Robert olhava para o sufoco do seu primo quase sem acreditar na sua visão. Elliot sabia de tudo, e sabia de tudo não por si, mas por uma carta da sua mãe. Ele sabia qual era aquela carta, ainda nem tinha respondido, não havia equívocos. Não sabia o que dizer, as palavras não lhe saiam, o toque da sua mão fora rejeitado com brusquidão e estava quase tão em choque quanto Elliot. Concentrando-se no sofrimento do primo e na sua culpa conseguiu por fim abrir os lábios.
- Meu Deus Elliot! Perdoa-me meu primo! Mas eu não podia Elliot, eu não podia, eu não podia ter dito nada! Desculpa-me... Oh Elliot, desculpa-me!
Elliot continuava no chão ajoelhado, se debatendo para respirar e sem contestar o mais velho na sua frente.
- Por favor Elliot diz-me alguma coisa. Sei que o teu perdão irá demorar, mas diz-me o que estás a sentir! Meu Deus, é tudo culpa minha, eu nunca me irei perdoar se algo te acontecer por causa disto!
O mais novo parecia quase indiferente as coisas que ouvia da boca de Robert. Estava ainda absorto naquela carta, nas frases sentidas da sua tia, e no seu engano. Uns momentos depois foi finamente capaz de responder ao seu primo.
- Porquê Robert? Porque é que mentiste desde o início?! – Elliot falou num tom muito elevado que não era nada típico dele, aliás, Robert, em toda a sua existência nunca tinha visto Elliot discutir acesamente, berrando, com ninguém. – E agora? Tu....tu ainda tens inclinações por ela não tens? – Elliot nem sabia como pronunciar estas palavras, e não sabia se queria realmente ter uma resposta para elas.
- Eu não podia dizer nada! Que sentido faria? Vocês tinham-se encontrado, eu não tinha nada a ver com isso! Achei que só faria pior em contar que um dia...que um dia nutri sentimentos por ela. Mas não mais é assim Elliot! Eu não sinto mais nada do que amizade e carinho por Aurora e realmente me contenta o vosso casamento! – Robert quase chorava enquanto tentava acalmar o seu primo e a si próprio.
- Como posso acreditar em ti? O que me garante que não me mentes? Foi o que fizeste até agora! Nunca pensei...és uma desilusão Robert... - Elliot apenas baixou o tom de voz na última frase. E Robert, ouvindo o tom e o conteúdo da mesma, sentiu aquelas palavras baterem-lhe na alma. Eram realmente cruas e verdadeiras.
- Por favor, tenta entender! Compreendo que te desiludi, mas não duvides de mim quando digo que nada mais sinto pela tua esposa!
- E antes disso Robert?! Quando a conheceste, o que sentias por ela?! – Elliot levantou-se finalmente da posição em que estava e ficou de pé debruçado na escrevaninha, de costas para Robert.
- Antes disso...não tenho como esconder. Se leste essa carta acho que já conseguiste perceber que aquilo que senti um dia por ela foi realmente puro, cometedor, e de uma natureza relativamente séria. Mas nunca tentei solidificar tais inclinações, os meus pais não eram a favor dos gestos que viam e advertiram-me para que não os continuasse.
Elliot sentia-se traído, embora tal situação tivesse acontecido muito antes de ele conhecer Aurora, não conseguia conceber, que o seu primo, tinha nutrido sentimentos de tão alta estima pela mulher que era agora sua esposa. As palavras de Robert, cruas, dilaceraram-lhe o peito mais um bocadinho. Mas preferiu essa dor carregada de realidade do que alguma mão pousada abafando uma mentira.
- Foste um cobarde Robert....nunca achei que tivesse um primo como tu. Eu admirava-te, queria ter a tua força, determinação e poder. Mas na verdade, percebo agora que traíste a tua própria moral e os teus próprios sentimentos. Se...se gostavas dela, devias ter-lhe dito. – As palavras de Elliot saíam agora com mais calma, mas sem encarar os olhos do seu familiar. Falava ainda apoiado na mesa, olhando a carta, como uma confirmação da realidade.
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Um campo de Lírios Brancos
Ficção HistóricaO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...