Elliot mal dormiu com o entusiasmo e ansiedade pelo dia seguinte. Estava mais do que decidido a pedir a mão de Aurora em casamento. Nem por um momento conseguia pensar numa razão para não o fazer. Mas como tinha mandado a carta para Robert a pedir-lhe conselhos, decidiu esperar por uma resposta ou até mesmo pela sua vinda antes de se dirigir a casa de Aurora. Como só tinha combinado de passar lá ao final da tarde, iria ter de esperar de qualquer maneira.
Passava pouco das três da tarde quando Robert bateu á porta de casa de Elliot. Quando lera a carta não tinha ficado propriamente surpreendido. Já se havia acostumado, no seu retiro de solidão, longe do seu primo e de Aurora, com a ideia de que, provavelmente, iriam assumir um compromisso um com o outro. Não podia mentir a si mesmo dizendo que não sentia nada por Aurora, mas ainda assim, continuaria mentindo ao mundo. Iria a casa do seu primo e o encorajaria a casar com Aurora o mais rápido possível. Se pusermos em saquinhos separados os diferentes tipos de pessoas que sofrem desgostos de amor, certamente Elionor e Robert seriam dois tipos de pessoas totalmente opostos. Elionor era fixada na sua obsessão egoísta, nunca concretizada. Já Robert, apesar da natureza humana lhe despertar uma certa inveja de seu primo, desejava realmente que ele Aurora encontrassem a felicidade.
- Alegra-me imenso que tenhas vindo tão prontamente Robert! No entanto...penso que o teu conselho não será mais preciso, estou decidido estou completamente decidido.
- Ai sim? Então, suponho que não necessites de nenhuma das minhas palavras de encorajamento.
- Certamente que não...Oh Robert, estou completamente enamorado! Não posso adiar mais a decisão de me comprometer ao casamento com ela.
- Certamente. – Apesar de acostumado com a ideia, Robert sentia uma certa tristeza passada, por ele próprio não poder ter tido aquela felicidade. – Digo-te mais, acho que te devo repreender por certas condutas que tens tido. Nas duas semanas que se seguiram depois da tua recuperação, sei que estiveste várias vezes com Aurora. As pessoas, viram que as vossas mãos se agarravam. Entendes que ao deixares isto acontecer podes trazer graves problemas para Aurora? E eu sei disto por ouvir das más línguas das tascas tais coisas, não porque tenha visto, por isso imagina tudo o que não ouvi...
Elliot tinha noção disso, sabia que o seu comportamento, e o de Aurora, não iam de acordo com as maneiras e o decoro da sociedade. Não tinham nenhum compromisso assumido, viviam sozinhos, não tinham pais aquém prestar algum tipo de justificação, e nem de perto nem de longe pertenciam ao mesmo extrato social, e por isso, as afeições que sentiam um pelo outro, que eram tão puras, tão verdadeiras, por vezes acabavam por cair na lama da promiscuidade das más línguas.
- Sim Robert, eu sei de tudo isso...mas não me arrependo, muito menos agora que tenho a minha decisão tomada. Que mal pode haver em segurar publicamente a mão da mulher que amo? – Ao ouvir isto Robert estremeceu um pouco, mas depressa se recompôs.
- Apressa-te o mais que puderes. Sei que os teus sentimentos são puros, e conhecendo o que conheço de Aurora, sei que os dela também serão. Que o vosso caminho, juntos, não encontre nada mais do que contentamento.
- Obrigado meu bom primo Robert! Não sabes o quanto me alegra ouvir isso de ti! É certo que já me tinha decidido, mas ouvir da tua boca uma aprovação, faz com que a minha vontade seja ainda maior.
Robert sorriu, mas por dentro sentiu uma certa vergonha. O primo, tinha uma admiração enorme por ele. Foi a primeira, e única pessoa, a quem recorreu para conversar sobre aquilo que pretendia fazer. E no entanto, tinha sentimentos para com a mulher que Elliot tanto amava. Sentia-se desprezível, mas não se conseguia forçar a esquecer tudo de um momento para o outro. Pediu a Deus que se casassem o mais rápido possível e que a alegria de tal situação fosse muito maior que o seu desgosto por nunca ter Aurora. Robert sentia-se pessimamente por nutrir tais sentimentos. Era um bom homem, com bons princípios, e muito chegado ao seu primo, mas não conseguia controlar aquilo que um dia havia sentido, embora hoje esses sentimentos estivessem bem mais amenizados, não estavam totalmente apagados.
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Um campo de Lírios Brancos
Ficción históricaO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...