repouso e dentro deste quarto por tempo indeterminado.
Ahn?
- Eu não preciso de repouso nenhum!
Ele quer me deixar trancada no quarto? Ah! Mas isso não vai ficar assim!
- É mentira dele, Sandra.
A mulher fica sem rumo, alheia à minha discussão com Leonel.
- Sandra, não ouse a abrir a porta. É uma ordem, se não obedecer, eu demito você.
- Sim, senhor.
- Como é que é? Leonel! - falo alto, mas ele me ignora.
- Deixe o quarto trancado o tempo todo. Só me dê as chaves quando eu chegar em casa.
Boto as mãos na cabeça, não acredito no que acabei de ouvir.
- Vai me trancar aqui?
Ele não me olha, continua ditando suas ordens:
- Nada de telefonemas, muito menos conversinha fiada com a minha esposa. Dê comida, os medicamentos e tudo que eu disse no horário combinado.
- Ok.
Isso não está acontecendo comigo.
- Vou sair, daqui a pouco volto.
A empregada dá um sorrisinho falso e me olha em divertimento. Pilantra! Ela gostou de tudo que foi dito!
- Vá tranquilo, doutor. Vou cuidar da sua esposa.
- Obrigado, Sandra. Até mais.
Ele sai e me deixa ali.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora