Henry carregava Aurora nos braços com a ajuda de Leopold, seu amigo, estava a aflito e preocupado com toda a situação e lembrando-se dos outros dois companheiros que correram atrás de Edward, não sabia se havia de desejar que estes o tivessem encontrado ou que não tivessem sucesso, mas que assim ficassem a salvo daquele estafermo. Mas rapidamente se desviou de tais pensamentos, a sua prioridade, era garantir que a esposa do seu amigo ficaria bem.
Antes de chegarem a porta de casa de Raphael, alguns metros antes, Aurora despertou do seu colapso, e percebendo que estava a ser carregada pelos dois homens depressa começou a esbracejar e a berrar para que a largassem. Não é que não estivesse profundamente agradecida, mas, bastava o toque de outras mãos no seu corpo, para fazer com que revisitasse os horrores vividos momentos antes.
- Largue-me Henry! Largue-me de uma vez! Eu sei andar pelos meus pés. – Henry pousou Aurora um pouco contrariado, mas percebendo a situação e a brusquidão das maneiras e palavras de Aurora, sabia que era o melhor a fazer.
- Peço desculpa Aurora... Mas depois de a encontrarmos perdeu os sentidos durante uns momentos e decidimos trazê-la até Raphael, para que pudesse assisti-la.
- Raphael?? – Aurora olhou para trás de si vislumbrando a casa do médico. Uma aflição ainda maior tomou conta de si, não podia, não queria, de maneira alguma, que Elliot a visse assim. E estando ele na casa de Raphael seria inevitável. – Não preciso de nenhum médico, preciso de ir para casa Henry!
- Aurora...por favor, deixe pelo menos que o médico a veja e lhe de alguma coisa apara amenizar a dor dos hematomas...e diga-me onde está Elliot...
- Eu quero ir para casa! Elliot está com Raphael, vá ter com ele e diga-lhe que fui para casa!
- Mas nesse caso Aurora, ainda se torna uma opção melhor ir até lá. Por favor, seja razoável, e prudente. – Dizendo isto Henry chegou-se mais perto de Aurora, e como que num ato de defesa, Aurora deu um passo atras mantendo a distância inicial.
- Já disse que não vou a lado nenhum. Não quero que Elliot me veja assim, não quero que ele se preocupe...vou para casa, e depois mando a carruagem de volta.
- Tenciona esconder-lhe o que aconteceu Aurora? Acaso acha efectivamente que isso é viável? Ou justo para com ele?
Aurora não respondeu, entendia perfeitamente o ponto de vista de Henry, o ponto de vista lógico e da razão. Mas a verdade e que ele não podia saber, não podia sentir o que ela sentia. Ainda que se soubesse como inocente na situação vivida não podia deixar de se sentir profundamente suja e corrompida.
- Aurora, por favor...se não quer ser vista pelo médico de maneira nenhuma pelo menos espere aqui com Leopold enquanto eu vou chamar Elliot para vir ter consigo.
- Irei para a carruagem esperar nesse caso. – Aurora não aguentava muito mais ficar ali, assim, no meio das pessoas. Sentia-se exposta ao mundo, como se as roupas todas lhe tivessem sido arrancadas enquanto todo o mundo permanecia vestido. Estava naquele momento a viver uma espécie de terror social e emocional e queria de volta toda a sua privacidade. Ainda que Edward não tivesse tido total sucesso no que começara, foi capaz de abalar de uma maneira terrível a consciência de Aurora. A jovem sentia-se profundamente, e realmente, afetada pela situação, e as mazelas físicas eram sem duvida irrelevantes tendo em conta as psicológicas. E na verdade, naquele momento, só queria estar sozinha, lavar o corpo, mudar de roupa, como se a água e a limpeza a livrassem de toda a sujidade sentida na alma, ainda que esta não estivesse suja. E para ser sincera, Elliot era a última pessoa que queria ver naquele momento.
- Claro Aurora, como desejar. – Aurora entrou na carruagem e cerrou as janelas com as cortinas escuras. – Leopold, enquanto vou chamar Elliot, não deixes que a carruagem parta só com Aurora.
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Um campo de Lírios Brancos
Ficción históricaO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...