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   Mais um dia... Vamos lá. Por onde eu começo? Hum... Ligo o notebook, clico na pasta Trabalho - Athos Winkler. Há algumas tarefas a serem feitas no mês, inclusive, a família Winkler foi convidada para um festival beneficente, que acontecerá neste sábado, às 22:00. Nossa... São muitos assuntos pendentes. Contas a pagar... Carros de novos funcionários para doar... Demissão de quatro pessoas... Que merda. Acho que vou ser obrigada a fazer um curso de administração ou coisa assim. Recebo alguns e-mails de outras empresas, creio que, afiliadas.
   Alguém bate a porta enquanto respondo os e-mails. A pessoa nem espera eu responder e já vai entrando. Afasto o notebook da minha frente e observo a figura loira exuberante e sensual com uns papéis nas mãos. Ela arqueia a sobrancelha esquerda e dá um sorriso malvado para mim. Franzo a testa sem entender a moça.
— Posso ajudá-la?
   Ela suspira antes de falar.
— Só queria ver o rostinho da minha nova patroa — e dá de ombros como quem não quer nada.
   Decido ser franca com ela.
— Bom, creio que, no primeiro dia em que vim aqui, você viu.
— Sim, mas não reparei na sua barriga — ela dá a volta no centro da sala. Logo, percebo que a moça é bem ousada. Penso se algum dia meu pai já saiu com ela, mas descarto esse pensamento.
— O que uma mulher grávida vai resolver tudo isso aqui? Esta empresa não é um brinquedo.
   Quase ri dela. Com firmeza, puxa a cadeira de rodinhas para trás, ajeito o blazer azul-marinho no lugar, a blusa branca por baixo e levanto. Olhando duro para ela, aproximo um pouco. Colocando as mãos no bolso, digo:
— Acho que você ainda não sacou com quem está falando, não é mesmo? Eu sou a filha do dono, dona dessa empresa também.
— Sim, meu bem — ela cruza os braços e faz uma cara feia — mas você está grávida!
— Por enquanto, isso não vai me impedir de administrar a empresa. A hierarquia aqui não vai ser invertida.
   Ela até revira os olhos e fica me encarando por um tempo. Graças a Deus, Érodys entra na sala e a interrompe de voltar a abrir a boca.
   Ele se aproxima de nós. Cumprimenta a mim, em seguida, a moça.
— Sra. Billy, o que está fazendo aqui?
   Ela sorri para o meu irmão de modo formal, estendo a mão para ele.
— Vim me certificar de que sua irmã está bem ou não.
   Que descaramento!
Com licença, estou me retirando.
— Toda — meu irmão responde.
   Finalmente ela sai, mas, sugando-me com aqueles olhos acinzentados, com uma raiva inacreditável. Por que ela está agindo assim comigo? Eu nem a conheço, bom, agora já sei o seu segundo nome.
   Érodys se vira para mim, com a mão esquerda em meu ombro e pergunta, analisando-me com as sobrancelhas franzidas:
— Você está bem, minha irmã?
   Respiro fundo com uma cara de cansaço.
— Estou. Qual é o nome daquela mulher?
— Jaqui. Jaqui Billy. Ela fez alguma coisa que lhe desagradou?
— Me subestimou porque estou grávida.
— Essa mulher... Ah! Vou conversar com ela agora mesmo.
— Érodys — seguro-o pelo braço — não precisa. Se ela continuar, eu te aviso, ok?
   Ele me olha, retrocedendo alguns passos.
— Tudo bem, Esther. Qualquer coisa, é só me chamar. Estarei na sala do lado.
— Tá.
   Ele beija o alto da minha cabeça, depois meu rosto.
— Te amo.
— Eu também — sussurro, enervada.
   Ao ver Érodys desaparecendo pela porta, todo elegante em seu terno marrom, lembro-me de Leonel. Os dois têm muita coisa em comum. Meu irmão me faz lembrar ele. Sempre que estou perto de Érodys, sinto o jeito de Leonel no ar, autoritário, ciumento, possessivo.
   A imagem do meu marido surge na minha cabeça, as cenas românticas com ele... O modo dele fazer amor comigo... Nós dois na varanda olhando o mar do Rio de Janeiro, à noite. Confesso que sinto saudades dele, mas não posso me dar por vencida. Ele tem que mudar as altitudes com o filho.

  

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⏰ Última atualização: Nov 04, 2018 ⏰

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Nosso estúpido casamento - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora