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Mais tarde, voltamos para casa sem falar um com o outro. Percorremos Rio de Janeiro calados dentro do carro. O pai de Leonel, Bryan, fez questão de nos trazer em casa porque pressentiu que o filho ia fazer algo a mais comigo. Christoffer também veio logo atrás em uma caminhonete Land Rover branca para levar o pai, que veio dirigindo o carro de Leonel. Tudo para garantir que vou estar bem, que não vai haver brigas. Até que ponto meu marido chegou, só porque estou grávida?
Durante a trajetória, vi, de relance, o rosto dele no retrovisor. Estava agonizando a raiva, pensativo. Não olhava para a frente, olhava apenas para a escuridão no céu. Seus olhos estavam brilhando com a luz da lua.
- Esther, tem certeza que quer ficar aqui? Você pode ir pra casa comigo e com Christoffer.
Bryan desliga o carro na garagem, enquanto Christoffer espera lá fora com a Land Rover ligada.
- Vou ficar aqui mesmo, Bryan. Obrigada por tudo.
- Qualquer coisa, me ligue. Você tem meu número - ele olha bem no fundo dos meus olhos, passando-me segurança.
- Ok.
Leonel havia saído do carro antes de Bryan prosseguir com a conversa e já sumido da garagem com as malas de mão.
- Não confio no próprio filho.
- Eu sei. Vou ficar bem.
Dou um abraço em meu sogro, em seguida, saio do carro, subo o hall e entro já pegando as escadas para o último andar. É que escada! Vou cansar já na primeira. Subo em silêncio, no décimo sexto degrau, sinto tonturas e paro, procurando apoio na parede. Olho para baixo e quase vômito ao ver a altura.
devagar, a escadaria é de vidro.
Droga! Esqueci de mandar colocar tapete antiderrapante nos degraus. Vou ter que ir com calma.
No décimo nono, sinto mais tonturas. Sou obrigada a chamar meu marido.
- Leonel! Leonel!
Ele não aparece.
- Leonel! Por favor, me ajude aqui! Leonel!
A minha vista começa a embaçar, a escurecer. Sento no degrau, gritando ajuda ao meu marido, mas ele não aparece.
- Me ajude!
Quase rasgo a garganta de tanto gritar. A essa altura, Leonel já deve ter entrada no nosso quarto, que fica no último andar.
- Leonel...
Mesmo fechando os olhos aos poucos, consigo vê-lo correndo em minha direção, assustado.
- Esther!
Ele me pega nos braços e termina de subir as escadas por mim, levando-me para o quarto, desmaiado.
Não housso nada, não vejo nada e muito menos sinto.
- Olha o que está fazendo consigo mesma, Esther. Você poderia não passar por isso, mas tinha que ficar grávida, tinha que me desobedecer. Droga!
Ele resmunga até chegarmos ao quarto, onde me deita na cama, tira minhas roupas, me deixa apenas de calcinha e me cobre com edredão.
Ele não volta para o quarto. Durmo sozinha pela primeira vez.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora