Capítulo 05

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 Leonel Blanchard

  Eu estava prestes a jogar tudo para o alto e ter uma briga feia com a Esther, mas não aconteceu. O que ela fez contigo, cara? Ver aquele olhar franzino dela penetrando o meu e almejando para eu ficar, foi como se me dessem dois tapas no rosto, como se dissessem: “olhe o que você está fazendo com a sua mulher, seu idiota”.
   Ah... como aquilo doeu. Estou me sentindo um merda de marido. Mas ainda tenho chance, vou fazê-la sorrir esta noite, vou fazer tudo o que ela quiser. Porém, não vou perder o controle sobre as coisas, eu ainda mando em mim mesmo, apenas quero ser paciente — o que é bem difícil —, ela sabe me irritar muito bem.
   Estaciono o carro em frente à Praça dos Namorados, em seguida desço para abrir a porta do carona.
— Chegamos — abro a porta para Esther. Educada como sempre, ela me agradece com um sorriso lindo no rosto. Pego em sua mão e conduzo-a para a calçada. Noto o vestido da minha esposa novamente e percebo o quanto fui arrogante ao comentar sobre o tamanho. Bom, está curto sim, mas está ótimo no corpo dela e, no momento, sinto uma pontada de culpa, pois vou dar o trabalho de explorar cada detalhe do vestido daqui a pouco, até alcançar o meu objetivo e, com certeza, o tecido vai ficar todo amassado.
   A sorveteria é chique e aconchegante. Tem mesas tanto do lado interno quanto do lado externo, e fica bem de frente para a praia.
   Há inúmeras pessoas curtindo o ambiente, tomando sorvete, bebendo cerveja, batendo um papo, enquanto uma canção de Caetano Veloso preenche o ar. Se eu não te amasse tanto assim.
   Escolho uma mesa na calçada, ao lado de uma enorme planta e de frente para a tal Praça dos Namorados, onde acontecerá um show daqui a pouco.
   Puxo delicadamente a cadeira para a minha esposa, em seguida, tomo o meu lugar.
— Que música linda — comenta Esther baixinho.
— Não vejo a hora de comer meus docinhos prediletos.
   Sorrio.
— Só não coma muito, meu amor.
— Eu sei, além do mais estou de dieta.
— Você não precisa de dieta. É magra demais. Quantas vezes tenho que dizer isso?
   Ela revira os olhos para mim.
— Amor, — pego em suas mãos sobre a mesa — pare com essa loucura.
— Eu não sou magra demais.
   Acabo caindo na risada.
— Esther, você pesa cinquenta quilos.
   Uma garçonete franzina para na mesa onde estamos. Ela pergunta o que vamos pedir, ao mesmo tempo em que masca um chiclete freneticamente.
— Quero o melhor sorvete que vocês têm aqui.
— Sim, senhor — ela faz as anotações em um IPod.
— Apenas um sorvete?
— Dois.
— Tá. Volto logo.
   A menina se retira, ainda teclando o IPod. Deixo meu celular sobre a mesa depois de colocá-lo no modo silencioso, em seguida, dou a atenção à minha esposa, que acaba de relatar sobre a empresa do pai dela. Enquanto aguardamos o sorvete, conversamos banalidades do dia-a-dia. Após uns cinco minutos, um casal ocupa a mesa vizinha. Os dois parecem bobos alegres com o filho do lado. O moleque aparenta ter uns dois anos.
   Rapidamente volto para o meu mundo e paro de imaginar coisas. Quando olho para a frente, vejo Esther fascinada pela cena e dando até um sorrisinho de alegria.
   É tão perceptível o quanto ela gosta de crianças. Já eu...
— Esther — pego na mão dela de novo. Ela me olha.
— O quê?
— Está olhando demais esse casal.
   Ela apóia o queixo na outra mão e suspira alegremente.
— É que eu amo bebês. Acho todos eles uma gracinha.
   Gracinha? Não digo nada, apenas observo ela.
— Eles alegram a vida de um casal.
   Não alegram não. Eles estragam!
No que você está pensando? — ela me tira do transe.
— Em nada — minto.
— Tem certeza?
   Aproximo meu rosto no dela na mesa, apoiando nos meus cotovelos.
— Quer saber a verdade?
— Quero.
   Aconchego-me bem perto da orelha dela e digo, com a voz suave e lenta:
— Estou pensando em como sufocá-la de tesão daqui a pouco.
   Essa é uma boa artimanha para livrá-la de crianças.
— Ah, eu...
— Eu vou te mostrar o que é bom.
   Ouso a morder o lóbulo de sua orelha vagarosamente. Em resposta, ouço um pequeno gemido dela.
— Então me mostre o que é bom — rebate, inspirando o perfume do meu pescoço.
— Você escolheu o sorvete primeiro.
— Mas...
— Hã... Aqui estão os sorvetes. Desculpe por atrapalhar o clima — diz a garçonete, depositando a bandeja sobre a mesa. Agradecemos a moça, e ela se retira.
— É... O sorvete primeiro — sorrio com um pouco de malícia.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora