O dia seguinte começou com um pequeno almoço (café da manhã) onde os residentes e os dois convidados se reuniram numa faustosa mesa, decorada com muito mau gosto, que envergava comida para o dobro das pessoas que aquelas que estavam presentes na mesa. Ainda para mais, George filho, saíra cedo para caçar com dois amigos, e Lydia, ainda não voltara.
Após esta primeira refeição, Elliot e Aurora pediram permissão para se ausentarem até aos terrenos traseiros. O senhor Ashmore, insistiu muitíssimo para que aceitassem ser guiados por tais locais por ele e por Mary, mas o casal, delicadamente recusou essa proposta, dizendo que realmente tinham preferência em descobrir sozinhos tais locais e que não queriam ser um incómodo para eles. Mesmo assim, o Senhor Ashmore insistiu firmemente, várias vezes, e foi necessário Elliot recusar quase demandando a sua privacidade para que este findasse tal sugestão. Mas não o deixou ir sem antes o relembrar da conversa que haviam marcado. Porém, não era necessário lembrete nenhum, Elliot recordava-se perfeitamente daquilo que haviam combinado na noite anterior, não conseguiu pensar em nada mais que isso durante a noite, e tinha dormido muito pouco por culpa dessa preocupação.
Quando Elliot e Aurora adentraram pelos jardins, repararam o quão mal cuidados estavam. Tendo em conta os da frente, e conhecendo os seus proprietários, já era de esperar tal coisa. Mas a peculiaridade daqueles jardins em específico, era que, embora estivessem um pouco mais cuidados que os da frente, continuavam horrendos. Não era um jardim inglês bem cuidado, mas também não era simplesmente uma mata deixada á sua natureza selvagem. Seria um lugar bem mais agradável se fosse alguma dessas duas coisas. Era um misto entre um jardim geométrico e um mau gosto por uma tentativa de simular o selvagem e o invulgar. Como se a própria natureza não exercesse em si mesma todas as propriedades para se tornar selvagem, os senhorios decidiram dar-lhe essa aparência de um modo muito mal executado.
Ao fundo do jardim, existia porém, um banco velho de madeira, onde algumas heras brotavam. Estava recatado, e certamente ninguém os incomodaria em tal parte. Elliot e Aurora dirigiram-se para lá e sentaram-se por cima da madeira e das heras.
- Acho que é o melhor que pudemos fazer, não me parece que haja muita beleza a ser encontrada aqui. – Aurora falou ao passo que o sol beijava a sua pele de morena voluptuosa, fazendo-a semicerrar os olhos já de si rasgados.
- Além de ti...nenhuma. – As palavras de Elliot saíram naturalmente, sem nenhuma tentativa de dizer outra coisa que não aquilo.
- Oh Elliot! Sabes que embora me aprese a alma ouvir isso, não sei o que te responder... – Aurora falou rindo com as faces rosadas pela presença de um pouco de vergonha, sem perceber o quão verdadeiras tinham sido aquelas palavras. – Mas tenho que te pedir desculpa por insistir em vir. Eu realmente achei que fosse ser de outra forma, apesar dos teus avisos prévios, julguei que pudessem ter mudado, admito até, que por saber que já não os vias desde criança, pudesses ter feito algum mau julgamento do carácter deles, e que eles até fossem pessoas agradáveis. Agora entendo o quão errada estava nessas minhas conjeturas...
- Não há mal nenhum Aurora, eu entendo o porquê de teres pensado dessa forma. Eu mesmo cheguei, nas minhas divagações, a deparar-me com tais perguntas. Achei que realmente eu podia ter exagerado, nos meus tenros doze anos, em julgamentos precipitados, ou que o meu pai pudesse ter agido na separação, movido por algum ciúme ou desavença que me fosse desconhecido. Mas agora sei, sem incertezas, que não. Eles são realmente deploráveis...
- Verdade, pelos menos George parece-me mais equilibrado e sensato, tenho uma certa pena que esteja fadado a estes parentes....
- Partilho do teu sentimento Aurora. De facto, fora daqui, estou certo que muitas oportunidades se abririam para ele, mas permanecendo aqui, com este pai, aquela irmã...não sei realmente do que será a sua sorte. Penso que a irmã mais velha também era dotada de mais carácter e inteligência, se lhe seguir as pisadas de se ir embora, talvez encontre felicidade.
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Um campo de Lírios Brancos
Historical FictionO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...