Capítulo 30

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O mais jovem, nada conseguia proferir perante aquelas afrontas completamente deslocadas de qualquer senso e bons modos. Não conseguia crer no quão baixas e reles eram as suas maneiras. Por momentos, Elliot acreditou que o melhor a fazer era realmente retirar-se dali sem dar ao tio nem mais uma oportunidade de dizer seja lá aquilo que fosse. No entanto, a vontade de o agredir verbalmente, de lhe chamar quantas calunias o seu vocabulário conhecesse, não era menor, explorando assim toda a sua cólera que tantas vezes ficara inanimada. Mas sabia que não era de todo o melhor a fazer, aquele individuo não podia ter o resplendor de despertar nele tamanha reação.

Interiorizando as intenções reles e sórdidas daquela conversa, falou por fim se dirigindo ao mais velho:

- Estou incrédulo perante tamanha falta de consideração, de modos, de sentimentos e de humanidade. Ainda nem morri, e sinceramente, espero ainda me aguentar alguns anos, e o tio já quer discutir a minha vontade final como se já tivesse um pé dentro da cova. E que o tivesse, que estivesse realmente neste momento a poucos dias de morrer, que dada a minha condição, podia de facto ser verdade, o senhor continua sem ter nada a ver com isso.

- Não pode levar a mal as minhas intenções! É necessário falar destas coisas, entendo que seja inoportuno, mas é necessário! – O senhor Ashmore voltava a limpar a sua testa com o lenço de seda como se de facto estivesse embasbacado pela reação do sobrinho.

- O Senhor fala em herdar coisas que nunca serão suas, e que não mantêm nenhuma relação consigo, a não ser quem sabe, a presença de um mesmo nome de família. Que direito tem sobre tudo isso? Tenha um pouco mais de bom senso, ponderação, e perspicácia da próxima vez que se lembrar de me chamar aqui para isto. Se nada mais que isso tem para conversar, então assim me retiro. - Dizendo isto, Elliot arrastou a cadeira preparando-se para sair, quando o mais velho o olhou em suplica para que permanecesse.

- Por favor meu caro sobrinho! Reconsidere, e ouça o que tenho para dizer, ainda nem me expliquei. Acredito realmente que esta conversa não deve ser conduzida pelo mau tom ou pela cobiça, a verdade, é somente que, não podemos tratar destas coisas depois de partirmos.

- Correto, tanto que, eu já tratei do que teria a tratar, e o Senhor continua sem ter nada a ver com isso. – A esta altura, Elliot já tinha ultrapassado a fase do pasmo e queria realmente ver até onde aquela indiscrição do seu parente podia chegar.

- Caro sobrinho, me desculpe, mas, por muito afastados que possamos ter estado, e não por minha culpa, continuamos a ser família! – O senhor Ashmore falava num tom quase indignado, como se a razão estivesse do seu lado, uma atuação decadente e nada convincente de quem se finge de ofendido.

- Fazermos parte de uma mesma família não nos torna íntimos, felizmente. Seria de uma lástima incomensurável ter de me relacionar com alguém com falhas tão vincadas como as suas. Estou certo de que o alto nascimento não compra educação e respeito, não comprou o seu de todo.

- Porque me ofende assim Elliot? Eu não o ofendi! – O mais velho falava realmente incomodado, não era tão pouco inteligente como o seu filho mais novo, reconhecia, em parte, as suas falhas, mas em vez de as corrigir, cultivava um certo orgulho do seu carácter decadente. E as palavras perfeitamente sinceras e cientes de Elliot, certamente lhe afetaram o ego.

- Não me ofendeu? Quis travar uma conversa comigo para discutir a minha vida, ou morte, como um negócio, e acha que não me ofendeu? – Elliot estava realmente quase se divertindo com toda a situação, e as suas palavras eram carregadas de ironia e sarcasmo, e de uma rispidez agreste como se fossem capazes de cortar.

- Ouça-me por obséquio Elliot! Não lhe estou a pedir que pense em nós como os detentores máximos de todos os seus legados, não ficaríamos rogados a tal, mas imagino que não seja de todo o caso. Mas pelo menos a sua casa, que é uma casa de família, da nossa família....

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