Quando o teor emotivo do perdão abrandou, puderam finalmente falar de assuntos mais triviais, ou não. A verdade é que tinham ainda alguma conversa para por em dia. Decidiram ir montar, e Aurora, apesar de dois jovens insistirem para que ela os acompanhasse, deixou para outra ocasião, pois acreditava que deveriam aproveitar o dia para eles e assim ela própria cuidaria de mais alguns preparativos que fossem necessários para o dia seguinte quando os seus pais chegassem. Não podia ter a certeza que chegariam de facto no dia seguinte, mas mais valia prevenir que remediar.
Durante o passeio, ocorreram o mais variado tipo de conversas, e quando se sentiu preparado, Robert decidiu dar a Elliot uma outra feliz notícia:
- Sei que não queres que volte a falar do nosso incidente, mas, eu tenho que te contar algo, e para me explicar corretamente, preciso de retornar a esse episódio. - Elliot mudou um pouco a expressão, mas assentiu para que continuasse. – Bem, naquele dia, como tinhas desmaiado e eu não sabia o que fazer, mandei um dos criados á cidade para chamarem um médico. Raphael não estava, e por isso veio um outro médico que mora não muito depois da casa de Raphael. Provavelmente não te lembras, estavas inconsciente, mas foi esse médico que prestou os primeiros cuidados e que me conseguiu aquietar na minha aflição. Raphael acabou por chegar umas horas depois, e após Aurora vir, ele foi embora, pois Raphael poderia sem dúvida ajudar melhor que ele sendo ele mesmo o teu médico.
- De facto não fazia ideia que tinha estado lá outro médico nesse dia... mas o que é que isso tem exatamente a ver com uma "feliz notícia"? – Elliot nesta altura não conseguia realmente entender a relevância daquele pormenor.
- Acontece que uma semana depois disso, eu fui para o monte caçar juntamente com outras pessoas, e quando regressávamos, vimos um cavalo selado solto, que parecia estar perdido. O animal deixou-se pegar, mas depois disso, começamos á procura do seu possível dono. Como era um cavalo algo pequeno e parecia um palafrém, assumimos que provavelmente seria de uma menina. Procuramos quase até anoitecer, até que finalmente fui dar com uma jovem á beira de uns riachos numa zona onde só se acedia a pé. É um lugar sem dúvida recôndito, penso nunca ter lá estado tirando dessa vez. Ela tinha um corte fundo numa das pernas, e parecia ter deslocado o tornozelo, não conseguia andar.
- Por Deus! Ela caiu do cavalo para um lugar tão íngreme assim?!
- Não, a principio pensei que tivesse caído, mas realmente não poderia ser, era muito íngreme para um cavalo descer com alguém no dorso, e se tivesse caído desde a parte superior até lá baixo, estaria em bem pior estado. Após ela entender que eu a ia ajudar, disse o que tinha acontecido. Desmontou voluntariamente do cavalo, e tentou descer pelo pé aquela encosta, queria ver os riachos de perto, mas escorregou, e só parou quando chegou ao solo. Como ficou com a perna lesionada, não conseguiu subir de novo, então deliberadamente assustou o cavalo para que ele saísse da parte superior para que alguém o visse e a viesse procurar. E foi o que realmente aconteceu.
- Quanta sorte teve essa jovem! Ainda por cima por ter sido um homem como tu, teria sido pior se fosse outro desprovido de qualquer bom senso ou índole...
- Sem dúvida, ainda existem muitos que são mal intencionados para com aqueles que se encontram mais frágeis. Não sei ainda com que força o consegui fazer, mas de facto, subi a encosta com a moça nas costas, e depois disso disse-lhe que a ia levar até um médico conhecido, ao que ela respondeu que não era necessário, que vivia com o irmão mais velho e que ele era médico. Acompanhei-a até casa por precaução, e bem, penso que daqui já consegues tirar as tuas ilações. O irmão dela que era médico, era o mesmo que te tinha assistido uma semana antes! Após isso, voltei a visitá-los para saber como ela estava. Acabei por criar um certo interesse e uma certa inclinação pela moça... - Ao dizer estas últimas palavras Robert desviou o olhar para chão disfarçando os seus próprios interesses e afeições. Elliot sorriu enquanto consciencializava a situação, estava verdadeiramente feliz não só pelo primo se interessar por alguém mas por lhe ter confessado isso.
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Um campo de Lírios Brancos
Ficțiune istoricăO tempo é a era vitoriana, mais precisamente 1857, em Inglaterra. Elliot é um jovem herdeiro de uma família fidalga, recomendado pelos seus bons modos, pelas suas virtudes, pelas suas crenças humanitárias, e sua indulgência. No entanto, padece de...