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Mais tarde, resolvemos nos refrescar passeando de mãos dadas na praia, jogando conversa fora o tempo todo e de vez em quando entrando na água.
- Seu pai disse que está com saudades de você - digo.
- Ele ligou?
- Sim, quando você estava dormindo.
- O que disse a ele?
Ela para de andar por um momento e me olha, esperando a resposta.
- Que você estava dormindo e que está ótima. Também perguntou sobre como está se alimentando e tal... Eu disse que estou cuidando bem de você e que não é para ele se preocupar. Falei com sua mãe também.
- E?
- Ah... Com a dona Angeliquê a conversa foi um pouco mais complexa. Enfim, consegui me livrar dela.
- Leonel!
Recebo uma cutucada no braço.
- Vai me dizer que você não concorda que sua mãe liga só para saber se estou brigando com você?
Ela volta à caminhar, pensativa.
- Bom, disso você tem razão. O que mais ela falou?
- Muita coisa que nem lembro mais. Exigiu que eu cuidasse bem de você e que não te deixasse mais sozinha.
- Meu amor, entenda a minha mãe. Tenha paciência.
- Eu entendo. É a sua mãe e você é a única filha mulher que ela tem, por isso se preocupa tanto.
- Pois é.
Conversamos mais até não termos para onde ir na caminhada sobre a areia. Acabou o caminho, distanciamos muito do local cheio de pessoas. Paramos e encaramos o mar, ainda de mãos dadas.
Desvencilho-me dela para me sentar sobre os chinelos, na areia. Convido Esther para perto de mim, então a aconchego entre minhas pernas abertas.
Ela também se senta no chinelo.
- O mar está lindo - murmura.
Beijo as costas dela carinhosamente, afagando seus cabelos.
No mesmo instante, um casal, muito jovem, com cerca de dezoito anos ou menos, corre à nossa frente, alegres com uma menina do lado. A garotinha aparenta ter uns 3 ou 4 anos.
Esther observa o casal, sorrindo como se ela estivesse com eles na brincadeira.
- Por que está sorrindo tanto?
- Não está vendo?
- Estou vendo dois jovens de mãos dadas com uma menina.
- Isso não é lindo?
Ah... Agora sei o motivo do sorriso: é a menininha do lado.
Esther vive dizendo que quer ter um filho comigo, mas eu não estou preparado para isso.
Não respondo à pergunta dela, fico em silêncio.
- Leonel... - ela vira e fica de frente comigo, tira os meus óculos sem o meu consentimento e olha bem no fundo dos meus olhos, com a expressão triste, implorando algo mentalmente - você sabe que amo crianças e eu gostaria de ter um filho. Eu... eu quero muito, por favor.
- Esther, meu amor - pego seu rosto nas mãos - eu não estou preparado para ser pai, e, provavelmente, sua gravidez vai ser de muito risco por conta do primeiro bebê que você perdeu naquele acidente de carro.
- Mas...
- Esqueça isso.
- Eu não posso. Olha para isso - ela aponta para o casal na água.
- Esther...
- Eles são mais jovens do que nós dois e tem uma filhinha.
- Mas nós não somos eles. Eu não sou aquele rapaz e você não é aquela moça.
- Leonel - ela pega meu rosto bem firme - nós temos condições de ter quantos filhos quisermos. A gente tem um patrimônio muito rico, temos uma casa própria, pais amorosos, empregados que seguem regras impostas por você. Você é médico e eu estou quase no último caminho da medicina. Temos tudo e ao mesmo tempo nada. Está faltando algo entre nós, Leonel. Todo mundo diz isso, e o que dizem se chama filho.
- Não vou fazer um filho só porque os outros estão pedindo, Esther.
- Você sabe onde quero chegar.
- Sim, mas o problema é comigo.
- O que tem você?
Tento desviar o olhar para a praia, mas ela imobiliza o meu rosto com as mãos.
- Eu fiz uma pergunta, Leonel.
Suspiro fundo, impaciente.
- Tá! Eu não gosto de crianças, pronto. Detesto choros, berros e ter que mimá-las.
- Ah, mas com um tempo você pode gostar.
- Nunca gostei. Por que agora iria gostar?
- Não fale assim, Leonel. Crianças são... - ela inspira o ar, toda alegre - a alegria da casa, da família.
Nego com a cabeça, incrédulo com a felicidade dela.
Esther põe as duas mãos na areia. Seu corpo empina, ficando sexy.
- Por favor - implora num fio de voz, baixo demais.
- Você ficará barriguda e vamos ter que evitar sexo por um bom tempo. Eu não quero isso, Esther.
Seu rosto entristece.
- Não fique assim. É para o seu bem. Você vai correr risco se carregar um bebê aqui - toco sua barriga fina.
- Tudo bem.
- Tudo bem mesmo? - ergo seu queixo fino e delicado no dedo indicador.
- Sim.
Não.
- Quero o meu beijo, agora.
- Não - ela vira o corpo e fica na mesma posição em que estava, emburrada.
- Esther, meu amor.
- Me deixa.
Viu o que você fez, Leonel?
Ah, mulheres!
- Quer que eu te pegue no colo?
- Não!
- Quer que eu te toque?
- Não!
Ah, Céus! Não acredito que estou mimando uma mulher. Só podia ser o amor...
- Então o que você quer?
- Não quero nada.
- Meu amor...
Faço ela virar para mim. Olha para o rosto dela, enrugado de irritação.
- Não fique zangada. Seu rosto não fica bonito assim.
- Como é que você quer que eu fique diante disso?
Acarecio o maxilar dela e a base da boca.
- Tenha paciência, Esther. Talvez... Ah, talvez daqui a alguns anos a gente comece a pensar em ter filhos.
Digo com pesar, pois, sinceramente, não sei se quero ter um filho.
- Não podemos garantir nada daqui a alguns anos, Leonel. Você não sabe o que acontecerá amanhã.
Respiro. Depois abraço ela, afim de encerrar o assunto.

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora