Chegaram á mansão do condado vizinho já perto da hora de jantar. Era uma viagem que demorava quase um dia inteiro para ser realizada, com paragens pelo meio. Não era das mais longas certamente, mas era sem dúvida cansativa. O casal agradeceu realmente terem aceite vir na noite antes do baile, para assim poderem repousar. Caso tivessem feito a viagem no próprio dia do baile, seria um evento extremamente cansativo e enfadonho, e não aproveitariam nada daquilo que este lhes pudesse ter a oferecer.
Esta segunda habitação era um pouco maior que a de Elliot, mas de uma construção algo semelhante. Havia um lago grande na entrada também, no entanto, este encontrava-se sórdido, a água turva, e realmente suscitava dúvidas sobre se haveria algum peixe com vida que habitasse aquele lugar. O jardim, seguia os comandos desse lago, embora estivesse relativamente aparado, não era uniforme, havia sítios onde faltava relva, e manchas amarelas denotando um certo desleixo para com o bem-estar das plantas daquele lugar. Aurora mirava o local algo desgostosa, numa casa tão abastada, esperava encontrar um jardim mais aprimorado. A sorte, é que como a luz já era escassa, foi incapaz de denotar toda a falta de primor e de brio.
- Já vi que estás desiludida, mas acho que sempre foi assim, minha querida. O meu tio sempre foi muito agarrado ao dinheiro, embora a esposa e a filha o esbanjem completamente, nunca gostou realmente dos a fazeres rurais, ou de primar os jardins, provavelmente deve ter achado que contratar um jardineiro era um gasto supérfluo. – Elliot falou para Aurora ao passo que se aproximavam da porta da residência, seguindo o empregado que os guiava.
- Imagino que seja um homem de grandes rendimentos, não sei o que o impede de gastar um pouco desses rendimentos no cuidado do exterior da casa, e era da maneira que daria trabalho a alguém.
- Acho que o que o impede é ser sovina e a má índole, e o resto da família gastar tudo em frivolidades. – Elliot falou se baixando para chegar ao ouvido de Aurora. Dessa forma nem o empregado, nem os jardins, o podiam ouvir.
Aurora olhou para Elliot sem saber se o deveria repreender por dizer isso de um membro da família ou se realmente devia rir por acreditar ser verdade. Quando a porta estava quase na sua frente, Aurora agarrou a mão de Elliot tentando engolir toda a sua ansiedade e receio de enfrentar essas pessoas que ela ainda não conhecia.
- Não tenhas medo Aurora, não te escondi as más características de personalidade e de modos da maioria destas pessoas, mas nada tens que temer. Nos protegeremos um ao outro de qualquer ofensa que encontre o nosso caminho, como sempre fizemos... - Elliot proferiu tais palavras, embora no seu interior algo o apoquentasse, não sabia como iria reagir quando falasse com a mãe de Robert, certamente não queria mentir fingindo não saber de nada, e á parte isso, Robert certamente já a haveria informado do que havia ocorrido.
Aurora sorriu para as palavras de Elliot entendendo também as suas preocupações, e segurando ainda a mão do seu esposo adentraram pelas grandes portas castanhas encardidas, e esperaram que o criado anunciasse a sua chegada. Coisa que realmente não era necessária, na verdade, quase todos os habitantes daquela casa já se tinham apercebido da chegada dos convidados.
A senhora Jane Ashmore, a mais velha da casa, tia avó de Elliot, era dona de uma cusquice que faria inveja a qualquer beata iniciante. A Senhora Jane Ashmore sabia de tudo sobre todos, em qualquer lugar. Como sempre se manteve solteira durante toda a sua longa existência, ocupava-se de outros a fazeres que não um casamento ou herdeiros. Poderia ter-se dedicado a qualquer tipo de arte ou ofício, até mesmo que fosse ao típico bordado, mas a Senhora, era mestre apenas na arte do mal falar. A sua língua aguçada não tinha qualquer indulgência, censurava os pecados e não pecados de todos os jovens que conhecia, e daqueles que não conhecia também. Em suma, a sua vida era a vida dos outros, além disso, a sua única fonte de graça de que se podia gabar, era de toda a sua castidade e devoção, e de estar a par de todas as modas e dizeres da corte. Como tal, mal ouviu a carruagem se aproximar dos portões do lado de fora, correu, correu aquilo que os seus quase oitenta anos de idade permitiam, e foi para a janela mirar a chegada dos dois jovens.
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Um campo de Lírios Brancos
Ficción históricaO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...