Seis

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Olívia vira-se para mim, com cara de criança pidona e diz:

— Seria muito estranho pedir para comer um sanduíche ou hambúrguer?

Olhando a minha cara de interrogação ela começa a se explicar:

— É porque na Austrália geralmente não almoçamos como vocês fazem, com arroz, feijão e essas coisas! Nem feijão temos direito na verdade! Mas, se você quiser, podemos almoçar o seu almoço!

Quão engraçada e diferente é a cultura de onde ela vem.

— Ok! Podemos comer seu sanduíche ou algo assim. Mas por favor, pode me explicar como foi parar do outro lado do mundo?

Estamos andando em direção a algum lugar que venda um hambúrguer minimamente bom, enquanto isso, Olívia me explica um pouco da sua história.

— Na verdade, é bem simples. Como deve saber, meu pai é australiano, já minha mãe é brasileira. Eles se conheceram no intercâmbio que minha mãe fez para Perth, cidade onde meu pai morava. Eles se casaram por lá e tiveram eu e minha irmã, porém papai sismou que queria vir para o Brasil, e veio. Então quando eu tinha 15 anos viemos todos para o Rio.

— Então, isso explica o seu português e inglês perfeitos. Mas não explica como você voltou para lá e sua família continuou aqui.

Escolhemos um restaurante e entramos. O maitre nos levou a nossa mesa, e depois de sentados Olívia continuou sua história.

— Na verdade, eu gosto muito do Brasil. Mas eu amo a Austrália, foi lá que eu nasci, foi lá que eu criei minhas raízes, e quando eu vim para o Brasil, por mais que eu falasse um excelente português, todos sabiam que eu era gringa, e isso de uma certa forma me incomodava. As pessoas se aproximavam de mim só por eu ser diferente e de outro país, como se isso fizesse de mim alguém melhor, e isso me incomodava muito. Então com 17 anos eu pedi aos meus pais para voltar para a Austrália, e voltei. Morei com minha avó por um tempo, depois em casa compartilhada com amigas, até ter a minha própria na minha cidade atual, Sydney.

— Nossa! Que coragem Olívia! Mas bem legal saber disso. Bom, mas hoje em dia você passa por brasileira batida!

— E graças a Deus por isso! — ela sorri — Mas agora você... fale sobre você...

O garçom chega com o cardápio e ambos agradecemos ao mesmo. Olívia avalia com atenção o menu e eu rio de sua cara de concentração.

— Bom, minha vida foi ''normal''. Meus avós vieram da Inglaterra, e meu pai já grande veio com eles. Aqui ele conheceu minha mãe, e eles tiveram três filhos, eu, Heitor e Katherine. E foi isso!

Ela me avalia com olhos curiosos e não posso deixar de perceber o brilho em seus olhos.

— Ora, mas você fala como se isso fosse sem graça, mas não é...

— Mas enfim, é isso, nada demais.

Por fim, pedimos hambúrgueres e conversamos até o pedido chegar. Uma vez que o mesmo chegou Olívia olha para mim e já ri.

— O que foi? — eu pergunto.

— Na verdade, não é o que foi, é o que vai ser. — ela sorri e diz — Eu sou um desastre comendo hambúrguer, eu me sujo toda de molho, e isso não é nada bom quando você está tentando conquistar o outro.

Se isso viesse de qualquer outra pessoa, eu poderia dizer que só estava falando aquilo para fazer charme. Mas vindo dela, posso esperar que realmente ela irá se sujar toda, e eu mal posso esperar por isso.

— Hmmm. Então quer dizer que você quer me conquistar?

Ela sorri, e finge uma falsa timidez e diz:

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora