Capítulo 24

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Enquanto os dois senhores ainda se demoravam lá fora, ouviram a porta se abrindo, mostrando assim que mais alguém abandonara a mesa para se juntar a eles. Aurora apareceu segurando uma cigarreira de prata decorada com leves brocados.

- As pessoas nos ofereceram todos o tipo de coisas, mesmo não tendo havido nenhuma cerimónia oficial com convidados. – Aurora principiou enquanto abriu a cigarreira, retirando de lá uma cigarrilha. – Já que certamente não será Elliot a dar uso a estas coisas eu vou tirar delas o proveito nestas ocasiões sociais.

Os dois homens observavam Aurora com uma certa curiosidade e um olhar algo inquisitivo. Não era um ato comum numa mulher. Ou melhor, era, em mulheres de baixo nível, prostitutas. Mas certamente não em mulheres da alta classe, ou até mesmo em jovens como Aurora que pertencendo á classe trabalhadora não eram de todo analfabetas ou sem educação. Não que o ato demonstrasse alguma falta de respeito, mas por ser incomum, suscitava essa observação sem reservas por parte do sexo masculino.

- Ah sim... sem dúvida Aurora. – William tentou racionalizar a situação, interiorizando a estranheza que isso lhe provocava. E para tal ato, decidiu por bem mudar de assunto, para um que já havia sido trazido para o seio das conversas destes conhecidos. – Estava mesmo agora a conversar com Robert, lhe oferecendo a minha inteira disponibilidade para conversar sobre o seu problema afetivo.

Robert ruborizou-se sem nada dizer, cometendo-se ao seu vício, e desviando a conversa. Aurora decidiu por isso voltar a impingir a sua função de pacificadora, sem saber que era ela mesma que perturbava a alma de Robert.

- Caro senhor Voge, penso que já falamos sobre isso. Não me parece que o Senhor Ashmore queira discutir mais tal assunto.

- Sem dúvida que não...até porque não existe nada que falar sobre tal tema. – Robert tentou rematar a conversa apagando o cigarro num cinzeiro de mármore.

- Não quis voltar ao mesmo assunto como forma de te perturbar Robert. – Proferiu William tentando justificar a aparente falta de decoro. – E Aurora, por favor, penso que não há motivo para nos tratar de uma forma tão cordial e impessoal.

- Ah, peço desculpa Senhor William...- Aurora puxou da cigarrilha parando o que dizia. - Mas de facto, as minha relações consigo não são de grande proximidade, então, acabo por cair sempre nesta forma de tratamento. Quanto ao Senhor Robert acho que é mesmo a força do hábito por ter sido meu mandador por uns tempos.

Robert voltou a empalidecer, só naquela hora já tinha mudado de cor mais vezes que um camaleão. Uma coisa, era Elliot saber desta informação, outra coisa, era William saber.

- Não fazia ideia! Robert nunca me havia confidenciado tal coisa. Tenho a dizer que me andas a falhar nos detalhes Robert.

- Não achei necessário, foi apenas durante uma estação.

- Sim sim, foi apenas isso. – Aurora continuou, sem saber que a cada palavra que dizia a alma de Robert se amedrontava pelos seus sentimentos poderem vir a ser expostos. – Foi na estação antes de embarcarem em missão no exército. Nessa altura, não imaginava de maneira nenhuma o que estaria para acontecer, e que viria a casar com o seu primo. A vida tem uma maneira muito peculiar de se fazer acontecer.

- Concordo consigo Aurora...não imagina o quanto. – Robert proferiu a sua concordância, dizendo as últimas palavras num tom inaudível, como se falasse para si próprio.

- É mesmo assim....mas nesse caso, não posso deixar de pensar que talvez a Aurora conheça, ou já tenha visto, a mulher por quem Robert se cometeu nessa altura. – No casamento de William e Isabel, William era sem sombra de dúvida o mais coscuvilheiro, embora fosse um homem sério, não conseguia deixar de procurar informações sobre as vidas dos que lhe eram próximos. Não o fazia com maldade, realmente achava que se soubesse de tudo sobre todos os seus amigos, estaria mais apto a aconselhá-los.

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