Capítulo 26

913 141 76
                                    

Depois do choque inicial de ver o seu primo inanimado sobre si, Robert recorreu ao pensamento lógico e racional sobre os procedimentos a tomar. Sem quase esforço algum carregou Elliot em seus braços até ao seu cómodo pessoal. E enquanto se dirigia de uma divisão para a outra chamou afincada e aflitivamente pela governanta da casa e avisou-a para mandar o moço de recados á cidade trazer um médico, especificamente Raphael. Mas se ele não estivesse, havia um, dois quarteirões a seguir. Era impreterível que regressasse com um médico, fosse ele qual fosse.

A governanta imediatamente obedeceu as ordens, e o rapaz encarregue de tais serviços apressadamente seguiu para cidade na carruagem.

Robert deitou o primo na sua própria cama, despiu-o para que nada dificultasse a respiração, e chamou o seu nome quase aos prantos na espera que ele acordasse, ainda que não tivesse nenhuma resposta.

Elliot não parecia em sofrimento, comparando a expressão que envergava antes, a quando da discussão, com a que estava agora, o seu semblante era muito mais sereno e pálido. O mais velho não tinha ideia do que fazer naquela situação, para além de confirmar se o coração dele ainda batia, não havia muito mais que estivesse ao seu alcance.

O desespero engrandecia-se com o passar do tempo, Robert começou a ficar realmente revoltado pelo moço de recados nunca mais chegar com um médico. Mas a verdade é que por muito rápido que fosse demoraria sempre quase uma hora. Já nem conseguia olhar a face de Elliot, parecia que cada vez a tez se mostrava mais cálida, se assemelhando a um corpo sem vida. Antes que ficasse imerso em tais conjeturas, pensou se não seria melhor avisar Aurora. Mas se o fizesse, teria de ser honesto sobre os motivos que levaram Elliot aquele colapso. Não, não podia ser, não podia ser assim, desta forma. Enquanto se debatia sobre essa questão, ouviu a porta da entrada se abrir, e um homem adulto falar a perguntar onde era o quarto. Finalmente o médico havia chegado.

Não era Raphael, era um homem mais novo que este, mas mais velho que Robert. Se tirássemos conclusões por primeiras impressões diríamos que era uma pessoa profissional, e de poucas palavras. O homem entrou no quarto do dono da casa e este rapidamente se levantou do banco onde se sentara a vigiar a sono do primo.

- Por favor doutor, tem que fazer alguma coisa para o ajudar! Ele é um paciente de Raphael, mas pedi para o chamarem caso este não se encontrasse em casa.

- Já fui informado disso caro senhor. Estive longe desta cidade por muito tempo, mas Raphael foi quase como um mestre para mim no início das minhas funções, por isso pode confiar no meu conhecimento e no meu bom senso. - Tais palavras acalmaram um pouco as dúvidas de Robert. O médico dirigiu-se para perto do corpo inanimado de Elliot, retirou os seus utensílios e começou com os procedimentos dos exames básicos e possíveis da época enquanto questionava Robert sobre as minudências do que havia acontecido e do seu doente. – Creio já ter examinado por uma vez ou outra o Senhor Ashmore, mas já foi há muito tempo, quando ainda aprendia os propósitos desta profissão. Mas penso recordar-me que o mesmo padecia de algum tipo de enfermidade permanente não estou certo?

- Sim doutor, tem uma condicionante no coração, perturbações no ritmo cardíaco....

- O quão severa é essa condição? – O médico falava muito calmamente enquanto continuava a auscultar o paciente.

- Não posso dizer que ele não tenha uma vida normal, mas é algo relativamente grave e por vezes limitador...

- Quando perdeu os sentidos, ele realizava alguma atividade física mais exigente, ou foi exposto a uma carga de perturbação emocional mais intensa? Ou não teve causa aparente?

Robert remoeu as palavras na sua boca antes de responder. Se lembrando de toda a situação ocorrida, e voltando a sentir nos seus ombros um peso muito mais intenso do que o peso do corpo que carregara.

Um campo de Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora