Durante os dias que se seguiram Elliot continuou a sua recuperação acompanhado de Aurora. Os contactos de negócios que tinha, haviam sido informados da sua indisponibilidade por Adelia e por outros serventes. Mas mesmo assim alguns ainda se dirigiram a sua casa para prestar a sua preocupação. Era sem dúvida uma pessoa muito querida a vários indivíduos. Claro que possuía inimigos, mas nunca se preocupou muito com tal situação. Quando alguém sai da neutralidade para dar voz a certos ideais e posições, é normal que com a vinda de vários companheiros, também surjam outros se opondo.
Um dos companheiros que se dirigiu a sua casa, foi o Senhor Kenward, um burguês riquíssimo, mas dotado de todos os princípios de humanidade. Não possuía título, mas tinha rendimentos bem maiores que a maioria das pessoas que os possuíam. Por isso a sua esposa empolgou as suas três filhas a casarem com nobres. Era muito comum burgueses com grandes fortunas casarem nobres quase falidos. Era uma maneira de, para esses nobres, obterem o dinheiro que lhes faltava, e para essas famílias ricas, encontrarem um nome na sociedade fidalga. O Senhor Kenward sempre fora contra tal situação. Achava que as filhas deviam decidir por si. Como dinheiro não era coisa que lhes faltasse, nem faltaria aos futuros netos, não havia necessidade de se sujeitarem a isso, ainda por cima para se casarem com nobres que estavam na banca rota, só por um título. Teve sucesso com uma de suas filhas, a mais nova. Casara com um oficial honrado, por amor. Já as duas mais velhas, muito mais próximas da mãe, preferiram ouvir os seus concelhos e desposaram nobres á procura de dinheiro, e assim terem um título.
Para além destas meninas, Kenward possuía um filho homem, Edward Kenward . Tinha a mesma idade de Elliot. No entanto não poderiam ser mais opostos. Edward era um homem devasso, adepto da vida boémia extrema, um apreciador de artes de pouca categoria e frequentador de tascas onde podia pagar para usar mulheres. Não há realmente outra palavra que defina melhor o que ele ia lá fazer. Desistira de estudar e não tinha qualquer interesse em nenhum tipo de aprendizagem a nível cultural ou em arranjar um emprego. A ajuda aos outros, aos que se encontravam em situações lamentáveis, não lhe dizia respeito. E muitas vezes troçava dos que eram pobres. Isto envergonhava o senhor Kenward muitíssimo. Apesar de também não ser uma pessoa extremamente instruída, e gostar demasiado de bailes, sempre fora altruísta e amante do trabalho, do dever e dos bons modos. Quando conheceu Elliot, quando este ainda tinha os seus quinze anos, e soube que tinha a mesma idade que seu filho, não pode deixar de os comparar. Estabeleceu uma adoração por ele que engrandeceu á medida que crescera. Sonhara que seu filho alguma vez possuísse metade das suas qualidades. E como tal, tornaram-se não só bons companheiros de negócios, mas também bons amigos, ainda que a ordem natural das coisas dissesse que a amizade deveria ter existido entre o seu filho e Elliot, já que eram da mesma geração, isso fora além do impossível. Estiveram algumas vezes juntos, e não podiam ter-se odiado mais.
No entanto, Kenward sempre convidava Elliot para os seus bailes e convívios. Elliot não costumava aparecer nos bailes, ainda que, nas seções de convívios onde se reuniam várias pessoas a discutir arte, politica, literatura, fosse um participante assíduo. Mas desta vez, a visita de Kenward viera com um convite para um baile. Teria lugar dentro de duas semanas, por isso Elliot não poderia alegar que ainda se encontrava doente, a não ser que mentisse. Não tinha falado pessoalmente com ele, ainda não se encontrava totalmente recuperado e estava a dormir a quando da sua visita. Por isso ele falou com Adelia e entregou a missiva com o convite.
Quando Elliot viu do que se tratava começou a redigir uma carta de resposta a declinar o convite. Mas depois parou, e pensou. Já não frequentava nenhuma das atividades de Kenward fazia cerca de dois meses, e não queria que o pobre homem pensasse que era por não presar a sua companhia. De certeza que estaria lá Henry, o comerciante, talvez o seu primo, e todos os outros companheiros por quem nutria uma sincera afeição. Não lhe apetcia nada ter que conviver com Edward Kenward, mas talvez ele até nem estivesse no baile, e certamente haveria mais motivos para ir do que para ficar. E depois, outra situação o inquietou. Queria levar Aurora com ele. Certamente Kenward não veria problema algum, era um homem que gostava de ver o máximo de pessoas possíveis dentro da sua casa. O problema real, seria convencê-la. Decidiu adiar a resposta á missiva até falar com Aurora. Mal esta entrou no quarto que havia abandonado por um tempo este principiou:
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Um campo de Lírios Brancos
Historical FictionO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...