Capítulo 35

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A carruagem partiu logo pela manhã no dia seguinte. Aurora viajou acompanhada de Elliot até ao cais onde o navio vindo da Argentina iria atracar. Passava pouco mais de meados de Agosto, a carruagem em que viajavam não tinha tejadilho, era completamente aberta deixando o vento bater nas faces e nas fitas do vestido veranil de Aurora, que ia admirando os campos enquanto sorria, exibindo todo o seu esplendor de esposa satisfeita ao lado de Elliot. Já este, ainda estava bastante nervoso e apreensivo, mas a partir de uma altura, deixou que a felicidade ingénua de Aurora o contagiasse.

- Hoje, se realmente chegarem hoje como espero que cheguem, imagino que eles não queiram grandes atividades. A viagem de barco dura mais de duas semanas e certamente quererão ter o resto do dia para apenas descansarem em casa aproveitando o ócio e o calor, ainda bem que os jardins da tua casa são completamente de tirar o folgo só por si. – Aurora falou enquanto pendia o braço para fora da carruagem com uma fita na mão vendo-a esvoaçar com o vento e movimento dos cavalos.

- Nossa casa... Mas claro Aurora, não estava a espera que quisessem já hoje seguir em mais alguma aventura ou iniciar uma grande atividade.

- Hoje não... mas amanhã, podes ter a certeza que quererão. Ficam entediados com facilidade, têm que estar sempre a fazer coisas, e escolheram vir agora para ainda aproveitarem o bom tempo, e podermos fazer um monte de passeios ao ar livre, não há nada pior para eles do que os Invernos ingleses.

- Ao menos temos esse ponto em comum... - Não que Elliot odiasse o Inverno, via nele uma certa beleza e uma certa poesia, mas os Invernos ingleses eram demasiado rígidos para a sua saúde débil, era a altura do ano em que o seu coração se sobrecarregava mais e onde se sentia pior – Quanto aos passeios, estou certo de que tenho cavalos para todos. E futuramente poderemos convidar outros conhecidos nossos, como Robert e a tua amiga Lucy, suponho que virá pois também é próxima dos teus pais...

- Sim, sim Elliot, estou certa que sim. Quando sai de casa para ir viver contigo, como sabes, concedi a minha antiga residência a Lucy. Sei que estão muito melhor lá do que no local onde estavam antes e assim faço da minha amiga e da sua família mais felizes e continuo a manter a casa habitável. Mas provavelmente os meus pais também quererão ir até lá, é sempre uma maneira de revisitar as memórias.

- Compreendo perfeitamente. E compreendo também que queiram fazer planos só os três, não tens que forçar qualquer tipo de conexão...

- Não digo que não terei os meus momentos a sós com os meus pais, claro que sim, mas não quero que te apartes. És o meu marido, fazes parte da minha família.


*

Quando a viagem terminou e chegaram finalmente ao cais, o navio proveniente da Argentina havia atracado fazia menos de um quarto de hora. Alguns dos passageiros já se encontravam em solo Inglês. Aurora saiu da carruagem como um cerdo fugindo, e começou a procurar pelas pessoas que já haviam descido. Elliot segui-a custosamente, a moça não parava num só local. Após entender que ainda não tinham descido, olhou para cima, e viu os seus pais descerem o navio.

- Estão ali Elliot! Estão agora a descer! – Correu até á parte de baixo onde a escada que ligava o navio á terra desembocava, enaltecendo toda as suas origens de menina do campo. Uma dama, num vestido como o dela, não devia correr assim. Mas Aurora corria porque sim, porque podia, porque queria, e Elliot achava-lhe imensa graça, ao contrario das mulherzinhas que iam cochichando sobre aquela falta de decoro e de modos.

Quando finalmente desceram, Aurora abraçou-os e beijou-os com uma intensidade e uma vontade que eram sem dúvidas reciprocas por parte dos seus pais. O pai de Aurora era um homem bastante alto e largo, e mesmo Aurora sendo uma mulher relativamente alta e forte conseguia perfeitamente pegar nela pela cinta como se ainda tivesse cinco anos. Era moreno como ela e tinha um bigode muito peculiar e farfalhudo enrolado nas pontas. A mãe era mais baixa que a filha, mas de resto, era muito semelhante. O coque onde trazia os seus cabelos apanhados era robusto o que demonstrava que deveriam ser compridos como os da filha. Tinha algumas rugas, e talvez o seu cabelo já tivesse várias brancas, mas de resto, poderia se dizer que quando Aurora tivesse mais vinte anos do que aqueles que tinha agora, seria tal e qual ela.

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