Capítulo 04

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22 de maio de 2015
08:30 AM

Esther Blanchard


— Ai! Meu mano chegou!
   Ouço os gritinhos ensurdecedores de Maryelli vindo do corredor do andar de cima. Ela desce as escadas saltitando no salto alto, está tão alegre quanto todos da casa, pois sabe que o irmão lhe garantiu um presente.
   Meu estômago embrulha ao ouvir o motor do carro de Leonel. Tenho tantas coisas para dizer a ele. E também estou com muita vontade de vê-lo, beijá-lo, abraçá-lo, fazem amor com ele. Ah! Como eu amo esse homem!
   Não se precipite, Esther.
   É, não posso me precipitar. Devo manter uma conversa inteligível com o meu marido. Nada de perder a cabeça. Mas, droga, às vezes não consigo me conter vendo ele tão sexy e gostoso na minha frente, além de ser muito intimidador.
— Estou louca para ver o que ele trouxe. — Mary corre até a porta da frente, batendo palminhas, enquanto os pais, o irmão Heithor e eu nos dirigimos por detrás. Mary gira a maçaneta e lá está ele, impecável e elegante, com o semblante alegre.
— Leo!
   A irmã pula no pescoço dele, agarrando-o com desespero. Leonel rodopia a garota nos braços, dezendo em voz alta:
— Minha menina! Trouxe dois presentes pra você.
— Cadê?
   Mary toma equilíbrio sobre si e Leonel entrega uma caixa preta com uma sacola de loja na mão dela.
— Está mimando demais a sua irmã — murmura a mãe dele, abraçando-o e beijando-o carinhosamente.
— Gosto de vê-la feliz.
— Seja bem-vindo, meu filho.
   O pai abraça o filho.
— Obrigado.
   Depois de Heithor, é minha vez, mas fico totalmente sem jeito com o olhar quente do meu marido. Rapidamente meu corpo reage: as mãos gelam, o coração acelera e minha calcinha... Ah, não. Puta que pariu! Estou molhada? Não é possível!
— Oi, meu amor — ele me beija na bochecha. Na bochecha? Frazo o cenho.
— Oi — respondo.
— Vamos jantar, por favor? Estou morrendo de fome.
   Lídia nos enterrompe, somos obrigados a acompanhá-los até a sala de jantar. Leonel pega minha mão enquanto caminhos pelo corredor.
— O seu vestido está muito curto — comenta.
   Olho para a roupa. É apenas um vestido simples cor bege. Rio da petulância dele.
— Vai me proibir de usar?
— Não, use o que quiser, mas tenha limites. Não seja alienada da moda.
   Reviro os olhos, irritada. Penso no beijo que ele me deu agora a pouco. Na bochecha, na bochecha, na bochecha... Argh! Quem ele está pensando que eu sou? Uma namoradinha? Isso não vai ficar assim.
   Na mesa de jantar, sentamos um ao lado do outro. Leonel e eu, Bryan e Lídia, Heithor e Maryelli. A comida é servida normalmente pelos empregados. Alguns dão boas-vindas a Leonel com formalidade.
— Como foi a viagem? — pergunta Heithor.
   Meu cunhado mudou completamente nesses últimos anos. Agora ele é mais responsável, assume os compromissos pesados da mini-empresa de moda da mãe e ficou encarregado do cargo de presidente.
— Cansativa, meu irmão.
— Descobriu o que queria? — A mãe fala.
— Sim.
   Leonel responde com uma pequena tristeza na voz.
— Eles não têm saneamento básico, o que agrava a situação. Dei um jeito para que a maioria da população saísse de lá.
— E como fez isso?
— Negociando com as autoridades, mamãe. Também recebi apoio de dois executivos e dos médicos que viajaram comigo.
   Ele fez uma boa ação, Esther. Deve ter sido difícil.
   Ele fala olhando para a família.
— Quais eram as doenças?
   Bryan tira Leonel do transe.
— Muitas, quistosomose, ascaridíase, oxiurose.
— Nossa — exclama Heithor.
— Você está bem, meu filho?
   Lídia toca o antebraço do filho, preocupada.
— Estou, mamãe, obrigado.
— Tome cuidado, Leonel — alerta o pai.
— Pode deixar.
   Depois que nos servimos, começamos a comer um delicioso atum ao molho de cenoura. Comemos em silêncio por alguns minutos.
— Soube da festa do Romão? — pergunta Heithor.
— Sim.
— Esse cara é louco de dar uma festa naquele lugar.

Por quê? — pergunto.
— Esther, aquele lugar é perigosíssimo. As probabilidades de uma pessoa ser atingida por uma bala perdida são muitas, além da questão da favela ali perto. Fui convidado, porém não marquei presença.
— Fez bem — diz Bryan.
— Última vez que estive lá foi quando mataram cinco pessoas num tiroteio com a polícia — emenda Lídia, embasbacada.
   Merda! Acho que sou a única desenformada daquele lugar. Leonel tinha razão.
— Ouvi falar que a Yany estava lá.
   Cale a boca, Heithor!
— Ela gosta de farra, mesmo casada — declara Leonel, olhando diretamente para mim, com a expressão neutra. Engulo a própria saliva, me sentindo inibido.
— Foi à festa, Esther?
   Ah, muito obrigada, Mary!
Não — responde Leonel.
— Ela estava sozinha em casa, Mary — murmura Bryan.
— Além do mais, ela não mentiria pra mim. Me obedeceu direitinho, por motivos de seguranças, não é, amor?
   Sinto suas mãos grandes e geladas na minha coxa. Fico literalmente sem ação, nervosa até os fios de cabelo.
— É.
   Droga! Estou com o peso na consciência, não deveria mentir pra ele. Algo me diz que Leonel já sabe.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora