Capítulo 41 - Final

1.3K 142 36
                                    

Elliot permaneceu desacordado durante várias horas durante o resto daquele dia. Aurora não saiu da sua beira, e permanecia com a sua mão pausada no peito do esposo, sentindo o débil coração do mesmo ainda existindo. Já tinha chorado muito, sufocadamente, de uma maneira aterradora, sentia, agora muito mais do que das outras vezes, o quão efémera é a vida e o quão precária era a situação do seu marido. Naquele momento o coração de Elliot era ainda mais frágil e delicado do que tinha sido até em tão, era quase como se fosse de vidro, de um vidro muito fino, pouco resistente, e que eventualmente se havia de partir. Por isso Aurora se deixou ficar ali, na mesma posição, com a sua mão por cima da pele que cobria o órgão vital, como se o protegesse.

Já passava das onze da noite quando Elliot voltou a recuperar os sentidos, os sedativos que Rafael lhe havia administrado haviam feito que dormisse várias horas seguidas sem acordar. Quando acordou, a mão da sua esposa ainda repousava sobre o seu peito, era como se a dor agonizante que sentira naquele local durante a tarde, houvesse sido substituída por uma dormência e um calor, estranhamente confortáveis, que advinham da mão dela.

A jovem, já nem conseguia camuflar as suas angústias, a sua face salgada de lágrimas mergulhou delicadamente nos lábios de Elliot, pouco depois de ele acordar. Passou-lhe as mãos nos cabelos, na cara, como se tentasse decorar pelo toque os contornos daquela figura.

- Elliot meu amor... graças a Deus, como te sentes?

- Melhor que durante a tarde certamente... mas sinto-me muito fraco, como se quase não conseguisse levantar os braços, muito menos levantar-me da cama.

- Nem o vais fazer Elliot, tens que repousar, em absoluto. Raphael disse-nos que o estado do teu coração se havia deteriorado ainda mais, e que ao longo dos anos isso afetou todo o teu corpo, como tu sabes, mas agora é pior...não podemos correr nenhum risco meu amor...

- Aurora... - Elliot levantou os seus braços finos muito custosamente até alcançar a sua esposa e trazê-la para si, para cima do seu peito. A mulher não se debateu contra aquele gesto, pelo contrário, deixou-se envolver nos seus braços até o seu ouvido estar realmente por cima do débil coração que ainda crepitava mostrando estar vivo.

*

Aurora passou os dias seguintes num estado de insónia que a deixava quase sem distinguir a realidade do imaginário. Raphael, que quase já vivia naquele casa, sempre atento aos cuidados necessários de Elliot que eram diários, advertira a jovem para que se cuidasse, de outro modo também ela cairia no leito da doença.

No íntimo do seu pensamento, quando Aurora vislumbrava o seu marido se debatendo com o simples ato de respirar, de existir, desejava que tudo terminasse. Desejava que Deus o levasse de uma vez sem sofrimento com a condição de por um infortúnio a levar também a ela. Um mundo sem Elliot era um mundo que nada tinha para lhe dizer, porém, o sofrimento que Elliot não conseguia esconder era demasiado dilacerante para se assistir e desejar mantê-lo naquela condição por mero egoísmo e medo da morte. Elliot, não tinha hipótese alguma de melhorar.

No dia seguinte, no próprio dia até, a notícia da recaída de Elliot e da sua impossibilidade de recuperação já se havia espalhado pela cidade. A notícia corria de boca em boca de canto em canto, e poucos eram aquelas que não manifestavam um pêsame sincero por aquela situação. Elliot Ashmore, era um homem da classe rica, mas muito bem visto e falado pela classe baixa pois sempre se manteve atento e eficaz para com a ajuda dos mesmos, seria então difícil encontrar alguém a quem a notícia não abalasse um pouco. Talvez aqueles que nunca gostam realmente de ninguém, ou que lhe tinham inveja, e até esses sabiam respeitar o ambiente piedoso que se fazia sentir por toda a cidade.

Um campo de Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora