Capítulo 40

1K 113 28
                                    

Raphael dirigiu-se a casa de Elliot logo pela manhã. As consultas passaram a ser menos espaçadas umas das outras, do que eram no ano anterior, ia lá duas vezes por semana pelo menos, e assim continuaria.

Durante as consultas, por vezes, Aurora também estava presente, por outras não. Dada a conversa que tinha tido com Elliot na noite anterior, achou melhor deixá-los a sós. Era sem dúvida um assunto delicado, e muito constrangedor, Elliot sentia-se muito humilhado por ter de recorrer a um médico para avaliar a sua condição, ou não condição, física, de ter relações com a sua esposa.Portanto, Aurora achou por bem não ficar, para não tornar a situação ainda mais constrangedora.

Após Raphael realizar os procedimentos recorrentes e as perguntas regulares das quais mantinha sempre um registo de respostas, Elliot entendeu que seria a altura para conversar com ele. Demorou-se a tal, o mais velho ainda se levantou do sitio onde se sentava, guardou os utensílios médicos, e quase que se preparava para sair quando finalmente Elliot foi capaz de lhe falar ainda com uma camisa branca entre aberta. 

- Raphael...há uma coisa que gostaria de lhe perguntar...

- Claro, tem o direito de perguntar tudo o que quiser, sou o seu médico, tentarei dar a melhor resposta possível.

- Bem... sei que não posso, de maneira nenhuma, realizar esforços físicos, mesmo os de pequena intensidade, mas pergunto-me se... estão realmente todos excluídos? – Elliot não foi direto á questão, tentou fazer com que o médico lhe desse uma resposta exata para uma pergunta que era tudo menos isso.

- Bem Elliot, sim, esforços físicos são extremamente desaconselhados para si, não pode sobrecarregar o seu coração. Não pode, de maneira nenhuma, correr, levantar objetos relativamente pesados, ou montar, ou algo assim do género. Não quer dizer que quando o tempo melhorar não possa dar pequenas caminhadas mais serenas pelos jardins, certamente só lhe fará bem, mas mais do que isso diria mesmo que é extremamente proibitivo.

- Não era bem disso que eu estava a falar... - Neste momento Elliot já estava com as faces rosadas da vergonha da sua situação. – O que eu quero mesmo saber, é se acha.... Se acha demasiado desaconselhado, que eu retome as relações físicas coma minha esposa. – Elliot falou enquanto encarava o chão, não tinha coragem de o fazer de outra maneira, e a sua vergonha era tão grande quanto o seu desespero.

Raphael olhou para ele um pouco atónito, mas não completamente apanhado de surpresa, era uma pergunta de facto constrangedora, mas não deixava de ser algo normal de se perguntar dada a situação.

- Bem Elliot...como seu médico, diria que também não pode. Não deixa de ser uma atividade física, que vai exigir algum esforço do seu corpo, do seu coração em especifico, e que irá despoletar certamente uma reação eufórica das suas próprias emoções, o que também não é aconselhável. Porém, como seu amigo, e como homem, digo-lhe que sim, que pode. Se lhe tirar todos os prazeres da vida, para que servirá viver não é certo?

Elliot estava ainda surpreso com aquela resposta, e também confuso, ainda não tinha a certeza se aquilo tinha sido de facto um aval positivo para á sua questão.

- Isso quer dizer... que posso fazê-lo?...

- Elliot, pode fazer o que quiser, eu não o vou amarrar a uma cama para não sair do lugar, ou sedá-lo, e sei que é um jovem prudente que pesa os prós e os contras de tudo aquilo que faz, tenho fé no seu bom senso e na sua precaução, mesmo correndo riscos. Mas se quer saber se tem o meu avale para o fazer, sim tem.

Elliot ficou realmente eufórico com aquela resposta. Nos últimos tempos sentia-se muito como uma criança, ou como um idoso, que precisam sempre dos cuidados de alguém, sendo esse alguém a sua esposa. Se poderia ao menos recuperar uma pequena parte de algo que ainda o fazia sentir-se como um homem adulto, então, já nem tudo era mau.

Um campo de Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora