Eu não consegui. Não consegui trazer ela. Mas ali, na casa dos pais dela, eu estava impotente. Não podia forçar a barra.
Tive muita vontade de berrar, sacudir a Esther até ela acordar pra vida, de socar tudo à minha volta. Já estava ficando louco, então resolvi sair antes que fizesse uma grande besteira.
Você já está fazendo uma grande besteira.— Traga a garrafa, por favor.
O barman me olha, preocupado.
Já bebi muito uísque e ainda não parei.
São nove da noite. O clima em Porto Alegre é bem suportável, nem frio e nem quente.
Ao invés de ir embora para o hotel onde me hospedei, acabei que parando o carro em frente ao um bar chique no bairro onde os pais de Esther moram.
Depois de muito reclamar, o barman liberou a garrafa de uísque. No segundo copo, eu senti o impacto da bebida.
Respirei fundo.
Quase gritei no bar por causa da desgraça da música.
Você não me ensinou a te esquecer.
Não podiam colocar outra canção? Logo essa, que me faz lembrar tanto da minha esposa!Depois de uns minutos mais ou menos, eu saquei o celular do bolso, vasculhei a galeria de fotos, em busca daquele rostinho perfeito que me pertence. Eu encontrei uma foto em que ela estava de frente à torre de Paris, vestindo um shortinho lilás junto com uma blusinha de seda branca, combinando com o all star branco que usava. Os cabelos estavam soltos, voando no vento.
Parece mais uma menina com seus dezoito anos de idade.
Na mesma hora disquei o contato dela, e ela atendeu rápido.
Me preparei para não falar mole por conta da bebida.
— Leonel?
Ficou espantada.
— Oi, amor. Podemos conversar?
— Diga.
Esfreguei o rosto. Tentei observar o ambiente, mas minha visão rodopiou. Apoiei bem o celular na orelha.
— Então... eu... Amor... Eu estou bem mal sem você aqui comigo — confesso.
— Aqui onde, Leonel?
— Aqui... Naquele bar do bairro onde seus pais moram. Estou pertinho da casa deles. Vem cá, vem... Tô precisando de você.
— Mas que descaramento — resmunga.
— Amor.
— Você está bêbado?
— Não, não. Esther, só me ouça, por favor. Desculpe, desculpe. Eu errei com você. Quero consertar as coisas entre nós. Quero você de volta. O que você me diz?
— Não. Só isso. Tchau.
Ela desliga o celular na minha cara. Olho para a tela e...
— Nossa. Mulher grossa — falo meio mole.
Disco novamente o número com a visão embaçada.
— Alô.
— Amor, não desliga. Quero conversar com você.
— Tá bom, meu bem. Qual é a boa? — diz uma voz masculina que começa a gargalhar sem parar.
— Droga!
Eu liguei para o meu irmão, Heitor.
— Ai, amor. Já perdoei. Vem cá, vem, meu gostosão, me pega de quatro e mete tudo em mim, gato — caçoa ele, emitindo a voz da Esther. Que horror!
— Viado, vagabundo. Tá rindo de que?
— Ué, de você fazendo papel de palhaço. Você ligou errado, bobão. Tá sofrendo aí?
— Você gosta de ver a minha desgraça, não é?
— Bom, eu não gosto, só acho engraçado.
— Vá se ferrar, nojento.
— Gostosa, te amo.
Desligo o aparelho.
Não acredito que liguei pra esse babaca do meu irmão.
— Porra.
Mais uma vez, eu tento.
— Esther?
— Pare de ligar pra mim.
Agora é ela.
— Amor, não desliga, por favor. Escute, eu não estou bem. Vem me encontrar.
— Você está bem sim.
— Não, olha... Eu estou naquele barzinho, lembra?
— E daí?
— Vem me buscar. Estou impossibilitado pra tudo.
— Sinto muito, mas...
— Tudo bem, Esther. Eu vou dirigindo do jeito que eu estou. Se acontecer alguma coisa comigo, você vai se arrepender.
Ela suspira, frustrada.
— Idiota.
— Te amo. Tá ouvindo a nossa música?
— Leonel, deixa de ser ridículo. Você está bêbado.
— Estou, sim. E daí? Bebi mesmo e ainda estou bebendo.
— Ah, meu Deus.
— Vou cantar a música pra você, amor. Você não me ensinou a te esquecer... E agora? Que faço eu da vida sem você?
— Cala a boca, Leonel.
— Nossa, amor. É assim que você trata o pai do seu filho?
— Eu já estou indo. Não saia daí.
— Te amo, linda, maravilhosa... Amor da minha vida.
Ela desliga o celular.
Enervado e bêbado demais, apoio a cabeça nas mãos e fecho os olhos.
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Nosso estúpido casamento - Amostra
RomanceUMA OBSESSÃO SEM LIMITES "Achei que fosse ser feliz ao seu lado... Pelo que vejo me enganei. Você era tudo o que eu queria, Leonel, tudo..." Leonel sempre almejou que esse casamento acontecesse, sempre quis ver Esther Winkler sendo sua mulhe...