Capítulo 4

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A carruagem de Elliot seguia rumo à cidade. Os cavalos trotavam com o ritmo de quem já viaja sem tempo mas com a elegância de quem ainda tem a vida toda para poder aparecer. A viagem não era longa de modo algum, em pouco tempo, a carruagem começava a encarreirar pelas ruas do centro da cidade. Por todo o lado se via gente, gente que vende, gente que compra, padeiros, alfaiates, curiosos que passavam a ver as montras dos pronto a vestir. Lojas de antiguidades e quinquilharias, das quais Elliot era um cliente assíduo. Em muitas casas, no rés do chão, se encontravam sítios que acolhiam o povo para comer, seja almoço ou jantar, e por cima tinham lugar albergarias que muitas vezes eram o ninho de pecado de alguns amantes. Também passavam artistas, tentavam divulgar o seu trabalho ao passo que esperavam que algum senhor mais abastado lhes comprasse alguma das suas peças ou quadros. Em suma, ali, onde tudo acontece, onde todos se cruzam e ninguém repara, era o sitio ideal para se fazer bons negócios. Reparou também que havia vendedores de flores. E nesse momento ao ver nesse barraco duas cestas de lírios brancos e narcisos, a sua mente viajou até ao humilde casebre que o abrigara fazia cerca de duas ou três semanas. Oh doce Aurora, pensava o jovem, mas seria demasiado indiscreto da sua parte visitá-la sem nenhum propósito. Depressa se libertou dessas ideias e continuou até o seu carro movido por cavalos baios parar quase a porta da casa de Henry.

Quando saiu do cubículo para pisar o chão da cidade da azafama, reparou que o sol iluminava cada pedaço de corpo das gentes. Teria sido um bom dia para se dedicar ao ócio de apreciar tais momentos. Olhando em volta o seu olhar deteve-se numa só figura, que existia hirta, imóvel, ascendendo á luz como se fosse uma divindade. Ali no meio da praça estava Aurora, banhada na luz do sol que fazia dela um ser celeste. Pelos anjos e santos de todo o mundo, não haveria nada mais puro que aquilo, a forma como olhava para cima em direção á luz simulava a sua ascensão aos céus, a qualquer momento os seus pés se desprenderiam do solo e o seu corpo poderia levitar. Como era bela Aurora. E estava lá viva e presente, talvez sempre tivera estado, mas como nunca antes Elliot a havia procurado, nunca a havia encontrado. Desta vez trazia uma veste verde, mais composta que o seu vestido branco. Certamente esse usava-o apenas comodamente por casa. Era um vestido simples com corpete embutido, deixava-lhe os ombros á mostra para que o sol os beijasse, tapando os braços fortes, mais fortes que os de muitos homens. No fundo da saia do vestido existia uma renda delicada que era preciso ver de muito perto para se perceber todos os seus detalhes, provavelmente ela própria a teria feito, quiçá todo o vestido tivesse saído das suas mãos. Desses membros brotava uma cesta de pinho, com algumas gerbérias e papoilas. Estas segundas encontravam-se também presas no seu cabelo. A sua trança envolvia todo o seu cabelo comprido e terroso, mas era larga o suficiente para que muitos fios saíssem de lá dando-lhe um ar mais natural.

A paz da figura que observava absorveu-o por completo. Não estava muito longe, mas não estava perto o suficiente para Aurora se aperceber que estava a ser perdidamente observada. O jovem Elliot mandou o cocheiro recolher os cavalos, dar-lhes o que comer e beber e aparecer de novo naquele local depois de almoço, uma vez que quase já tinha a certeza que Henry insistiria em almoçar consigo. O cocheiro seguiu viagem até um estaleiro bem perto e Elliot continuava a fitar Aurora com os seus olhos cor de céu, escondido na sombra, como se esta se tratasse da mais rara das ninfas.

Apercebendo-se que alguém a mirava intensamente, Aurora voltou-se penetrando o seu olhar diretamente no do jovem, como se soubesse, mesmo antes de se virar, quem exatamente a espiava na sombra. Os seus lábios pintados de rubro abriram-se como um botão de uma rosa e de lá saíram palavras celestiais.

- Venha para a luz senhor. – disse a deusa sorrindo.

O rapaz, quase homem até, ficara estarrecido em ter sido notado. Estava sem reação, mas pé ante pé, como se o corpo se adiantasse á mente, seguindo as suas vontades mais recônditas, atravessou a sombra, chegando á mesma luz que cobria Aurora.

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