Nos dias que restavam da estadia de Glória e Juan, Aurora e Elliot aproveitaram para passar o maior tempo possível com eles. A hora da despedida se aproximava, e Aurora, assim como também Elliot e Adelia, já pensavam nas saudades que teriam dos seus convidados. Haviam sido sem sombra de dúvida umas semanas inesquecíveis, que tinham dado aquela casa um ambiente alegre e festivo que era muito raro de se ver por ali. Porém, não poderiam adiar a sua partida, a vida que levavam na Argentina não poderia ficar em suspenso durante muito mais tempo, e assim que pudessem, talvez no ano seguinte, voltariam a fazer a viagem, uma vez que o contrário não seria possível. Raphael desaconselhava a Elliot a qualquer tipo de viagem demasiado demorada e para tão longe, certamente não seria o mais indicado para a sua saúde frágil. Isso o impedindo de retribuir aquela visita, achou por bem disponibilizar-se para pagar na totalidade a próxima viagem, disse-lhes que se o problema fosse dinheiro, que não hesitassem em pedir-lhe. Embora os pais de Aurora no início fossem completamente contra tal proposta, acabaram por depois, persuadidos pela doçura da filha, aceitar aquele presente no ano que vinha, no próximo Verão.
Na noite que antecedia a partida dos dois, Juan encontrava-se num dos varandins de uma das salas de convívio da parte superior da casa, fumando o seu charuto vagarosamente. Enquanto isso, observava a vista que já quase nada deixava descobrir para além de uma imensidão de noite e alguns pontos de candeias da cidade. No mesmo momento, Elliot permanecia no interior deixando a conversa interrompida na descontinuidade daquela paragem. Não se intrometeu no transe pensativo do homem, e embora tivesse algo muito concreto para falar com ele, deixou-o terminar aquele retiro. E falou-lhe apenas quando este retornou do varandim para se recostar no cadeirão ao lado do seu.
- Senhor Juan, agora que terminou o seu retiro momentâneo, há algo de muito concreto que lhe queria perguntar.
- Diga lá Elliot, pensei que já tinha ultrapassado estes entraves. – Juan riu mas não deixando aquele olhar de saudade, que já se fazia presente, fugir.
- Bem, durante estas duas ultimas semanas, tem me ocorrido á mente um pensamento muito frequente. Sempre soube que Aurora tinha tido uma relação muito próxima e muito favorável consigo e com a sua Senhora, mas ver realmente isso com os meus olhos fez me pensar se...bem, se talvez vocês não quisessem permanecer aqui, connosco digo. Esta casa é enorme para três pessoas. Existem imensos quartos, e conforto, e não teriam de partir deixando Aurora.
Juan ouviu as palavras do mais novo não com muita surpresa. Ao longo daquela temporada tinha-se apercebido da boa, imaculada índole, do homem com quem a sua filha casara. Os seus olhos se desviaram de novo para o exterior contemplando uma vez mais a imensidão noturna que era parecida com a sua futura saudade.
- Sabe Elliot...fico realmente agradecido por essa proposta, não posso dizer que parte de mim não queira dizer-lhe que sim de imediato sem impedimento algum, mas a parte que ainda reserva bom senso entende que essa não é a opção certa a tomar. Talvez ainda não perceba isso, ainda não tem filhos...pode ser que quando os tiver e eles tiverem crescido me entenda de outra maneira.
- Não sei se o consigo entender de facto....
- Bem, o que eu quero dizer é que embora eu ame a minha filha incondicionalmente, não pretendo mais fazer parte da vida dela como há alguns anos atrás. Tudo na vida tem o seu tempo, a sua mudança, um pouco como as estações do ano. Quando eu e a Glória decidimos regressar a Argentina, foi por incentivo da Aurora, ela é que nos incentivou a deixarmos Inglaterra, pais pelo qual nunca nos conseguimos apaixonar. Ponderamos levá-la connosco, mas para além de ela não se mostrar muito conivente, pois tinha as suas amizades e costumes presos a esta terra e não á nossa, não sabíamos o quão segura seria a nossa situação lá. Ao menos aqui, sabíamos que ela estava segura. Lucy, e outros conhecidos, moravam e moram perto da zona, e tínhamos dinheiro guardado ainda para algum tempo. Mas o nosso plano era reconstruirmos a nossa vida na Argentina, e depois, quando tudo estivesse seguro lá, pediríamos a Aurora para vir, e eventualmente, acabariamos por casá-la lá.
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Um campo de Lírios Brancos
Historical FictionO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...