Capítulo 02

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15 de maio de 2015
22:09 PM

Esther Blanchard


   Pode ser que você esteja com medo de algo e não queira se abrir comigo. Talvez um dia você vá me dizer o que tanto te deixa inibido. Não devemos esconder nada um do outro. Isso é recíproco, meu amor. Volte pra mim, sinto a sua falta. Você não viajava tanto como agora.
   Penso no meu marido enquanto tomo um delicioso vinho italiano, sozinha, na varanda de casa, observando o movimento das pessoas na praia.
   A noite está caindo e eu ainda estou aqui, ouvindo Caetano Veloso "se eu não te amassse tanto assim". A canção preenche o vazio no meu coração, mas também me faz lembrar das noites que passei com meu marido antes dele viajar para Londres. Até agora ele não me ligou.
   Desligo o som pelo controle remoto. No mesmo instante, recebo uma ligação de Yany.
— Yany?
   Sorrio. Havia tempo que não nos falávamos.
— Oi, mana.
— Oi. Como está?
— Mais ou menos.
— O que houve?
   Levanto-me da cadeira e fico em pé, na varanda.
— O seu irmão viajou com o Rodolfinho e eu tive que ficar. Você sabe, coisas do trabalho.
— Entendo. Leonel também viajou e eu estou aqui no Rio, cuidando da clínica.
— Está sozinha em casa?
— Infelizmente, sim.
— Ah, que chato! O pior de tudo é quando eles não te ligam pra dar notícias.
— Pois é.
— Amiga, estou pensando em...
— Yany — repreendo-a. Sei exatamente que ela vai me chamar pra ir à alguma festa de boate.
— Calma, não é festa de boate e sim de gala.
— Gala? Hum... Onde?
— No salão do Romão, amanhã, às 23:30.
— Tá louca? O salão do Romão praticamente se encontra na entrada do Rio de Janeiro, Yany.
— Mas vale apena. Vamos, por favor.
— Foi convidada por acaso? Sei que você é muito convencida.
   Ela dá uma gargalhada.
— Claro que fui.
— Como vou explicar ao Leonel? Não vai dar, Yany.
— Ah, Céus! Ligue e peça a ele.
   Respiro fundo, impaciente.
— Olha, neste exato momento mandei uma mensagem para o seu irmão e ele me liberou. Custa você tentar?
— Tá bem. E se ele disser que não?
— A gente vai do mesmo jeito. Estou cansada de ver o quanto o Leonel tem autoridade sobre você.
— Ele não manda em mim.
— Pois parece.
— Só não quero arranjar confusão.
— Ok. Fale com ele então, depois me avise por mensagem. Vou desligar.
— Tchau.
   Ah! Respiro fundo outra vez. Vamos lá, Esther. Crie coragem.
   Abro a caixa de mensagem e digito o nome de Leonel.

Preciso pedir uma coisa a você. Retorne quando puder. Um beijo!
  *Esther

   Na mesma hora, o celular toca e meu coração dispara. É ele! Tão rápido... O que vou dizer? Como começar, Deus do Céu? Você me paga, Yany.
— Oi — falo primeiro.
— Oi, amor. Desculpe por não ter ligado todo esse tempo, eu estava ocupado.
— Sempre ocupado — resmungo baixinho, revirando os olhos.
— O que disse?
— Nada.
   Por que diabos me sinto intimidada com a voz dele por telefone?
— Diga o quer?
— Yany foi convidada pra uma festa de gala amanhã, ela não quer ir sozinha e...
— Te convidou também — completa ele.
   Eu daria um bom dinheiro para ver a reação dele neste momento.
— Sim, e eu gostaria de saber se você aprovaria.
   Leonel fica em silêncio, criando uma forte tensão no ar.
— Não, não aprovaria. Mas, como você está sozinha em casa, vou abrir uma excessão.
   Ai! Como ele é rude.
— Obrigada, meu amor.
   Sorrio, toda alegrinha.
— E onde vai ser?
   Ah, meu Deus! Eu não havia me preparado para essa pergunta. Desfaço o sorriso.
—No salão do Romão.
— O quê? — Leonel ri. Uma risada malvada. — Uma das coisas que eu preso é a sua segurança, e esse local não é seguro pra você.
— O que isso significa?
— Resumindo: não, esqueça.
   Droga!
— Por favor, Leonel. Não quero deixar Yany na mão.
— Ela que vá sozinha, e que corra perigo sozinha, já que adora diversões mesmo estando casada.
— Amor, por favor — tento convencer.
— Eu já disse que não. Me obedeça, é para o seu bem.
   Bato o pé no chão, como uma criança rebelde. Logo, me contenho.
— Tá.
— Vou desligar, preciso voltar à reunião com outros médicos.
— Até mais.
— Até.
   Eu sabia que não ia dar certo. Aviso Yany por mensagem.

Ele não deixou.
  *Esther

A gente vai do mesmo jeito e ponto final!
  *Yany amiga

Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora