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Na varanda da casa, bebendo vinho com Maryelli, abordo um assunto muito sério com ela: sexo. Mary confessou que perdeu a virgindade há duas semanas e que está precisando de conselhos.
- É como descobrir algo novo - explica ela, entusiasmada.
Olha a minha cópia quando o irmão dela tirou minha virgindade, eu tinha apenas 17 anos. Ainda bem que ela perdeu com 20.
- Eu nunca pude imaginar que o meu corpo fosse capaz de fazer aquilo...
Sorrio vendo a felicidade no olhar da garota.
- Olha, Mary, espero que não seja com um desses seus colegas molequinhos.
- Você conhece o cara, e muito. Encontrei ele em Porto Alegre, e estava tão lindo, Esther...
- Fala logo!
Ela ri depois que eu bato o pé no chão.
- Érodys Winkler.
Engasgo com o vinho.
- Esther! - ela me sacode.
- Não pode ser! - exclamo, recuperando-me da tosse.
- Maryelli, o seu irmão vai...
- Vai o quê? - Leonel nos interrompe, entrando na varanda. Ficamos paralisadas e caladas.
- É... conversa de mulher - adianto-me.
- Não era você, e sim o Heithor.
- Ah.
Ele me olha.
- Quero conversar com você em particular.
Ai, meu Deus...
- Tá liberada - Mary sai, me deixando sozinha.
- Diga.
- Aqui não. Vem comigo.
Leonel pega minha mão e me leva para o andar de cima. Meu corpo vai ficando tenso à medida que avançamos para o quarto de hospedes.
Leonel tranca a porta e ascende a luz. Fico um pouco constrangida com a presença dele por muitos motivos: está sério demais, me olha como se eu fosse uma mentirosa perversa e nem sequer sorri. Ele para no centro do quarto, e eu em sua frente.
- Comece a falar - diz, com a voz áspera.
- Falar o quê?
- Ser sínica não combina com você, Esther. Assim como não combina uma mulher casada dançar funk numa balada escondida do marido.
Droga! Droga! Droga!
- Leonel...
- Você é inacreditável - murmura, coçando a barba recém-nascida. - O que eu faço com você, hein?
Enrubesço.
- Eu... eu só queria me distrair.
- Me envergonhando daquele jeito? Você passou dos limites.
Crio raiva e coragem.
- Não, não passei - determino. Leonel me encara ainda mais furioso, com o rosto trincado.
- Você não tem o direito de ficar zangado. Quem me deixou solitária há quase um mês foi você.
- Eu viajei à trabalho, não à festa. Você sabe disso, Esther.
- Até quando, Leonel? - murmuro com a voz embargada. - Eu não suporto mais ficar naquela casa sozinha, enquanto você viaja em busca de dinheiro. Isso é ridículo! Chega a ser sufocante.
Ele respira, passando a mão nos cabelos, frustrado. Contenho a vontade de chorar, pois não vou dar esse gostinho a ele.
- Quer que eu pare de salvar vidas? Prestou a atenção no que disse?
- Eu disse que você trabalha em busca de riqueza, de poder, de destaque no ramo da medicina.
- Cale essa boca! Você não sabe o que está dizendo - ordena, aproximando-se de mim. Recuo e acabo sentando na borda da cama sem querer.
- É claro que eu sei.
Ele me fuzila com os olhos.
- Aquelas pessoas precisavam de ajuda. Eles não tinham o que comer. A alimentação deles era precária, pobre em proteína. Uns viviam com R$ 40,00 pra sustentar a família, outros nem comiam para deixar aos filhos. Praticamente estavam negligenciados. Agora pare e pense em como eu fiquei quando recebi a droga daquele mandato pelo Departamento de Medicina. Acha que brinco no que faço?
Ele fica face a face comigo.
- E enquanto eu estava fora, foi muito difícil deixar de pensar em você. Eu te amo, Esther, e é por amá-la que eu a protejo tanto.
- Eu não sou uma criança, Leonel.
- Eu sei, meu amor - ele passa a mão em meu rosto tão delicadamente que meu corpo dói e eu choro.
- Entendo você, mas eu preciso do meu marido de volta. Só isso. Não é a primeira vez, são várias desde que nos casamos.Você sempre prometeu que...
Ele me beija com cautela, um beijo doce, sem pressa, delicado e passivo. A vulnerabilidade faz eu me entregar. Era isso que almejava quando recebi aquele beijo sem graça na bochecha. Aproveito o embalo e enrolo minha língua na de Leonel, su

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora