Capítulo 38

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Os três anos seguintes aquele, foram anos de bonança para todos os jovens casais. Elliot e Aurora estavam plenamente cometidos um ao outro, não havia na terra felicidade mais divina, e ás vezes até egoísta com o resto do mundo do que a deles. Aurora ainda não havia conseguido engravidar, contudo, tal assunto já não a preocupada, amava e era amada e isso era tudo o que era importante. Robert e Judith tinham um filho, Judith havia engravidado um mês depois do casamento, mas após isso não mais voltou a acontecer, pelo menos nesses três anos. A relação de Aurora e de Judith estreitou-se ao ponto de se verem quase como irmãs, eram inseparáveis. Ao princípio, Lucy invejou um pouco aquela aproximação, mas depressa entendeu que só ela via aquilo como uma ameaça e que Judith nunca quis de maneira nenhuma se meter no meio das duas. Em algum tempo, as três conseguiram partilhar tempo de qualidade e de boa amizade sem nenhum sentimento de inveja que as rondasse. Elionor e George tinham tido já dois filhos no final desses três anos, e tinha se sabido recentemente que Elionor estaria grávida do terceiro. As vindas dela a casa de Elliot e Aurora eram relativamente frequentes, e com o tempo até Aurora e Elionor conseguiram ultrapassar as suas divergências e terem uma relação que era quase uma amizade. Isabel e William também vinham visitá-los regularmente, nesses três anos Isabel havia engravidado de novo, e as visitas deixaram de ser tão frequentes nos últimos meses e após o nascimento.

Quanto aos pais de Aurora, tal como prometeram, voltaram no ano seguinte, e depois, passado dois anos. Apesar de Elliot fazer todo o gosto em pagar pelas viagens, não se sentiam bem em depender dele para viajarem e por isso deixaram passar um dos anos sem visitarem a filha ainda que as saudades fossem muitas de parte a parte.

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No ano de 1862, cinco anos após se casar, Elliot começou a sentir o declínio da sua saúde. Óbvio que não havia sido de um dia para o outro. Mas a felicidade do seu casamento e de todos os outros que o rodeavam, talvez o houvesse feito cego aos sinais de desgaste do seu próprio corpo. Durante a primavera e o Verão, Elliot notou que não se sentia capaz de realizar algumas coisas com o mesmo afinco que as tinha feito até então. Raphael advertira-o por essa altura que achava que a sua condição se havia deteriorado, e que o seu coração estava mais débil e menos capaz. Aurora não precisou nem que Elliot lhe contasse nem de o ouvir da boca de Raphael, ela própria conseguia ver isso, e embora aquela fosse a realidade para a qual Elliot a havia advertido tantas vezes, não conseguia deixar de se sentir amedrontada pela situação.

A meio do Outono, Elliot começava a sentir-se cansado mais rapidamente. Havia coisas pequenas que antes não lhe custavam fazer que agora se assemelhavam mais complicadas. Os passeios a cavalo ou a pé que dava com Aurora pelos campos custavam-lhe imenso, sentia-se mal e sem folgo com brevidade, e por isso haviam deixado de os fazer por completo. Quando tinha que se deslocar á cidade, ou qualquer outro lugar, optava agora por ir de carruagem. O Outono e Inverno Inglês sempre foram severos no seu corpo frágil, mas este estava a ser diferente. Sentia a agressividade do vento nos seus pulmões com muito mais intensidade, como se fossem cortes em carne viva, e a carga exercida no seu coração ficava de tal maneira intensa que sentia sempre um desconforto constante no seu peito. O médico passou a ser uma presença mais comum na mansão, por vezes por precaução, por outras porque Elliot havia tido algum mal-estar. Aurora presava nunca deixá-lo sozinho aconselhando-o a passar aquele Inverno em casa num ambiente resguardado, não que os outros Invernos houvessem sido fáceis, mas desta vez Elliot denotava estar realmente fragilizado. Porém, ainda acreditava que conseguia fazer o mínimo, pelo menos das suas obrigações na cidade e arredores.

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Nos finais de Novembro, Elliot preparava-se para sair para a cidade para tratar de assuntos com comerciantes e burgueses. Aurora, que o observava enquanto se arranjava, ficava terrivelmente preocupada sempre que ele saia sozinho, mas sabia que não estava em posição de o obrigar a se sentir vigiado, não tinha o direito de o fazer nem o podia exigir. Porém, enquanto Elliot acabava de colocar o casaco, sentiu uma enorme dor no seu peito, o seu coração batia como se tivesse corrido a distância até á cidade. Por muito que no início tentasse disfarçar o seu desconforto, aquela dor tornou-se completamente desconcertante. Agarrou o peito com a mão e ajoelhou-se no chão quase sem conseguir respirar. Aurora correu á sua beira muito aflita chamando por ele e perguntando o que estava a sentir, mas ele não lhe conseguia responder, mal a conseguia ouvir, a única coisa que ouvia era o bater do seu próprio coração.

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